domingo, 31 de agosto de 2008

Discernimento

Certas palavras caem em desuso.

Discernimento figura dentre as em vias de extinção. Seja pela falta de vocabulário ou por alguma deficiência ética-moral de tempos atuais.

Há certa força em tentar não discernir. Abordar tudo e todos em um difuso composto, um tanto amorfo, um tanto grudento, de difícil classificação.

Culpa talvez das inúmeras seduções da vida moderna. Em seu favor, fingimos não discernir, para escolher opções mais palatáveis e satisfatórias ao nosso ego.

Tentativa de o indivíduo prevalecer ao comunitário, ao comum, ao público. Terminam todos a se conformar. Não a conformação do consolo, mas da forma, de se moldar ao conjunto. Não devemos nos conformar!

Escolhas feitas, posições tomadas. Atuaremos como pedras de formação, fundações para a sólida construção, edificação do futuro sensato. Ou optamos por exercer a função de pedra de tropeço, entrave ao caminhar desenvolto, em direção à realização plena.

O esforço para sustentar solidamente bons preceitos de humanidade é considerável. Escolher o discernimento, na oratória e na ação, em meio a um mar de sua negação, marca nossa presença, nos diferencia, nos faz alvos.

Alvos podem estar sob a mira, em risco. Ou serão objetivo, meta a alcançar. No mínimo, o exercício de nossa sublime faculdade, o aperfeiçoamento da decisão, tornará alva nossa alma. Límpida na certeza da boa escolha, do melhor a desempenhar.

Impossível garantir o sucesso da empreitada. Conformemo-nos, a vida permanece isenta de garantias. Única via possível é a formação do juízo, pautada na excelência do bem humano, selada com a amálgama do amor, expressão jamais em desuso.

sábado, 30 de agosto de 2008

Descoberta

Anseio humano, descobrir indefinidamente...

Bichos curiosos, insistimos perenemente em entender o mundo, revelar como funciona, quais mecanismos movem a natureza.

Vai longe o tempo das grandes navegações e a descoberta dos novos mundos, mundos tão próximos, mas tão distantes até então, principalmente da imaginação da maioria.

Dos mares ao universo! Ainda em sonho, pelo menos em nossa tecnologia contemporânea. Entregamos a cargo da ficção científica a realização da façanha... E dá-lhe assistir temporadas e temporadas de Star Trek.

Surpreendente constatar que tamanho fascínio começa com pequenas coisas, extremamente cotidianas e pessoais. Mais ainda, se inicia conosco em "auto ato".

Após nossa chegada a nova realidade, descobrimos um novo mundo de sensações, estranho, seco, frio e áspero. Acostumamo-nos e, a cada novo acostumar, seguimos em busca de acontecimentos inéditos.

Nos últimos tempos, fico maravilhado com a descoberta das mãos. Pois é, minha pequena maravilha descobriu possuir um par, com cinco dedinhos.

E como divertem suas duas novas amigas. Falta coordenação plena para levar ao lugar preferido de experimentação, a boca. As duas seguem por muitos caminhos, de testas e olhos, até conseguirem pousar em seu destino final.

Porém, a jornada nunca acontece sem antes um delicioso momento de contemplação. Ela parece reparar dedicadamente em cada dedinho, em cada linha de suas palmas. Olha compenetradamente, procurando compreender.

Compreensão daquela natureza. Serão minhas? Como as uso? Que gosto têm? Mexem sozinhas? Como estão conectadas? Com elas posso experimentar outras coisas? E o tempo passa, suave, contemplativo e muito, mas muito babado!

Dia após dia continua o aprendizado. Perceptível na mudança do olhar. Olhar a falar mais do que muitas palavras. Resta descobrir quem mais aprende, filha ou pai. Mas o tempo é longo, há muito dele ainda. Muito ainda a aprender...

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Romance

Romances atuais vivem ricas experiências transformadoras.

Pelos menos as novas obras escritas com o aproveitamento de tecnologias modernas. Colaboração, Web 2.0, wikis, um pouco de tudo da idade mídia.

A editora britânica Penguin criou o projeto We Tell Stories. Com ele pretende explorar o âmago do conceito do hipertexto, fundamento primordial da estrutura da Web.

Nem sempre lembrado, tal tipo de texto permite construirmos um conjunto de documentos interligados, nos quais podemos navegar sem nenhuma linearidade.

As conexões surgem em palavras marcadas, os tais links, relacionadas às idéias descritas. Eis parte da mágica por trás da grande teia digital. Sou adepto deste tipo de construção e procuro sempre usá-lo (já deu pra notar aqui no blog? ;))

Escritores em parceira, com designers de games virtuais, constroem histórias baseados em clássicos editados por lá. Assim concebidas, elas são expostas no site do projeto, para permitir o acesso e interação.

Seis autores, alguns deles premiados, trabalham em seis histórias, durantes seis semanas. Estilos distintos, motes diversos, aproveitam das potencialidades das páginas HTML. A trama intrincada acaba ainda mais emaranhada através de sua versão virtual.

Baseada nas "As Mil e Uma Noites", uma das narrativas agrupa diversos texto em jornada labiríntica. Com a visualização de mapas, encontrados pela história, se salta para novos rumos a procura do final. Os mapas correspondem a mapas reais, disponíveis no Google Maps, permitindo a visualização do cenários concretos.

Com interfaces intuitivas, todas as obras cativam tanto pelo conteúdo como pelo mecanismo de navegação. Variadas leituras se tornam possíveis. Explorando conhecemos outros ângulos das mesmas linhas narrativas. Brincamos desestruturadamente com algo que estamos acostumados a seguir em linha.

Em semanas de Bienal do Livro, calha bem nova experiência literária. Experiência divertida e instigante, somado ao fato de não custar nada. Reflete a vida da forma sincera que se apresenta: gratuita e sem roteiro demarcado.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Armazenamento

Quanto conseguiremos guardar?

A espécie humana carrega o vírus do colecionar. Adoramos ajuntar coisas durante a vida, mesmo que apenas para ficarem esquecidas, em algum canto.

Assim fazíamos com o álbum de fotos, e todas as inúmeras exemplares soltas, negadas ao direito de brilhar em meio a uma exposição bem organizada.

Livros, roupas, CDs, utensílios domésticos, enfeites... Basta parar e relembrar quantos itens vagam em nossos lares, agregados a tutela zelosa de todos nós.

Um bom momento para perceber quanto ajuntamos é em época de mudança de residência. Se aproveitarmos a oportunidade, conseguimos uma boa seleção e descarte devido do excedente. Senão, encaramos a dificuldade de onde colocar tudo aquilo...

O mundo digital trouxe um pouco mais de complicação para nossa mania. Com a crescente capacidade de armazenamento, e a comum falta de organização e habilidade computacional, os dispositivos de armazenamento vêm se transformando em legítimos depósitos de bits.

Há algumas semanas, meu supervisor precisou backupear três computadores, de ex-colaboradores da empresa. Depois de alguma seleção, redução de itens dispensáveis, conseguiu colocar todo o conteúdo dentro da sua máquina. Notem que as quatro máquinas têm capacidade de armazenamento semelhante, cerca de 80 Gb.

Claramente as máquinas tinham um considerável espaço ocioso e ainda assim continham muitos arquivos, na grande maioria esquecidos. Motivada pelo nosso ímpeto de guardar, a indústria constantemente oferece continuamente mais espaço, a preços extremamente acessíveis.

Alguns culpam as interfaces de acesso pelo esquecimento. Uma vez nas entranhas do computador, um arquivo não é facilmente localizado, como uma folha de papel sobre a mesa. O sucesso da recuperação da informação depende organização, padrões e memória (do usuário).

Como não fosse suficiente, preocupados, ainda depois fazemos backups. Um, dois, três... Quem manda é o tamanho da neurose. Ficamos então com redundâncias, além do desperdício de espaço. E dá-lhe adquirir pendrives, DVDs, discos rígidos, unidades de fita!

Para as empresas, além da segurança, ficam os encargos do gerenciamento. Multiplique os dispositivos por centenas, conecte-os através de redes e surgem necessidades de ferramentas específicas para tornar o trabalho possível.

Imaginem que interessante seria se utilizássemos algum software para gerenciar o espaço disponível, de todo equipamento pelo mundo, com a otimização redundâncias, em uma grande nuvem de armazenamento. Certamente não precisaríamos aumentar a capacidade de nenhum item por alguns anos!

Fotos, músicas, documentos, vídeos, redundantes e espalhados se proliferam aos milhares neste momento. Até quando e quanto conseguiremos armazenar, antes de sermos engolidos e subjugados neste infindável oceano binário?

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Audiolivro

Audiolivros me lembram tempos antigos.

