segunda-feira, 31 de maio de 2010

Ser

Hamlet
Ato III, Cena I
(tradução Millôr Fernandes)

Ser ou não ser, eis a questão.
Será mais nobre sofrer na alma
Pedradas e flechadas do destino feroz
Ou pegar em armas contra o mar de angústias
E, combatendo-o, dar-lhe fim? Morrer; dormir;
Só isso. E com o sono - dizem - extinguir
Dores do coração e as mil mazelas naturais
A que a carne é sujeita; eis uma consumação
Ardentemente desejável. Morrer – dormir –
Dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo!
Os sonhos que hão de vir no sono da morte
Quando tivermos escapado ao tumulto vital
Nos obrigam a hesitar: e é essa reflexão
Que dá à desventura uma vida tão longa.
Pois quem suportaria o açoite e os insultos do mundo,
A afronta do opressor, o desdém do orgulhoso,
As pontadas do amor humilhado, as delongas da lei,
A prepotência do mando, e o achincalhe
Que o mérito paciente recebe dos inúteis,
Podendo, ele próprio, encontrar seu repouso
Com um simples punhal? Quem agüentaria fardos,
Gemendo e suando numa vida servil,
Senão, porque o terror de alguma coisa após a morte –
O país não descoberto, de cujos confins
Jamais voltou nenhum viajante – nos confunde a vontade,
Nos faz preferir e suportar males que já temos,
A fugirmos para outros que desconhecemos?
E assim a reflexão faz todos nós covardes.
E assim o matiz natural da decisão
Se transforma no doentio pálido do pensamento.
E empreitadas de vigor e coragem,
Refletidas demais, saem de seu caminho,
Perdem o nome de ação.

domingo, 30 de maio de 2010

Fontes

Essa provém de "fonte" segura...

Recentemente, na Conferência Google I/O 2010, a Google lançou sua ferramenta de fontes para Web, a Google Font API.

Além de ser um diretório de fontes para páginas, eles disponibilizam um framework bem completo para utilização e controle de tipos diversificados nas páginas.

Desde os primórdios do mundo hiperligado, uma enorme dificuldade era adequar a concepção visual do site com o limitado conjunto de fontes universais disponíveis.

Para quem nunca havia queimado pestanas sobre o assunto, fique sabendo que só era possível utilizar fontes disponíveis no sistema operacional do usuário. Acabávamos sempre às voltas com os mesmos tipos batidos: Arial, Times New Roman, Courier, etc.

Alguns designers solucionaram tais questões fixando seus textos em imagens ou objetos flash. Isso criou a necessidade de alguns destes recursos aderentes ao browser, como plugins, tags para imagens ou objetos de mídia. Ainda assim a solução tem seus problemas de contorno e não representa o Santo Graal, mesmo com a quase onipresença da ferramenta da Adobe.

O grande barato do Google Font API é permitir que sejam utilizadas fontes, ricamente trabalhadas e elaboradas, independentemente do seu navegador ou sistema operacional. É uma das maiores universalizações ocorridas em todos os tempos no mundo dos bits.

É possível ter uma boa ideia deste grande inovação visitando o diretório de fontes já disponíveis. Certamente, muito em breve, o conjunto será expandindo e poderá contemplar todo e qualquer estilo conhecido. Vale lembrar que todas são publicadas através de licença open source.

Quanto a codificação, um rápido exemplo de utilização da WebFont Loader, biblioteca Javascript para obter mais controle no carregamento das fontes, mostra o quanto a ferramenta é acessível a qualquer script kid. Imaginem o que pode ser feito por quem entende.

Inegável a habilidade da gigante de Mountain View em resolver praticamente todos os problemas da vida digital, fora seu tentáculos que vêm se estendendo para o mundo real. Rezo apenas para que não estejamos presenciando o advento do Sr. Smith...

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Sintética

A vida é contínuo aprendizado, não muito sintético.

Destaque na semana passada nos meios científicos, a publicação do trabalho sobre a primeira síntese de DNA artificial foi cercada de certa euforia midiática.

Criação de vida? Brincadeira divina? Assim como a ovelha Dolly, o bebê de proveta, dentre outras façanhas, não chegamos lá ainda.

Sem dúvida é um marco na história da pesquisa genética e uma semente para frutos muito pouco imaginados, se é que pensados.

