quarta-feira, 30 de abril de 2008

Cobaia

Pobres heróis humanos, salvadores da humanidade, as cobaias merecem discussão de sua situação.

Que direitos temos sobre a vida de outros seres vivos? Há critérios de valores para definir quais fins justificam seu sacrifício? Quais são os pesos na decisão de qual vida vale mais?

Em alguma época, a humanidade percebeu que os diferentes gêneros sexuais, guardadas suas idiossincrasias, pertenciam ao mesmo grupo. Homem e mulher ganharam igualdades, mesmo que ainda faltem muitas.

Muitos momentos depois, em nossa história, chegamos à percepção da igualdade entre grupos. Povos estrangeiros deixaram de ser tão estranhos. A humanidade recebeu um escopo imenso. Alguns povos ainda não compreenderam plenamente, mas participamos de mesma extensa aldeia global.

Já há bom tempo, estendemos nossa noção de direitos a todo tipo de vida. Plantas e animais reconhecidos em nossa semelhança de seres vivos pertencentes à mesma natureza. A vida igualmente distribuída entre todos participantes da grande criação natural.

Devemos uma parcela enorme do desenvolvimento de tecnologias médicas e remédios às pequenas e grandes cobaias utilizadas em experimentos. Seu sacrifício poupou o sacrifício de milhares de vidas humanas, no embate contra (ou com) as regras da natureza.

Causa nobre na teia da vida. Cadeia alimentar dificilmente é discutida. Parte de nós até discute, mas em intensidade bem menor. Ampliamos a visão de poder sobre outras vidas para sua utilização como peões na frente de combate. Reis também fazem isso entre nós...

A indústria de cosméticos não se fez de rogada. Também incluiu em seus procedimentos a exposição de cobaias. Comércio da beleza, intensamente perpetuada em tempos atuais, pratica experimentação em animais para manter a segurança de nossas efemeridades.

Várias alternativas têm sido desenvolvidas. Até cobaias de PVC! São soluções inteligentes, apesar de limitadas. Precisamos continuar em busca do equilíbrio e sensatez. Buscar desenvolver consciência ética para lidar com a vida em todas as suas manifestações.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Seguro

Terá o seguro morrido de velho?

No âmbito da segurança de software ele vem se tornando objeto folclórico. A guerra entre usuários e atacantes, dos mais variados, ganhou ritmos e contornos insensatos.

Sempre foi preocupação constante, para os avisados, manter atualizações de sistema e antivírus em dia. Garantia de menores dores de cabeça, bastava a disciplina rígida e a escolha de bons fornecedores.

Os antivírus estão no fim de sua existência. Opinião da empresa Panda, importante fornecedor de soluções de segurança, demonstra o sentimento de inutilidade das abordagens tradicionais.

A quantidade de falhas em sistemas, novos ou não, daria conteúdo suficiente para uma publicação exclusiva. Enquanto falhas deveriam ser exceção, parecemos viver tempos de regra.

Por um lado, o ritmo imposto à produção de softwares, independentemente do cuidado dedicado ao processo, produz uma inevitável quantidade de problemas. De outro, o imenso número de usuários e a ampliação do acesso digital, contribui com o aumento da atenção.

Talvez os problemas existissem, anteriormente, mas nem os percebíamos. Percepção aumentada, ou não, a sensação de insegurança é maior. Com a ubiqüidade da tecnologia da informação, considerável parte de nossa vida está em risco!

Em mares incertos, qual a melhor conduta? Alguns especialistas recomendam neurose total. Desconfiar de tudo e de todos. Seguir essa recomendação acarreta em conclusão jocosa: o único computador total seguro é o desligado. Isso se não o roubarem... :)

Adoradores de teorias de conspiração acreditam serem os riscos produzidos pelos fornecedores de proteção. Gerar a necessidade para oferecer a solução. Será preciso tanto esforço em um universo de tantas mentes criativas e destrutivas?

Atenção, mais uma vez, é a melhor saída. Onde estamos, o que usamos, como transmitimos... É inútil arrancar os cabelos. Até no universo de zeros e uns, com tanta exatidão e certeza, em parte ainda, o futuro a Deus pertence.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Idosos

Experiência de vida deveria ser mais valorizada.

É intrigante o crescente descaso com as pessoas na terceira idade. Nem mesmo as graciosas atribuições "Feliz Idade" ou "Melhor Idade" são capazes de contribuir para uma melhora.

Curiosamente, todos temos ternas memórias de pessoas idosas (pelo menos espero e acredito nisso). Quem de nós, da penúltima geração, não guarda a carinhosa imagem da Dona Benta?