Imagens de fitas cassetes inundam a memória. Nostalgia de um passado distante de pouco mais de uma década. Época da distribuição da revista SpeakUp com seus acompanhamentos magnéticos fonados.

Com surpresa, ao ler matéria da revista Época, desta semana, descobri que eles foram um dos destaques da última Bienal do Livro, encerrada no fim de semana passado.

Destaque pelo número de lançamentos e o crescimento do mercado. Antes restrito a dois títulos, "O Pequeno Príncipe", narrado por Paulo Autran e a Bíblia, narrada por Cid Moreira.

Dentre os disponíveis, contamos com best-sellers, como "Quando Nietzsche Chorou" ou "1808", até clássicos como "O Auto da Barca do Inferno". Públicos diversos, gostos variados, nenhuma discriminação no atendimento e satisfação dos clientes.

Curioso como em tempos digitais, quando muitos discutem livros eletrônicos e afins, um antigo formato literário estar presente numa feira célebre do mundo da celulose. Sem dúvida não ressurge em rolinhos, mas em CDs e arquivos para download.

Disposição considerável em conquistar novos mercados. Bem à frente de sua colega, a indústria fonográfica, relutante em adotar novos padrões de distribuição. A preocupação com a pirataria dos audiolivros existe, mas preços baixos serão usados para combatê-la. Se der certo, quem sabe inspire seus aparentados...

Em terras de analfabetismo funcional e pífias tiragens de livros, qual a motivação para a nova empreitada? Será um reflexo do tempo ocioso nos congestionamentos das grandes cidades? Ou uma tentativa de oferecer algo mais palatável, afinal não dá o "trabalho de ler"?

Fico a pensar no desafio de produzi-los. Imagina só, alguém ler um livro completo em voz alta. Provavelmente se consomem alguns dias, com significativo trabalho de gravação e compilação. Ouvi-lo deve ser outra inusitada experiência... Obteremos mais ou menos detalhes? Conseguiremos prestar a mesma atenção?

Apesar do formato ser antigo, nunca experimentei e ficam as dúvidas. De repente, escolho algum título para desafiar ouvidos e imaginação. Espero ser essa onda um bom prenúncio de novos tempos literários, no mínimo o início de uma legião de leitores. Uma sociedade sem amigos das letras é um agrupamento humano, nada mais.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Ioga

Ninguém duvida que sorrir é o melhor remédio.

Comumente, basta uma boa piada, ou até mesmo uma ruim, alguém começar e todos à sua volta embalam numa crise de sorrisos.

As melhores ondas são aquelas de tirar o fôlego, de literalmente chorar de tanto rir. Cura qualquer mal. Alivia qualquer tensão. Põe fora e por terra, sem distinção, os nós na garganta e angústias.

Para as piadas ruins, uma amiga me ensinou ótima sacada. Sua sobrinha, ao final destas fatídicas, apenas completa com a palavra "fim". Meio mágico, meio sarcástico, o sorriso é inevitável.

No entanto, algumas releituras de práticas e filosofias se mostram risíveis. Esses dias ouvi um relato sobre o "Ioga do Riso"! Pois é, uma vertente da milenar corrente filosófica apoiada na idéia de sorrir.

Ioga já possui inúmeras correntes e vertentes, em princípio concomitantes. Quanto à última, tenho lá minhas dúvidas... A equipe da revista Galileu resolveu encarar uma pesquisa de campo e participar de algumas aulas da tal ioga.

Cheirando a oportunismo sobre modismo, o relato da equipe de jornalistas e de outros tantos depoimentos na Internet, nos levar a concluir a existência de muitas técnicas, mas pouquíssimo Ioga. Aproxima-se muito mais a dinâmicas de grupo, comuns em processos seletivos em empresas.

De qualquer forma, pelo sorriso ou pela técnica, sugere ser divertido. Ganhou ares "pop" e a atenção do Programa do Jô. Longe de ser grande mérito, mas acaba por tornar a história toda mais engraçada, sem contar a esculhambação típica do apresentador.

No final das contas, poderíamos nomear os profissionais, como André De Rose, de Personal Smiler, seguindo as tendências do mundo personal. Mundo cinza esse nosso, mesmo. Dureza imaginar que as pessoas precisam de orientadores para reaprender a sorrir.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

OpenID

Pagamos pela nossa preguiça...

Tudo bem que ela não é exclusividade humana. Também devemos admitir ser muito bom um momento dela. Porém, é desaconselhável comprometer outros aspectos da vida em sua troca.

O que há de comum entre Yahoo!, Google, Windows Live, CNN, Wikispaces, dentre outros? Deixando de lado estratégias conquistadoras dos mercados virtuais, todos aderiram ao OpenID.

Sistema de identificação, provido por uma rede distribuída na qual a identidade dos usuários corresponde a uma URL ou XRI. Qualquer servidor, a executar o protocolo, pode verificá-la.

A idéia é facilitar a vida das pessoas, com tantos serviços e senhas para lembrar. Com o serviço, precisaremos recordar, ou guardar, apenas uma informação de identidade.

Já conheço essa história de facilidade... Somos capazes de lembrar muitos números de telefone, datas comemorativas ou endereços mais complexos do que uma senha. Bastou ser uma senha, ou melhor, algumas, para começar a "chiadeira". Quem trabalha com sistemas sabe o quanto é comum um gerente delegar a posse de sua senha para uma secretária ou subordinado...

Depois, quando o desastre acontece, não há reclamação que baste. Haja vista o ocorrido nos últimos tempos com os tokens, distribuídos por grande parte dos bancos. O ambiente hostil do serviço bancário na Internet obrigou a maioria das instituições a adotar medidas rígidas de segurança, mas os clientes acham isso "incômodo".

Com o OpenID se cria mais um problema para os administradores de segurança. Basta descobrir uma única identidade para se ter acesso às informações, em todos os serviços que o usuário possui. A robustez do serviço está garantida agora, mas quanto tempo levará para se encontrar pequenas brechas? Aliás, nem precisamos disso... Quantos usuários sabe tratar adequadamente suas assinaturas digitais, quando as possuem?

Problema posto, momento de lembrar dos tempos de teoria da escola. Segurança em TI não é apenas identidade. Edifício fundando em três pilares são necessários identidade, autenticidade e integridade! Por esse motivo o sistema foi batizado de ID e os próprios autores desaconselham seu uso em comércio eletrônico e sistemas bancários.

Sempre é bom lembrar velhos conceitos... Neurose, ou não, os cuidados na terra digital sempre são imprescindíveis. Tenham certeza, mais do que o trabalho de atentar aos requisitos de segurança, reparar os estragos causados dará muito mais preguiiiiiiiiça.

domingo, 24 de agosto de 2008

Quem

Quem é esse homem?

Notória pergunta, com mais de 2.000 anos, provoca a discussão e a curiosidade até os tempos contemporâneos. A resposta, a respeito daquele judeu, continua em aberto.

Aos agraciados com a fé, dúvidas inexistem. Crer elimina a questão, permite dedicar esforços a assuntos mais relevantes, como propagar e praticar sua crença.

Em sua grande maioria, as pessoas de sua época pouco puderam opinar. Se é que tomaram contato plenamente com sua figura e mensagem. Tempos sem Internet e outros meios de facilitada comunicação.

Fato é que seu legado influenciou a história de humanidade, de uma maneira ou de outra. Independentemente de origem ou credo, todos sofremos alguma influência deste personagem.

Pesquisas históricas revelam evidências de sua passagem pelo planeta. Muito além de livros religiosos, historiadores romanos, dos mais meticulosos, registram fatos da existência de alguém coincidente com sua história.

Qual sua principal marca? As promessas e profecias aguardavam um rei, com selo real. Representante da lógica vigente. No mínimo, aguardavam um grande profeta, repleto de poderes extraordinários, capaz de feitos incríveis e impactantes.

Marca única e indelével, conduzida ao limite da vida, o amor foi dom entregue. Entregue para subverter o status quo, conduzir por novo caminho, traduzir o sentimento em paz, compaixão e fraternidade. Novidades na visão de um mundo belicoso e cruel.

Das muitas mensagens deixadas, das mais emblemáticas é a mensagem da paz: "Eu vos deixo a paz, eu vos dou a minha paz. Não olheis os nossos pecados, mas a fé que anima a vossa Igreja; dai-lhe, segundo o vosso desejo, a paz e a unidade. Vós que sois Deus, com o Pai e o Espírito Santo".

Que a paz esteja com todos nós, para sempre, fosse ele quem fosse...

sábado, 23 de agosto de 2008

Mistério

Mistérios amazônicos povoam o imaginário brasileiro.

Verdade seja dita, povoam também o imaginário mundial. Um exemplar destes mistérios é a "Terra Preta de Índio", um tipo de solo extremamente fértil encontrado na região.

