quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Metrópole

Triste constatação, a metrópole embrutece as pessoas.

Utilizar cotidianamente o Metrô nos expõe e nos permite, penosamente, constatar terrível sina. Momentos e minutos impossíveis de negar à reflexão.

O empurrar sem cerimônia, sem a mínima preocupação, com violência, demonstra a dimensão que o comportamento toma. Embrutecidas e insensíveis, elas não vêem o outro.

Hoje, na estação Sé, presenciei uma moça ser derrubada, na descida da pessoas na plataforma. Sem dó, nem piedade, sem ao menos a atenção ou a desculpa.

Impressiona também a quantidade de pessoas falando sozinhas. Muitas vezes, mais do que falando, discutindo, reclamando. Nem há nem condição de supor um amigo imaginário.

Vociferam ao vento, impotentes frente à massa. Quem sabe protestam a Deus, procuram sua "re-humanização", parecem gritar por sua reintegração, física e espiritual.

Rostos vazios, caminhando a esmo. Perfazem o mesmo caminho todos os dias, mas não têm destino. Zumbis mecanizados de uma estrutura gigantesca, massificadora, impassível e cruel. Exercita seu poder para subjugá-las continuamente.

No caos da turbulência urbana, as pessoas esquecem a identidade das outras. Enxergam apenas personagens de um grande teatro fictício. Certa vez, em pleno viaduto Santa Ifigênia, uma pessoa se jogou a poucos metros de onde eu passava.

Uma multidão instantânea se formou e correu, não para socorrê-la ou salvá-la, ato claramente inútil frente à inevitabilidade das conseqüências, mas para assistir e saber mais detalhes da tragédia. Circo de horror em pleno local público.

Responsável pelo serviço e manutenção da ordem, o Metrô pouco colabora com os novos motes de campanha. O usuário esgotado se vê refém incapaz de reação. Tantos sinais em alguns poucos pontos da grande cidade. O que pensar de seu todo...

Pensamento maior, mais importante, é a lembrança de que a pólis, muito além de cimento e areia, é construída de pessoas!

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