Monteiro Lobato provavelmente teve semelhante maravilhosa minha oportunidade de ser acolhido no colo da avó. Emanação contínua de ternura, concebível somente pela dupla jornada de maternidade.

Desafortunadamente, os humanos tendem a desprezar o comum, o acessível, o corriqueiro. Em nosso passado remoto, a expectativa de vida era muito pequena. Existir era necessário apenas até cumprir sua função reprodutiva. Duas décadas eram mais do que suficiente.

Em passado não tão remoto, a expectativa pouco evolui. Considerando o aumento de pouco mais de uma década, a vida até o século XIX ainda era muito dura. O último século representou grande evolução no prolongamento de nossa existência.

Dessa forma, anteriormente pessoas com idade avançada eram casos raros. Motivo de admiração e mistério. Ganhavam ares de efeito divino. Terminavam responsáveis pela transmissão de conhecimento. Guardiães da cultura humana e de nossa sabedoria.

Pessoas centenárias são atualmente casos não tão raros. Até o Brasil já contabiliza um considerável número dessa parcela da população, cerca de 15.000 indivíduos. Os idosos, mais presentes e comuns, passam a perder prestígio. Erro incomensurável e fatídico.

Nem todos somos sábios, mas todos representamos uma célula indispensável do organismo humanidade. No mínimo, aos mais céticos, vale a lembrança da Teoria do Caos. Se chegamos aqui, foi com a pequena contribuição de todos. Imagine a contribuição de alguém com longa experiência de vida.

Numa realidade mais dura, nossos idosos contribuem até mais do que se imagina. Pais trabalham, enquanto avós cuidam. Muitas famílias dependem das parcas aposentadorias dos mais velhos na formação de sua renda mensal. Mesmo assim idosos continuam com aura de estorvo...

Reverter tal situação é inevitável. Ação paulatina e essencial. A grande tribo global precisa acolher seus anciãos, pilares da gigante família humana.

domingo, 27 de abril de 2008

Alimento

Carência alimentar mundial é assunto premente.

Como é possível, com nossas imensas áreas de plantio, com toda tecnologia agropecuária existente, estarmos inaptos a atender a demanda da população global por alimentos?

Se cada pessoa plantasse para si, cultivasse a agricultura familiar, conseguiria sucesso. Especializamos o mundo, se não planto, para desempenhar outra função, outras pessoas assumiram a execução do plantio e trocamos nosso trabalho.

Unimo-nos para condições melhores. Ao menos essa foi a história vendida. Qual será a desculpa pela falta para alguns? Eles não têm o que trocar? Deixar de se preocupar e ficar a míngua? Ou não lhes foram dadas condições para participar? Ou pior, talvez lhes foram retiradas?

A culpa pode ser do Esopo. Em sua fábula "A cigarra e a formiga", nos foi apresentada a idéia do destino de alguns por simples desleixo. As formiguinhas trabalhadoras, submissas ao seu destino, operárias massificadas, ao menos não têm falta de nada no inverno. Em muitos comentários sobre a questão alimentar, há certo resquício de observação da falta de previdência.

Diversas são as notícias de produtores dispensando parte da colheita para regular preço. Dispensar nesses casos não significa distribuir, mas enterrar! Inutilizar ou guardar até o preço ser convidativo, ou suas "margens" estarem garantidas.

Maslow colocou a fisiologia como necessidade básica, primordial. Nada mais óbvio. Como alguém com fome pode pensar em qualquer outro objetivo diferente de sua sustentabilidade imediata. Ideologias à parte, o sucesso do programa "Fome Zero" era inevitável. Nem que fosse pela escolha do nome...

Com outros nomes, iniciativas como os "Amigos do Bem" cultivam o mesmo objetivo. Socorrer os mais necessitados, nos mais distantes rincões do país. Fazem mais diferença por, além de comida, proverem condições de continuidade e independência.

Santo Afonso também entendia muito bem do assunto. A Congregação do Santíssimo Redentor, querida por todo Brasil, foi formada fundamentalmente para a pregação de missões populares e ao atendimento dos mais desfavorecidos. Todos ordenados têm voto de pobreza e humildade, mas sempre têm boas condições de vida, afinal como pode um faminto auxiliar outro a se levantar?

Desconfio que outra carência alimentar precede a em discussão. Tem faltado mais alimento para a alma. A alma desnutrida enfraquece a visão humana das pessoas. Desumaniza. Enquanto a alma continuar enfraquecida, milhões de almas continuarão fisicamente desnutridas.

sábado, 26 de abril de 2008

Lar

Um lar não é feito de cimento e vigas.Lares são construídos com memórias e momentos.

Cada sentimento colecionado, cada lembrança vivida, forma um tijolinho nos pedaços de nossa alma e coração. Dorothy sabia seu significado...