Seu nome é devido à coloração desse solo, com profundidade de até dois metros. Registrada há mais de 100 anos, sua fertilidade é surpresa em terrenos considerados pobres e impróprios à agricultura.

O dilema reside em sua formação. Ainda não consenso de como ela se originou. As primeiras hipóteses creditavam o fenômeno a eventos geológicos e afins.

Teorias mais recentes apontam origens antrópicas, resultados de ancestrais presenças indígenas. Resta saber se seriam ações propositais ou meros caprichos do acaso, a depositar os vestígios humanos numa bem elaborada composição.

Tamanha combinação de fatores favoráveis permite a elaboração de teorias mirabolantes. Como gostamos de criar origens extraordinárias para eventos excepcionais, algumas pessoas já atribuem a existência da composição a alguma participação alienígena...

Mitologias à parte, o entendimento da estrutura da Terra Preta garante trunfo em tecnologia agrícola. Nem mesmo com nossos incrementos químicos conseguimos produzir resultado semelhante em melhoria de solo.

Pesquisas internacionais vêem sendo desenvolvidas, tamanho o interesse pelo assunto. Curiosamente, na Internet, é mais fácil encontrar material relacionado ao tema em outras línguas e sites fora do Brasil.

Quem diria a diversidade da Amazônia chegaria até ao seu solo! Outro gigante motivo para continuarmos a preservar e proteger esse bem natural importantíssimo. Triste constatar que ainda insistimos em queimadas e extrativismo desenfreado. Queimamos e extraímos oportunidades únicas. Cuidar aparenta não ter mistério.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Bolsa

Escavações em biblioteca pessoal rendem redescobertas maravilhosas.

Reler "Amar Se Aprende Amando", de Carlos Drummond de Andrade, revela releituras desconhecidas. Achados da sensibilidade aguçada do poeta, capaz de perverter o tempo e captar o futuro.

Em tempos de economia pujante, eis a descrição, de três décadas atrás, atemporal como a alma do escritor.

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A Bolsa, O Bolso
9.V.1971

"À Bolsa!" é o novo grito. A Bolsa, a vida
em milhares de ações reflorescida.
Investir é o mot d'ordre. Investimento
com sua rima de financiamento
A Belgo deu filhote? A Brahma chama?
A Souza Cruz do lucro atiça a flama?
Estou de olho na José Olympio
(Quere uma bolada não é ímpio.)
Discutem dois garotos. Investiram.
No quadro as cotações, atentos, miram.
Aquela é sua, bicho? Ai, antes fosse.
(Ao portador: Vale do Rio Doce.)
Viu mulher investindo? E como investe
em indústrias no Norte no Nordeste.
Já não fala em dez-mais, em longo e mídi:
é Bradesco, Banespa, BEG e BIDE.
Compre na baixa, venda na alta. Eis tudo
que se exige. De leve, de veludo.
O Banco do Brasil, a Petrobrás
estão enchendo de ouro o meu cabaz.
Que fazer com o excesso de tutu
de que meu bolso outrora andava nu?
Rumo à Bolsa de Arte, e arrematar
dois Volpi, três Dacosta e mais Guignard,
não esquecendo, é claro, Cavalcanti
(Di), Djanira, Pancetti, tutti quanti
couber na cobertura da Lagoa.
Não tenho cobertura? Oh, essa é boa.
Compro-a logo na Barra da Tijuca,
de faz-de-conta, sonho. Minha cuca
vai abrindo outras Bolsas de Valores:
de Glória, de Poder, de Amor-Amores.
A Bolsa da Beleza, a de Romance,
a de Poesia, pelo maior lance.
Ações de tudo. Até de não-agir.
de quedar no Arpoador, calmo, a sorrir.
A Bolsa de Viver em Paz... existe
só na Utopia, que, teimosa, insiste?
Uma Bolsa onde todos os papéis
se despojassem de signos cruéis,
e os bens tivessem nome de Alegria,
de Tolerância como de Harmonia.
Estou pedindo muito. Os pacifistas,
eles próprios, violentos, jogam cristas
com os belicosos. Só me resta, mesmo,
em verso pobre divagar a esmo.
O índice BV (Boa Vontade)
bate de porta em porta na cidade
de muros de granito ou de basalto,
mas quem abre, com medo de um assalto,
nas partes repartidas do planeta
cada vez mais confuso e de veneta?
Enquanto não se adensa tal miragem,
vou também, parafuso na engrenagem,
tentando o meu joguinho. A Bolsa! O bolso,
quero-o bem cheio, múltiplo reembolso.
Que títulos comprar? Aço, tecidos?
Docas, brinquedos, plásticos, sabidos
negócios, ou empresas de futuro?
Não sei se vejo claro ou vejo escuro.
Vale-me, corretor, vale-me, sorte,
nas jogadas de macro ou micro porte,
que eu prometo, se acerto na tacada,
a dica fornecer para a moçada,
e fundarei também a minha empresa
de capital aberto, em volta à mesa
de papo ameno e dose bem legal
de escocês dividendo... Então, que tal?

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quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Lively

Provavelmente gostamos de viver outras realidades.

Depois de um sucesso intenso, o Second Life passa por momentos difíceis, com quedas de audiência e popularidade em baixa. Sinal de proximidade ao fim da linha?

Talvez seja sintoma de outros motivos. Os custos para evoluir no ambiente, afinal dependemos de Lindens. A imensa massificação. Intensificação de conteúdo sexual. De qualquer forma, ele continua lá, impassível e vivo.

Há um sinal mais forte da perpetuação dos mundos virtuais. Em julho, a Google lançou seu ambiente, batizado de Lively. Será alguém que sabe onde colocar suas fichas, esse alguém é a gigante da Internet.

De cara, eles já chegam com a gratuidade costumeira a seus serviços. É divertido pensar que, nesse caso, os tais links patrocinados serão mais parecidos com a propaganda na realidade. Veremos outdoors plantados pelas paisagens, como se passeássemos na São Paulo de meses atrás. Só falta o Kassab implicar com aquelas paragens também...

Os ambientes surgem bem mais variados. Estilos diferenciados, adequados a cada tribo ou tendência. Avatares, propriedades e objetos podem ser criados como ocorre em seu concorrente mais tradicional. Grande diferença se perceberá na comunidade a apoiar seu desenvolvimento, costumeira na parceira com os pais do mecanismo de buscas.

Como não poderia deixar de ser, há uma significativa integração com outros serviços da empresa. Publicações em um blog, do mesmo grupo de sites, podem ser reproduzidas dentro do ambiente virtual. Redes sociais tradicionais, como Facebook e MySpace, marcam presença com a conexão e acesso de dentro destes mundos.

Universalidade de opções e abertura de plataforma são as chaves para tentarem conquistar o mercado. Muitas empresas saíram sorrateiramente do Second Life, para não deixar má impressão e não continuar no barco a afundar. Com a nova opção, talvez retomem seus investimentos, apesar de no Lively o astral parecer mais lúdico, divertido.

Diversas outras opções ainda orbitam o ciberespaço, como mencionei em post passado. Sua sobrevivência por tão longo tempo denota nosso gostinho por viver uma outra vida, mesmo que virtual. Com a participação de um gigante empreendedor, dificilmente aventureiro em seus projetos, a realidade muda bastante de figura.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Cavaleiro

Devo admitir, acho que estou ficando velho...

Ontem fui assistir ao já não tão lançamento "Batman - Cavaleiro das Trevas". Atraso justificado pelas novas responsabilidades da pós-natalidade. A vida muda.

Se posso eleger um herói preferido, seu nome é Batman. Talvez pela sua incidente humanidade. Sem grandes poderes, depende de sua sagacidade e preparo.

Vive a crise da dicotomia interna, a linha tênue entre o certo e o errado. Vingança ou justiça? Dilemas filosóficos comuns a qualquer pobre mortal, com um mínimo de lucidez.

A graphic novel "Cavaleiro das Trevas", lida há já um bom tempo, trazia o personagem em crises bem sombrias, mas pertinentes aos nossos problemas mundanos, extrapolados em paisagens futuras.

Comentar, ou criticar, um filme é tarefa inglória. Questão de gosto ou opinião, habita o mesmo mundo da religião, política e futebol. Difícil discutir.

Apesar dos pesares, me sinto compelido a fazê-lo. Gostei do filme, mas só. Fui com uma alta expectativa, mas acabei por ver mais do mesmo. É daquele tipo que vou ver e volto sem grandes mudanças, ou coisas a contar, ou vontades de rever.

Seu enredo é a mera reprodução do que está escrito. Aliás, adaptação. Peca na pirotecnia dos efeitos especiais. Abandona a sagacidade e leva a discussão dos conflitos interno a obviedades vistas em qualquer folhetim.

