O poeta, plural e atemporal, descortina a vida magistralmente, em frente a nossos olhos, com leveza e simplicidade peculiar.
Grandeza guarda de sobra, mas singelamente nomeia palavras douradas como "Textos mínimos". Se vão três décadas, mas sua sagacidade revela a efemeridade de nossas tendências.
Textos mínimos
8.IX.1973
De repente fica na moda
não estar na moda.
Torna-se impossível
estar, estando.
Iluminado pela ciência disponível a poucos, percebe as incongruências de nosso modo de vida. Brinca com nossos valores e desvaloriza, ou melhor, revaloriza as escalas existentes. Altera a visão, busco novo ângulo.
Solto na jaula
o tigre observa
o Jardim Zoológico
do mundo.
Afiado em sua posição e fiado por sua importância, clama pela solução de problema antigo. Antigo e presente até hoje, apesar do tempo e da voz ecoada no passado. Sua rima esquecida, por desgosto ou interesse, ainda ecoa em tantos ouvidos.
Quando acabarem de consertar
este atrapalhado Rio de Janeiro
haverá morador
para o prazer de morar nele?
E haverá morada
para o morador?
Reformas antigas e necessárias, sabia ele descrevê-las com maestria. Bom humor e sinceridade à parte, via o erro chegar com tristeza, mesmo para um reino de alegria imensa. Alegrias a menos e tempo a mais, o problema persisti, sem ninguém revidar.
Carnaval Chegando
9.II.1974
Qualquer dia
decide o fisco:
Passistas
bateristas
destaques
mestres-salas
porta-estandartes
trabalhadores autônomos
da folia
devem pagar imposto de alegria
Ao fim, como análise certeira, contrapõe o cotidiano, preocupação rotineira. Jogo com palavras o balanço da vida. Destaca tão firme a justa medida.
Esparsos de 1976
Repetição
Aumenta o salário mínimo?
O custo de vida, máximo,
torna o mínimo mais mínimo
criando o mínimo máximo.
Ah, poeta! Quem dera eu poder transcrever, assim com quem nada querer, anseios, angústias de um bem viver. Licença prefiro pedir para, de minhas, suas palavras eleger.
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