Porém, não é nem um pouco criação de vida. Modificaram controladamente o genoma de um tipo de bactéria e implantaram o resultado em outra (de outro tipo) sem genoma, fazendo com que ela passasse a se comportar de acordo com o novo código genético recebido.

Craig Venter toma a dianteira novamente, depois de fazer frente ao consórcio do projeto Genoma e desafia mais uma vez todos nós a refletir sobre o efeito de suas pesquisas na humanidade. Desafeto da academia, o cientista concentra todo seu empenho (e seu estrelismo) para promover avanços significativos nas áreas em que se envolve.

Quais os efeitos seu um exemplar destas bactérias fosse acidentalmente liberado na natureza? Poderia rapidamente morrer ou desequilibrar algum bioma. E se a tecnologia fosse usada para a programação de armas biológicas? Quais nossos direitos sobre a vida, mesmo de tão pequenos seres, assim manipulados?

Segundo os pesquisadores, as amostras produzidas em laboratório estão muito bem controladas e sua reprodução estacionada. O ferramental para aplicar tal conhecimento levará um bom tempo até se tornar acessível e viável, seja para qual fim desejarmos.

Por hora isso é suficiente. Por quanto tempo? Somos tão aptos ao controle e previsão que conseguimos dominar, ou vislumbrar, todas as variáveis envolvidas e desenrolares possíveis? Em nossa soberba ainda temos muito para aprender com a vida, apesar de tantas lições passadas.

Certamente o principal interesse inserido neste contexto é a exploração comercial de tal conhecimento. O problema é se repararmos na grafia do sobrenome do condutor do projeto. Periga encanarmos de topar um dia desses com uma notícia sobre as pesquisas de Darth Venter! :)

Brincadeiras à parte, espero que nosso aprendizado seja repleto de elementos úteis e prósperos, capazes de nos guiar por bons caminhos, sem grande desastres. E que a força possa estar conosco!

terça-feira, 25 de maio de 2010

PAC-MUNDO

Quem não viu, perdeu.

Em comemoração aos 30 anos do PAC-MAN, na sexta-feira passada o Google colocou no ar um Doodle em homenagem ao jogo, que ficou no ar por 48 horas.

Não era apenas uma imagem, mas um jogo embutido em sua página, uma reprodução fiel do célebre game dos anos 80, com visual, sons e jogabilidade impecável.

Aos mais apressados, acostumados à agilidade do buscador, pode ter passado despercebido, mas bastava um pouco de espera e a musiquinha chamava a atenção para o início da partida.

Se percebesse a troca do botão 'I'm Feeling Lucky' por 'Insert Coin' talvez sacasse de imediato. Um clique e o jogo começava. Mais um clique permitia a participação de um segundo jogador.

A partir daí era só diversão. Teclas direcionais para o primeiro jogador, WASD para o segundo e 254 níveis pela frente. E dá-lhe comer pontinhos, buscar energia e se fortificar para correr atrás dos fantasminhas.

Nem flash era! Felicidade para iPodeiros e afins pelo mundo, além de excelente aval para a empreitada da Apple em refutar o mundo do SWF.

Imagino as equipes de infra tentando bloquear a gracinha googleana. Missão impossível, afinal quem teria coragem de cercear a possibilidade de uso do mais importante mecanismo de pesquisas de nossos tempos? Certamente matariam do coração milhões de googledependentes.

Há pouco mais de vinte anos era necessário um hardware dedicado para produzir tal diversão, através da surreal corrida de pequenas almas penadas e som irritantemente frenético. Hoje um mero browser, de qualquer espécie, é capaz de dar conta da antigamente árdua tarefa. Fico a imaginar mais algumas décadas...

Mostras do poder de estrago a que podemos estar sujeitos, bastando capacitação e aptidão direcionada ao ponto certo (ou errado, se for o caso). Mostras também do poder do gigante web, longe de perder significância e capacidade de inovar.

Nesta semana diversos artigos, em publicações da área como a PCWORLD, tentam estimar o tamanho da brincadeira. Algo em torno de 4.819.352 horas de trabalho desperdiçadas ou cerca de 120 milhões de dólares em perdas!

Android, Google TV e outras iniciativas justificam um apelido para essa peça importante no jogo dos negócios tecnológicos, a empresa com o bem em suas diretrizes: PAC-MUNDO.