Inegáveis as boas atuações de Heath Ledger e Gary Oldman. O primeiro selando postumamente sua carreira com uma encarnação característica do vilão. O outro, mais uma vez camaleônico, absorto em sua incorporação completa da personagem. Mestre em sua arte.

A insanidade do Coringa resvala em algo do que seria feito nosso subconsciente. Resvala pela superficialidade. Instiga meio para dizer que sabe, aquilo que todos nós nos recusamos em reconhecer. Pretensamente tenta chocar. Banaliza.

Fim das contas: uma colorida e intrincada briga de dois malucos fantasiados. De bom mesmo, aí sim para instigar, uma reflexão do transformado em vilão, Duas Caras: "A única moralidade num mundo cruel é o acaso".

De qualquer jeito, ninguém sairá despirocando, no dia seguinte, pelo menos a imensa maioria. Cientes de nossos mais profundos monstrinhos, ou dos mais inquietantes anseios, levantaremos e iremos trabalhar, como todos os dias, sem nenhum "coringa" na manga.

Definitivamente, estou envelhecendo...

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Olimpíadas

Eventos do esporte mundial conferem momentos de apreciação.

Nas olimpíadas, apreciamos a confraternização de povos de todos os cantos do mundo. Diversas origens, culturas, costumes, ideologias, se confrontando pacificamente, imbuídos do espírito esportivo.

Obviedades à parte, ao assistir algumas das competições reparei a semelhança entre os competidores. Ali, em meio à partida duma corrida feminina, apesar das diferenças fisionômicas, todas ficam muito iguais com seus uniformes.

Ainda mais com os trajes atuais, que no caso são bem curtos. Vemos bastante do corpo das atletas. Chegarão logo a resgatar as antigas corridas na Grécia, onde os corredores competiam nus.

Ficam de lado suas religiões, costumes e tradições, certamente muito distintos. Sobre pessoas, corpos aquecidos e prontos para desafiar os limites da fisiologia humana. Mas sempre muito semelhantes...

Sem exceção, os atletas colaboram um pouco mais com a ditadura da estética. Seus sofridos músculos, exclusividade de dedicada vida à sua modalidade, representam grande parte dos sonhos da sociedade voltada ao corpo.

Na política, se levando em conta o regime exercido naquele país sede, muitos conflitos vêm à tona, desde antes do início dos jogos. A Anistia Internacional até lançou uma campanha com outdoors, imagens questionadoras da realidade pós-olímpica.

Com o lema deste ano "Um mundo, um sonho" (One world one dream, no original) percebemos o idealismo presente em todos, mas bem longe da realidade. Realidade das diferenças entre as nações para a dedicação ao esporte. Condições diferentes, propiciando realizações diferentes.

Mesmo em seus países, os atletas têm situação diferenciada do restante da população, ainda que o patrocínio seja escasso. Não podemos imaginar que qualquer pessoa na Etiópia tem condições de correr uma maratona, como o fazem seus representantes.

A diferença se reflete até no momento do pódio. Atletas americanos premiados com o lugar mais alto, comemoram, mas com ares de "mais uma vez". Enquanto nosso primeiro medalhista de ouro na natação, César Cielo, mal conseguia conter a emoção por sua conquista e desabar em um pranto de alegria, da alma lavada pelo duro caminho para tamanha conquista.

Até a desigualdade parece semelhante pelo mundo afora. Humanos que somos, cometemos equívocos idênticos, nas mais diferentes esferas. Iguais na concepção da natureza física, distintos pelas tramas da sociedade global. Porém, no final, inevitavelmente, humanos, demasiadamente humanos!

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Twitter

Alguém, gentilmente, me explica a lógica do Twitter?

Pouco mais de dois anos atrás, surgiram os microblogs. Instigante a idéia de posts curtíssimos, mas restava a grande pergunta: e...?

Questão singular e única, ministrada por um grande mestre, a provocativa interrogação busca estimular o aprofundamento de algo inicial e aparentemente infundado.

Com a limitação de 140 palavras, ficamos com a impressão da impossibilidade de algo mais útil. Está bem, talvez eu seja exagerado para me expressar. Prefiro acreditar o contrário.

Termino por me sentir senil, meio ranzinza. O sucesso mundial encarnado pelo site só pode resultar de um algum poder oculto, além de qualquer funcionalidade existente. Nem mesmo a rede social formada, assunto tão em voga atualmente, é tão expressiva e diferente para gerar justificativas.

Nas instruções iniciais do uso da ferramenta, a equipe responsável sugere a publicação das atividades diárias. Colaboram com esse uso ferramentas das mais variadas, para uso em celulares, computadores e outros meios. Com esse perfil, ele se torna um "micro big brother". Que exposição gratuita!

Observando alguns conjuntos de mensagens de usuários, percebemos estarem eles transformando o microblog em comunicador instantâneo, não tão instantâneo, meio off-line. Conversas trocadas entre microposts, com perguntas e respostas, carecem de praticidade.

Se fosse utilizar profissionalmente, pensaria em relatórios periódicos, com acompanhamento de tempos e prazos. Mesmo com ferramentas mais práticas, as pessoas têm dificuldades em manter atividade deste tipo. Porque não gostam, ou porque não querem, mas o Twitter não mudará essa relação.

Difícil arriscar uma opinião acurada. Se fosse confiar apenas no feeling, desacreditaria na longevidade do serviço. Só que ele já completou dois anos... E andou ficando for do ar por problemas de acesso pesado, pelo menos, de acordo com as informações apresentadas por seus mantenedores.

Quando comecei com o blog, me questionava das razões motivadoras. Percebi seu potencial posteriormente e estou até agora nessa onda. Já com o site em questão arrisco não encontrar nada além de uma grande necessidade de notoriedade, com grande exposição e culto a personalidade. Uma hora isso acaba cansando qualquer um...

domingo, 17 de agosto de 2008

Noticiário

De que são feitas as pautas do noticiário?

Diariamente, pela manhã, gosto de assistir ao noticiário matinal, normalmente o SPTV, da Globo, para aproveitar o tempo do café e me atualizar.

Incomoda, já faz tempo, o foco concedido a notícias policiais ou de acidentes, e afins. O conteúdo jornalístico se resume apenas a relatar as ocorrências de crimes e afins?

Ninguém duvida da existência de problemas, mas sua divulgação, sem a devida discussão, passa a corresponder apenas ao aproveitamento da desgraça alheia para o preenchimento de uma pauta.

Qual relevância dos casos apresentados? Como escolher qual destacar, em meio a tantos certamente existentes em uma estado como São Paulo? As situações apresentadas não são as únicas. Nem só de problemas é feita a vida de tantas pessoas.

Outros fatos da vida também merecem destaque. Daí, muitas vezes, o exagero pesa no outro lado, com a menção insistente e incisiva no assunto. Escolhido o tema, passamos a exaustão de sua exposição. De acordo com a sazonalidade, ficamos com as Olimpíadas, alguma comemoração à época, etc.

Ficamos com a dúvida de qual a função do jornalismo contemporâneo. Vivemos realidades novas em grandes populações. O mero folhetim diário tem dificuldade de refletir as necessidades destas novas vivências.

A situação se repete em quase todos os meios, com maior ou menor intensidade. Nem mesmo o escopo dos programas ou publicações mudam sua perspectiva com o foco. Grande responsabilidade, a coerência e a ética jornalística conduzem a formação de opinião, através de quem se espera fatos e discernimento.

Por outro lado, situações de notável destaque são proteladas. Às vezes, ganham um pequeno espaço para se manifestar, chegar à tona dos acontecimentos, para não se afogar no mar do esquecimento.

Hoje na Folha de São Paulo, uma coluna do Dr. David Oliveira, intitulada "Ao Brasil, notícias da fome na Etiópia", faz seu relato alarmante da situação naquela região do mundo. Representante dos médicos sem fronteira no país, ele usa o pequeno espaço concedido para gritar por atenção para um problema tão grave no mundo.

Por que a fome, seja lá ou em nosso sertão, não merece destaque, mesmo sendo causadora de tantas mortes diárias? Quais interesses movem o preterir do fato? Ler o texto deste médico vocacionado nos dá a dimensão do enorme drama enfrentado pela humanidade. Também nos noticia a dificuldade de algumas notícias chegarem ao público. Por que?

sábado, 16 de agosto de 2008

Transgênico

Há quem tema os transgênicos.

Atualmente, já há algo mais para se preocuparem. Antes restritos ao mundo da alimentação, um novo fenômeno talvez possa ser classificado como tal. E lá virá mais preocupação para eles...

Essa semana, a imprensa divulgou a experiência com neurônios de rato implantados em uma máquina. Um robô com cérebro biológico! Novo tipo de transgênico. Até nome bonitinho ele tem: Gordon.

Asimov, em sua quase mitologia tecnológica, concebeu um cérebro "positrônico", para basear todos os autômatos de seus contos.

Naquela época, a eletrônica era rudimentar, mal estavam estreando diodos e transistores. O tal cérebro seria feito de platina, percorrido por fluxos de pósitrons, a simular ondas cerebrais. Mal podia imaginar o autor uma tecnologia envolvendo células vivas.

Barreira para o desenvolvimento da inteligência artificial, a construção de redes neurais artificiais demanda poder de processamento portentoso. Nosso cérebro tem 100 bilhões destas células, conectadas a cada cem, ou seja, uma rede com 10 trilhões de conexões!

Ainda que a capacidade computacional fosse suficiente, precisaríamos entender a organização das estruturas naturais. O modelo do neurônio artificial já está consolidado. Muitas pesquisas buscam desenvolver o hipotálamo artificial, uma das estruturas primárias necessárias. Um longo caminha a percorrer...

Solução mais prática encontrada: utilizar o que a natureza criou. Colocar os neurônios de um ratinho para funcionar, sob o comando humano, é o germe da manipulação desejada. Mesmo nesse caso, a rede tem pouco mais de uma centena de milhares de células. Mas já está aprendendo...

Tudo bem, seu objetivo é apenas aprender a se locomover e desviar de objetos. Justificam os cientistas, porque parecem sempre querer se justificar, que tais estudos colaborarão no avanço da medicina contra os maus de Alzheimer e Parkinson. Só não podemos esquecer a plasticidade neural...

Se a plasticidade estiver ligada à célula e sua capacidade de se adaptar, quais as garantias do seu futuro desenvolvimento? Podemos controlar os rumos realmente tomados? Será esse o experimento gerador do Cérebro?

Brincamos com a vida, ou ao menos seu potencial. Bem no futuro, como preconizava a ficção, se nossos brinquedos desenvolverem consciência, quais serão nossas responsabilidades éticas? Parecem deixar de aprender com o passado. Às vezes sinto que comemos novamente a maçã.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Verde

Esverdearam o mundo da TI.

Nem torcedor fanático palmeirense, nem o Menino do Dedo Verde, a cruzada ficou a cargo da maioria dos ditadores de tendência do mundo da tecnologia.

Tema em alta, adotar algum tipo de política "verde", preocupada com a questão ambiental, virou anseio de qualquer CIO desejoso de se manter up to date.

Muitos mais do que se preocupar com desperdício de papel, as idéias brotam em todas as áreas da estrutura da informação. Mesmo porque, apesar dos esforços das corporações, a questão da impressão parece sempre dar em água.

As empresas instalam sistemas de gerenciamento de impressão cheios de recursos, disponibilizam ferramentas para operação de documentos digitais, mas as pessoas parecem adorar a pilha de papéis na mesa.

Aliás, a proximidade a uma impressora ou copiadora parece irresistível. Talvez seja a sensação de controle, possivelmente a única no dia-a-dia de muitos. Ou o calorzinho emanado, para quebrar um pouco o gelo do ar condicionado. Quem sabe aquele cheiro de toner é viciante.

Fato é que os grandes fornecedores de tecnologia, como IBM e Oracle, têm anunciado estratégias e produtos para viabilizar a economia de recursos naturais. Redução do consumo de energia de equipamentos e componentes, com as mesmas características de desempenho. Virtualização de servidores para melhor aproveitamento de seu potencial e diminuição do número de máquinas. O leque de opções dá assunto para um post exclusivo...

Revistas especializadas, blogs de tecnologia, páginas ambientalistas, apontam para a nova vertente. Assunto um tanto nebuloso no passado, o desequílibrio ambiental já pode ser tido como certo, mesmo sem conhecermos suas extensão total, após os diversos estudos publicados pelo IPCC.

Completamente justificável, a iniciativa ocorre muito mais do que pela simples feeling sobre o consumo dos sistemas ativos. Em 2007, Kevin Kelly, editor da revista Wired, estimou em 863 bilhões de quilowatts-hora a energia anual consumida pela TI mundial!

Para efeito de comparação, estamos falando de duas vezes o consumo do Brasil, ou 5% do consumo mundial! Se levarmos em conta a quantidade de recursos ociosos, mas ativos, já vemos o quanto há para ser feito. Quantas páginas, blogs, e-mails e outros tantos itens da nova economia digital não estão num limbo, perdidos ao acaso, mas consumindo recursos?

Urge corrermos para controlar o dispêndio inútil de tanta energia. O planeta agradece e o bolso também. Melhor aproveitar a boa vontade do momento e esverdear, antes dos líderes tecnológicos amarelarem e a coisa ficar bem mais preta!

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Domínio

Em tempos de P2P, direitos autorais estão em voga.

Proteger a propriedade intelectual permeia diversas discussões, principalmente as referentes à indústria musical e a cinematográfica.

Discussões à parte, o Brasil possui lei instituída para tratar o assunto. Cumprida, garante o respeito aos produtores. Nem sempre evita as distorções de registros sobre princípios ativos em nossas plantas.

Material mais antigo e tradicional, livros se adequam plenamente aos conceitos regidos pela lei. Como em outras partes do mundo, após determinado período de existência, as obras passam a ser de domínio público.

Cansamos de testemunhar editoras imprimirem textos de domínio público, em edições de qualidade material questionável e pô-las à venda. Mesmo com preços seguramente baixos, certamente apuram retorno significativo, com a distribuição em grandes volumes.

Difícil definir, em muitos casos, se a obra já está em domínio público, ou não. Nessa condição, interessante a publicação até em meios digitais, divulgação de clássicos da literatura através de não tão clássicos meios.

Compatível com sua adesão à Internet, como meio de acesso público facilitado a população, o governo federal disponibiliza o portal "Domínio Público". Há lá uma considerável quantidade de títulos, todos disponíveis para download.

A pesquisa se dá através de mecanismo na página principal. Os critérios disponíveis são Tipo de Mídia, Categoria, Autor, Título e Idioma. Sim, o primeiro item está correto... A biblioteca poderia ser batizada de midiateca, pois também conta com vídeos e imagens armazenadas.

Boas sugestões também surgem na seção "Destaque", logo no início do acesso. Temas como "Poesia de Fernando Pessoa" ou "Publicações sobre educação" levam a uma lista associada a proposta. Há recursos em idiomas além do português, como o inglês, o francês e até o esperanto.

Iniciativa louvável, sem pretensão de lucro, só poderia surgir mesmo do representante do poder público, entendido como bem intencionado. Em um mundo com tecnologia gradativamente mais ubíqua, bibliotecas digitais nestes moldes podem propiciar o domínio ao público de suas opções para instrução ou curiosidade.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Diário

Jornais tradicionais, inéditas e crescentes dificuldades.

Publicar notícias impressas, diariamente, modelo sustentando anos a fio pela divulgação de propaganda. Tempos de informação vagarosa, ao menos para os padrões atuais.

Após o advento de uma rede como a Internet, a conectar tudo e todos, instantaneamente, faz sentido manter o ciclo diário da propagação diária de material impresso?

Há um esforço considerável em agregar notícias, dos diversos cantos do planeta, pautá-las e definir suas prioridades. Mesmo com a tecnologia disponível, a tarefa exige o empenho de pessoas, tempo, dinheiro, para ainda assim fatalmente chegar atrasada.

Mesmo com tantos esforços, as mídias neste formato, mantém a informação represada depois de produzi-la. Todo jornal impresso possui um portal, mas normalmente restringe o acesso às informações apenas para seus assinantes. Acaso não seria uma forma de começarem a recuperar terreno?

Propaganda na rede tem retorno em sites com conteúdo interessante, que atraem tráfego considerável. Parece ser o caso... Em momentos posteriores, a migração para novas periodicidades e formatos aconteceria naturalmente, adequando mais ainda o veículo aos novos tempos.

É inegável o conforto em possuir a mídia nas mãos. Haja vista o caso dos livros, sensível e irremediavelmente ligados à celulose! Os diários noticiosos ganhariam maior importância como semanais analíticos da informação produzida no último período. Ainda impressos em papel jornal, manteriam a portabilidade tão desejada.

O The New York Times segue rumo aos novos tempos, altivo com seu mais de um século de existência. Além da abertura irrestrita de seu conteúdo, outros tantos recursos disponíveis, como vídeos, personalização da página, RSS, intensificam a relação com o assíduo leitor.

Movimento iniciado, quanto mais demorarem, menores chances existirão. Reconquistar público e receita requererá esforço. Em novo cenário, inúmeras e ainda impensadas possibilidades poderão mudar nossa relação com a notícia. No futuro, o antigo nomão de imprensa até poderá se rebatizar como "The New Times".

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Ning

Ninguém duvida mais do sucesso das redes sociais.

Basta observarmos o movimento em torno do Orkut, do Facebook ou do MySpace. Em nichos específicos, ou determinadas regiões, todos detém elevados índices de acesso.

Em pouco tempo se tornaram figurinhas carimbadas em qualquer navegador. Tão presentes, se torna quase impossível não possuir um perfil em algum deles.

Desde o último mês, a revista Info vem patrocinando diversos encontros para discutir o tema. Os seminários vêm discutindo diversas vertentes do assunto, inclusive seu uso empresarial.

A tendência parece confirmar algumas previsões de Ester Dyson, guru da tecnologia, em seu livro "Release 2.0". Analisando os grupos humanos, ela postula que grandes aglomerações penam devido ao anonimato possível nestas situações.

Sendo assim, as relações humanas são privilegiadas em grupos menores, comunidades com interesses comuns bem específicos. Algo como cidades do interior digitais. As redes sociais podem gerar essa relação de confiança entre as pessoas. Porém, devido ao seu sucesso, elas vêm ganhando dimensões superlativas, trazendo mais uma vez a questão-problema.

Surgiu nos últimos tempos uma nova alternativa: o Ning. Através deste site podemos criar redes sociais personalizadas. Todas as características passam por definição, de padrões visuais até funções da rede. Com ele as redes podem ganhar novamente uma característica mais exclusiva, restrita a um pequeno grupo de interesses.

Por trás dessa inovação está ninguém menos do que Marc Anderseen. Fundador da Netscape, dentre outros empreendimentos pioneiros digitais, sua presença garante certeza de novos ares chegando. Aposentado se quisesse, ele se empenha constantemente em novas fórmulas bem sucedidas.

Experimentar é fácil. Basta se inscrever e sair personalizando sua própria rede. Escolha o tema e o perfil, o resto é só tempo para aprender como utilizar adequadamente o serviço. O gerenciamento é viabilizado por diversas ferramentas para controle, monitoramento e configuração.

As redes sociais digitais espelham nossas redes de relação no mundo real. Gregários que somos, sempre arranjamos uma maneira de nos integrarmos e colaborarmos. Na nova onda, importante encontrarmos nossa conexão, para não ficarmos a deriva nessa informaré.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Labeler

Reconhecimento de imagens: tarefa de avançada complexidade.

Máquinas de reconhecimento que somos, nascemos com tal capacidade e nem percebemos. Desde pequenos podemos reconhecer rostos, sons, principalmente ligados a nossos pais (os mais interessantes por sinal).

Ainda assim, certa vez em meio a uma grande loja de departamentos, observei uma pessoa se aproximando de mim, sem reconhecê-la imediatamente. Somente quando estava bem próxima, reconheci minha tia!

Alguém que conhecia praticamente desde meu nascimento. Inserida em um contexto inesperado, sem familiaridade, não fui capaz de associar sua imagem com a minha lembrança familiar. Acabei surpreendido e intrigado... Além de um pouco sem graça, pois quase passei por um sem-educação.

Então, qual não será a dificuldade de fazer um computador entender um padrão de imagens? Esqueçamos figuras geométricas simples. Pensemos em imagens bem reais, repletas de detalhes, nuances de cores e tons, ângulos variados.

Um algoritmo rápido e preciso seria solução sem igual para um mecanismo de busca. Poderíamos solicitar a pesquisa apresentando uma imagem, ou uma idéia, e ele iria nos apresentar imagens relativas ao pedido. Profissionais da imagem, do vídeo ou dos grafismos, seriam abençoadas com organização facilitada e eficiente.

O pessoal do Google desenvolveu uma alternativa interessante: o Google Image Labeler. Ao aceitar participar do programa, passamos a colaborar com nosso trabalho literalmente etiquetando as imagens armazenadas em seus bancos de dados.

Para garantir a precisão da classificação, fazemos o trabalho em conjunto com outro usuário, presente em qualquer lugar do mundo. Se escolhermos a mesma palavra de classificação para uma imagem, esta será considerada válida.

Coincidências aceitas rendem pontos. O acúmulo de pontos nos posiciona em um ranking, em uma espécie de competição. Quanto mais detalhada a descrição, mais pontos renderá. O prêmio consiste em notoriedade! Alimento para o ego dos novos tempos.

Interessante alternativa... Trabalho gratuito. Identificação aprimorada. Coletividade incentivada. Egos escovados. Ingredientes da nova cultura digital reunidos em prol do aprimoramento da inteligência global. E também dos bolsos da empresa... :)

Fica pendente a avaliação do ponto de vista da etiqueta. Como encarar sermos transformados em etiquetadoras? Devo confessar que já andei fazendo alguns pontos.

domingo, 10 de agosto de 2008

Caminhar

Apoiados por nossos pais, caminhamos por sobre as águas.

Nas águas do mar da vida, em tempestades ou calmarias, a força paterna se faz presente para nos nortear, encorajar até o inimaginável.

Sua imagem nos traz a confiança para os passos mais difíceis. Mesmo nos terrenos em que incrédulos vemos dificuldades, seu apoio é essencial para o caminhar seguro.

Recusar seu chamado é impossível. O som de sua voz, a nos chamar, nos incentivar, impulsiona firmemente na direção correta.

A origem da condição é irrelevante. Seja de sangue ou de coração, física ou espiritualmente, sua importância remete ao âmago de nossas mais ternas lembranças.

Muitas vezes duvidamos... A dúvida nos faz afundar, ficar perdido em meio às ondas desse mar sem fim. Encontramos o socorro na amiga mão paterna, serena, a nos resgatar da turbulência da insegurança.

Em seu barco, de sua proteção e orientação, de seu amor, rumamos confiantes. Aprendemos a conduzir nossas pescas, a desbravar oceanos sem o medo, fortalecidos em nosso crescimento, aptos a encarar os desafios propostos pela vida.

Estrear do outro lado, num primeiro Dia dos Pais, é glória repleta de pesada responsabilidade. Pesada e deliciosa! Perceber a atenção da pequena vida, sedenta de sua presença e carinho, conhecedora de seu cheiro e sua voz, enternece até o impávido colosso.

De filho a pai, resgatamos inúmeras lições e exemplos. Desejamos fazer jus a todo esforço dedicado por estes corações valiosos, e nos mostrar à altura. Tentativa de retribuição: procurar ser tão pai quanto o nosso foi, com toda ternura e amor. No mínimo...

A todos nós, que sejam sempre felizes dias dos pais!

sábado, 9 de agosto de 2008

Feudalismo

E por falar em modernização...

Feudos surgem novamente! Ao menos um novo exemplar na cidade de São Paulo. O nome Shopping Cidade Jardim encobre o vulto do empreendimento, confundido com apenas um local de comércio.

O feudalismo morava apenas nas aulas de história. Pairava num passado distante, em mundos de reis e cavaleiros. Senhores feudais ostentavam seu poder e protegiam o povo a seu redor, com os devidos tributos e direitos.

Apesar de falar do empreendimento não deixar de ser uma propaganda, não consigo deixar passar. Protegidos atrás de seus muros estão unidades residenciais, escritórios comerciais, restaurantes refinados, além das lojas. Um mundo encerrado atrás de pesadas paredes de concreto.

A empreitada, tema da reportagem da revista Época São Paulo, de julho, conta inúmeras opções para quem desejar se enclausurar em meio à cidade, com todo o conforto e segurança típicos da neurose das grandes metrópoles contemporâneas.

Claro que não é para poucos... O shopping tem, por exemplo, a primeira loja da Daslu deste tipo. Dentre as residências, há unidades de 1.800 m2, com preços em torno de R$ 18 milhões, ou R$ 10 mil o metro quadrado! Podemos imaginar as grandezas para adquirir uma unidade comercial...

Diferente dos feudos do passado, agora diversos senhores se unem e se colocam entre muros. Trazem ao seu redor, como antigamente, suas necessidades para levar uma vida confortável. Só não garantem a moradia a seus vassalos, pois a modernidade lhes permite contratar apenas por salário e carteira assinada.

Ninguém está questionando o mérito das pessoas capazes de bancar os custos do local. Empresários de sucesso ou abastados brasileiros tradicionais, dedicados a seus vultosos negócios, que lhes rendem o suficiente para tanto. O duro é a lógica da estrutura formada.

Como bem lembrou uma colega de trabalho, por qual motivo um pedaço de solo da cidade, que a fim e a termo é o que se resume um imóvel, pode custar 20 vezes mais do que outro, a poucos quilômetros de distância? Qual a coerência de tamanha valorização?

Enquanto os habitantes continuarem sua cruzada, no erguimento de muros e separações, jamais veremos um local melhor para todos, mais humano e feliz. Pior... Certamente os muros terão de continuar crescendo, num ciclo sem fim. No caso deles, devem considerar ter um bom fosso circundando suas muralhas: o rio Pinheiros. Triste condição!

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Acaso

Reféns do acaso, nem imaginamos quanto lhe devemos.

Anteontem reassisti "Match Point", de Woody Allen. Oportunidade excelente para relembrar, retornar a consciência, como gostam os americanos, "realize", a influência da sorte em nossos rumos.

Sorte sinônimo de destino. Comumente as pessoas associam sorte com boa sorte. Ledo engano, pois há tanto boa como má. Depende da perspectiva dada ao nosso destino.

Pensando bem, dentre 300 milhões de semelhantes, por acaso chegamos ao óvulo, mesmo acreditando ser por nossas excelentes qualidades genéticas.

Reunidas as boas condições, o acaso ainda determinará se nos fixaremos na parede do útero materno, ou não. Ato mais improvável do que pode sonhar nossa vã filosofia. E tudo isso no ínfimo tempo de início da vida...

Sonho dos profetas apocalípticos, um grande corpo celeste pode colidir com o planeta e causar grandes estragos? Gostaríamos que não, mas pra felicidade deles o acaso pode providenciar.

Na verdade, já providenciou, em 1908. Naquele ano, um grande objeto caiu na Sibéria, destruindo 2.000 km2 de floresta. O acaso ao menos providenciou uma área desabitada para o evento, mas seus efeitos foram sentidos em regiões muito distantes.

Como mencionado no próprio filme, um grande segredo na vida e estar ciente do poder do acaso. Controlamos ligeiramente os rumos, com pequenos toques para corrigir algumas trajetórias, mas o grande motor jamais será domado.

Conscientes de nossa mísera situação, seguimos. Que mais nos resta? A maravilha ocorre com a apreciação dos presentes enviados pelo acaso. Qualquer outra ocorrência é conseqüência... Controlar o tempo, a natureza, manipular a vida habita somente na casa dos deuses. Mas aí é outro caso...

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Filósofo

A filosofia vai onde o povo está!

De todos os lugares, quer melhor lugar do que um cemitério? Confrontar o destino final de todos, de vez em quando, supre nossos estímulos à reflexão.

Imaginem o confronto diário, então... É o caso do coveiro Osmayr, no Cemitério do Araçá. Adivinhem qual sua formação... Bacharel em Filosofia, pela Universidade Mackenzie.

Entre as minhas atualizações de leitura, do acúmulo pelo período de férias e pós-natal, encontrei a matéria sobre o inusitado personagem na revista Época São Paulo, do mês de julho.

Escolha acadêmica oportuna. Louvável seu esforço em procurar formação. Feliz a escolha, mesmo sem abandonar a profissão anterior. Aliás, abandoná-la para que? Provocaria a perda irreparável de material de estudo.

Cotidianamente ele é compelido a observar a natureza humana em seus momentos mais difíceis. Quem sabe por isso possa se tornar mais insensível. Talvez isso o transformou num cético, feito o alemão Kant, como ele mesmo afirma.

Ciente de sua condição, aprimorada por seus exercícios, revela notável profissionalismo em sua atuação. Em suas próprias palavras, "não pode estar tão presente de modo que a atenção se volte para ele. Também não posso se mostrar tão ausente de modo que não se perceba o que está fazendo. Pois o ato de sepultar, no Ocidente, é um ato importante, é um ato de misericórdia. Como diz a Bíblia, é necessário devolver o corpo ao Senhor".

Humano, não deixa de citar Machado de Assis para confirmar a opinião popular: "basta morrer para ficar bonzinho". Mais humano ainda, confessa a emoção do dia em que uma criança lhe pediu de volta o pai a ser sepultado. As lágrimas da pequena molharam as costas de sua camisa e encharcaram de comiseração sua alma. Chorou alto naquele dia.

Caldo da cultura de uma metrópole, o coveiro filósofo expressa e convive com as angústias mundanas. Conduz corpos ao sepulcro e almas ao reino do pensamento. Manipula o concreto e o imaterial no mesmo instante. Produz o movimento no manto do fluxo etéreo da existência. Ah, dona filosofia...

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Ligação

Misteriosas essas ligações humanas.

Esqueci quando foi a primeira vez que ouvi sobre a Teoria dos Seis Graus de Separação. Provavelmente, nos primórdios da rede social do Orkut.

Nos idos de 2004, a irmã de um amigo, por sinal muito bem relacionada, me enviou um convite para o cadastro no site. Efeito evidente das tais ligações...

Naquela época, foi muito divulgado o assunto, como motivação para o autor, o tal Orkut, ter criado o serviço. Pretendia assim avaliar a validade da teoria.

Inicialmente, o serviço apresentava nossa rede de contatos com seis graus de relações. Com o aumento do número de usuários, a formação dessa rede ganhou complexidade e peso de processamento suficiente para ficar inviável. Passaram a apresentar apenas dois graus, o conhecido título dos "amigos dos amigos" apenas.

Teorias formuladas em sentenças negativas necessitam de apenas uma evidência a corroborá-la para se verificar seu acerto. Já teorias afirmativas, universais, como a dos "seis graus", exigem trabalho muito mais árduo. Ainda assim, basta um único contra-exemplo para contestá-la.

A teoria em questão afirma que bastam seis laços de amizade para quaisquer duas pessoas estejam conectadas pelo mundo. Elaborada em meados dos anos 60, por Stanley Milgram, percorreu décadas sem comprovação definitiva e com diversos questionamentos, referentes ao método científico.

Teorias acadêmicas, anos de persistência, redes sociais digitais e chegou a popularidade suficiente para ser tema de uma série de TV. Como o óbvio nome "Seis Graus de Separação", usará a teoria como insumo para construção de seu enredo.

Ontem, após a chamada comercial para a série, fiquei refletindo da concordância da teoria com minha experiência pessoal. Rapidamente lembrei que minha esposa tem uma paciente, conhecida de uma repórter da Globo, enviada para trabalhar na China. Pronto, estava conectado ao Oriente.

Um amigo (o da irmã bem relacionada) conhece um jornalista polonês. Bastaram três graus e cheguei ao Leste Europeu. Outra amiga foi estudar arte na Itália, se casou com um italiano e lá estava eu em contato com o continente de meus antepassados.

Anteontem, o pessoal da Microsoft divulgou o resultado de uma pesquisa em seus laboratórios. Usando a informação de 180 milhões de usuários do MSN, avaliou o grau de separação das pessoas. Conclui que em 79% dos casos são suficientes 6,2 graus para conectar qualquer um!

O feito revela a relevância da teoria, mas também derruba sua universalidade. Em alguns casos foram necessário 29 graus para a conexão. A comprovação do fato, mesmo em parte, demonstra a característica gregária da sociedade humana. Gostemos ou não, estamos inevitavelmente conectados.

A coincidência da conexão de tantas sinapses, nestes últimos dias, é uma outra ligação misteriosa a investigar...

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Esfera

Se ainda fosse no país do futebol...

Semana passada, em outra divulgação de projetos de sua iniciativa Surface, a Microsoft apresentou um computador com interface esférica! Mas por que redonda?

O vídeo de sua apresentação está disponível na rede, mas as justificativas de seu uso giram em torno de apresentações de mapas geográficos, explicações sobre o planeta ou demonstração de fenômenos naturais.

Interfaces planas, em formato de mesa, parecem mais adequadas. Imaginar o ambiente de trabalho virtual, disponível ao toque, concretiza sonhos dos trabalhadores digitais. Maneira mais natural de lidar com nossos instrumentos feitos de bits.

Esferas remetem a outras idéias... Prato cheio para quem gosta de previsões da área de TI, em momentos de pane. Finalmente poderemos dizer que nossa bola de cristal está sem pilhas! Ou talvez sem energia, mas a tal bola estará lá. Renasceremos como ciganas digitais.

Na célebre versão cinematográfica de "O Mágico de Oz" havia algo de profético. Dorothy a bruxa através de um globo. Algo como acessar o Google Maps, com alguma solução de localização de pessoas, através da novidade da Microsoft.

Refilmaremos o clássico "O Grande Ditador", de Charles Chaplin. O balé do conquistador, brincando com o globo do mundo será trocado por um encadeado bailar com um computador esférico, mais adequado ao mundo da informação. Dominar o mundo através da computação!

Hércules renovado posará também com um deles, para esculpirmos sua nova estátua, ícone de sua força. Carregar o peso da informação mundial... Décimo terceiro trabalho, possível apenas para um deus olímpico.

Amplamente difundido talvez o formato não seja. Principalmente em tempos nos quais a indústria de tecnologia se concentra nas quatro telas de interface: TV, computador, celular e PDAs. Distantes estão as imagens de geladeiras e armários com monitores integrados...

De qualquer forma, explorar novas idéias sempre é necessário. Do exercício das conexões neurais surge a mudança e a inovação. Para os detratores da gigante do software, ainda assim acharão que o império do mal lançou sua nova "esfera da morte".

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Doha

Oito anos e as cortinas do espetáculo se fecham...

Quem inventou essa história de globalização foram eles, os ditos desenvolvidos, na procura de estender seus tentáculos pelos mercados mundiais.

Imaginavam ser a melhor maneira de continuar seu desenvolvimento, sua expansão. Mas o mundo mudou e outros se alçaram a condição de desenvolvimento. Desejaram também sua fatia...

Na hora da verdade, muitas barreiras foram criadas e o impasse estava criado. Em 2001, na cidade de Doha, se iniciou uma longa jornada de negociações para tentar facilitar o comércio mundial.

Entre o discurso e ação, a tentativa dos antigos promotores do livre comércio universal era mostrar boa vontade e complacência, mas sem perder a posição privilegiada, mesmo que insustentável.

Daqueles tempos iniciais, a reviravolta no cenário planetário foi das mais intensas de nossa história. Os jogadores da partida se distinguiram e conquistaram relevância e poder nunca antes imaginados. Basta ver as condições lá, e cá, de nações como a China e Índia.

Na semana passada, em Genebra, a última das rodadas (e se nada mudar a derradeira) deixou claro o fracasso das tentativas. Os principais detentores de poder estão resolutos em negar qualquer cessão. Continuarão com suas políticas, entraves a maiores liberalizações do comércio internacional aberto.

Interessante notar que tais políticas nem dizem mais respeito a tarifas alfandegárias restritivas, algo imaginado em inocente visão da política. Sua forma de intervir se baseia em pesados subsídios, por exemplo, agrícolas, para manter seus produtores ativos e imbatíveis.

Subsídios financiados pelo poder econômico que alteram o balanço da oferta e procura, e provocam a desestabilização do fluxo comercial mundial. Qual será a influência desse fenômeno nas atuais crises financeiras e alimentícias globais? Quem está pagando o preço de quem?

Ao saírem de cena, deixam um verdadeiro ringue de derrotas. Cena mais adequada do que o palco teatral, condizente com a palavra usada para "rodada" nos reinos do Tio Sam e da rainha-mãe: round. Agora, entre embates menores, talvez dois a dois, a "luta" continuará para nós expandirmos nosso comércio por paragens mais distantes.

domingo, 3 de agosto de 2008

Desequilíbrio

Como entender um mundo em que há carestia e epidemia de obesidade?

Observamos através da mídia, pelo mundo, o grave problema da produção de distribuição de alimentos. Questão crescente, temos dificuldade de enxergar o fim do túnel.

Aumento de demanda? Mudanças climáticas? Concentração de renda? Possivelmente, a conjunção destes fatores leve ao desfecho assistido por todos nós.

Por outro lado, mesmo no Brasil, nem um pouco menos afetado pela fome, há um alto índice de pessoas acima do peso. Bom sinal de fartura, dos bons ventos vividos pelo país? Ou reflexo da má distribuição de elemento tão prolífero em nossa terra: comida.

Maslow, em sua proposta da hierarquia das necessidades, aponta as fisiológicas como primordiais. Quem tem fome ou sede jamais terá condições de suprir outras necessidades humanas.

Podemos dispensar muitas regalias de nosso cotidiano, mas pão e água, ao menos, são indispensáveis. Temos curtos prazos para suprir tais demandas... Como tantos conseguem sobreviver com tão pouco, por tanto tempo? Distantes de subsistência ou de sobrevivência, se assemelham muito mais detentores de sobrevida...

Injusta sensação de desequilíbrio. Causadora de verdadeira fome e sede de justiça. Atropeladas os ritmos da fisiologia do corpo, é a "fisiologia"da alma que acaba por ser atingida. A negação de preceitos essencialmente básicos desfoca a imagem do irmão presente no outro.

Com tantas soluções no planeta, muitas oriundas do farto e promissor mundo do agronegócio, há de existir alternativa para equilibrar a situação. Uma solução conciliadora das necessidades comerciais e humanas dos envolvidos, fornecedora de condições para a boa e igualitária distribuição de recursos.

No cerne de nossa natureza há o bem indispensável para enfrentar tamanho desafio. Bem duradouro e indiscriminadamente disponível. Capaz das maiores conciliações e concessões. Dom gratuito da providência: o amor humano.

sábado, 2 de agosto de 2008

Cuil

Desafiar sempre vale a pena.

Lançada com toda pompa e circunstância, no final do mês de julho, uma nova ferramenta de busca chamada Cuil vêm para enfrentar o gigante Google.

Criada por ex-funcionários do adversário, promete aprimorar os resultados de pesquisas realizadas, uma vez que, segundo eles, o já antigo número um não vem cumprindo a tarefa adequadamente.

Deixemos bem claro que o desafio é apenas na área de pesquisas. O Google também começou por lá, mas hoje a empresa apresenta uma miríade de soluções on-line de porte, possivelmente jamais oferecida por qualquer outra.

O novo desafiante promete acompanhar a vertiginosa evolução da Internet. Para isso, mais do que contar com clusters gigantescos, fazendas de servidores a perder de vista, eles dizem possuir um mecanismo de indexação revolucionário, baseado na relação entre palavras dentro de um mesmo texto.

Quando realizamos uma pesquisa, a página de resultados é bem interessante. Muito além do espartano estilo do concorrente, são apresentados diferentes contextos da informação. Entre páginas diretas e grupos de dados, a impressão é de um serviço mais refinado na seleção.

Batizado com uma palavra do irlandês antigo, seu nome chama atenção por significar "conhecimento"! Reside nesse, e em outros pontos, uma desagradável prepotência de seus criadores. Pode ser só marketing, mas eles se intitulam "a maior ferramenta de buscas do mundo", seja lá o que isso significa...

Apesar de todo "conhecimento", pesquisas feitas em português, por exemplo, ainda apresentam resultados estranhos, fora quando excluem nomes conhecidos de nosso meio, como se inexistissem na grande rede. Talvez seja apenas efeito da juventude do sistema.

Pesa também sobre eles essa história de todos serem ex-Googles. Como bem pontuou um amigo de trabalho meu, quem garante essa empreitada não ser uma jogada do próprio desafiado? Em sua condição hegemônica, poderia tentar dar uma temperada no mercado, para ele não terminar insosso.

A nós, pobres mortais, só nos resta observar e usar. De repente, temos em mãos uma nova etapa na evolução do acesso a Web. Qualquer coisa, além disso, ficará na mera especulação. O conhecimento a respeito disso só eles mesmo é que têm... No mínimo, é um desafio à investigação.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Bate-estacas

Bate-estacas pode salvar vidas!

Apesar de toda sua importância na construção civil, não me refiro ao equipamento. Por sinal, é curioso como mesmo com todo desenvolvimento tecnológico, ainda precisamos de um martelo gigante, para enterrar enormes vigas metálicas.

Responsáveis pela nobre missão são os caras da música eletrônica, conhecida por muitos como bate-estaca. A diversidade de estilos do mundo das baladas nem justifica mais um único nome, mas ainda é forte a denominação.

Conscientizar jovens pelo mundo, financiados com recursos captados em festas com DJs, é a proposta do projeto Dance4Life. Através da linguagem conhecida pela moçada, se espera atingi-los mais facilmente.

DJ Tiësto é o embaixador internacional do projeto. Iniciada em 2003, a empreitada já arrecadou através de seus eventos algo em torno de 3 milhões de euros. Os recursos arrecadados, na agitação das baladas, podem render excelentes frutos.

School4Life é um de seus programas, a receber parte do dinheiro captado. Ele procura mostrar a alunos de escolas como se proteger da AIDS. Faz isso através de workshops sobre prevenção da doença, educação sexual, dependência física de remédios e direitos do portador do vírus HIV.

Para marcar, há uma música / dança tema de campanha, com versos que pretendem fixar as idéias transmitidas. Seu nome é "The Drill". Dizem que qualquer um pode aprender. Querendo tentar, basta assistir o vídeo disponível no site.

Projetos e ações parceiras são inúmeros. Com a lista publicada, vemos o quanto a influência do movimento se espalha. Apóia a balada do bem até a conhecida fabricante de preservativos, Durex (se bem que, em seu caso, o interesse econômico pode acabar em conflito com a causa).

A turma das estacas vai assim fincando sólidas bases para conscientização da juventude. É um bom exemplo de que para fazer o bem, não importa a idade, tipo de música ou lugar do mundo. Basta ter boa vontade e boas idéias, continuamente marteladas.