Desmontados os móveis, retirados os quadros, guardados os pertences, sobra algumas paredes vazias, sem referências ao passado. Mais algum tempo e a tinta cobrirá algumas marcas...

Observar a empresa de mudança colocar tudo colecionado ao longo de um tempo, colecionado pela força do hábito humano de juntar itens em seu ninho, guarda certo desnudamento, uma sensação de revelação forçada.

Pessoas desconhecidas, revirando os recantos de sua vida, recantos de enfeites, livros, roupas, mantimentos. A observação imóvel revela um sem-número de esquecimentos, propositais ou não, pequenos objetos largados em um canto, muitos vestígios de uma vida.

E a pilha de caixas só aumenta. Identificadas, ganham identificação pouco reveladora. Qual o significado de quarto? Cozinha? Louças - Sala? Distantes denominações de seus reais significados, de suas histórias.

Onde estarei após algum tempo? Móveis embalados, semelhantes a um grande depósito de lojas. Algumas horas de serviço e nossa antiga casa se torna um amontoado de papelão, plástico-bolha e muita fita adesiva. Fora o pó surgido Deus sabe de onde...

O olhar desolado ensina um pouco. Aprendemos a lição já sabida. Que são uns poucos pedaços de matéria? Nada. Aprendizado forçado. Ainda assim, forma mais afortunada, muito melhor do quem perde tudo em uma fatalidade, para aprender do mesmo jeito. A vida intensamente vivida jamais será perdida.

Rapidamente o novo local vai se formando. As antigas coisas em novos lugares pouco representam. As pessoas a se oferecer, para ajudar na organização, na limpeza, começam uma nova história. União em torno do novo esforço. Comemoração de boas-vindas, com muito trabalho!

E as novas lembranças começam a se formar... Momentos de confraternização, de vinculação e acolhimento. Novos dias, novas risadas, novos diários: novo lar! Energia renovada e fortificante. Uns dias de pouco sono, bastante cansaço, mas muita alegria.

Nosso lar se moveu conosco. Sempre esteve cravado em nossos corações, muito bem fundado. Aos familiares e amigos, imbuídos nessa nossa metamorfose geográfica, abro meu coração, lar eterno de todos vocês para a reinauguração: sejam bem-vindos!

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Umbilical

Decisões por um fio são angustiantes.

Fio condutor da vida, conexão primordial de nossa existência, o cordão umbilical é fonte de importante reflexão. Em verdade, mais precisamente o seu congelamento é tema de preocupação com a chegada de um filho.

Marca indelével da natureza humana, vem se mostrando fonte de alternativas para terapias de saúde. Ao menos é a informação propagada pelos bancos privados de armazenamento.

Ao buscar conhecer o local para um possível parto, os pais são apresentados a essa alternativa moderna. Questionável abordagem, a ANVISA e o Ministério da Saúde põem atualmente em questão a ética e a forma de tal propaganda.

Das miríades prometidas, com linguagem pouco acessível, a busca em diversas fontes corrobora apenas a utilidade em tratamentos para leucemia e doenças relativas ao sangue.

Dúvidas surgem aos montes... Congelar ou não? Garantia futura ou não? E se não o fizer? A tecnologia evoluirá? Outras tecnologias surgiram? Teremos condições de arcar com a manutenção?

Outro ponto relevante é a existência dos bancos públicos de armazenamento (BSCUP). A concepção é a mesma dos bancos de sangue: repositórios de material disponível para toda a população, com diretrizes para o bem público. Ponto muito bem esta questão Nelson Hamerschlak, no artigo "Cordão umbilical: congelar para quem?".

Entre as diversas limitações, há a limitação financeira. O procedimento está longe de ser barato. Mas, para a vida de um filho, dinheiro não é problema, certo? Pois eis o apelo... Mal comparando, é o mesmo tipo de sinuca vivida em momentos de morte, ao procurar conceder um funeral digno a um parente.

Há pelo menos uma questão ética também. Congelar com exclusividade para um indivíduo, com viabilidades limitadas de utilização, ou doar para instituições públicas, com perspectivas de melhor aproveitamento?

Nas questões de relação com a vida, é bom ter cautela para não acabar olhando apenas para o próprio umbigo. Dilema imposto pela colocação de alternativas de vida de um filho por um fio.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Pateta

Irracionalidade nos habita a espreita do momento para se manifestar.

Transitar pelas ruas de São Paulo, com um automóvel, perdeu há muito tempo o sentido de transitar. Não há mais horário calmo. Raros são os momentos de tranqüilidade ou previsibilidade.

Sou usuário antigo do sistema de transporte público. Facilidade para quem sempre morou ao lado de uma estação do Metrô. Para os demais desafortunados, habitantes dessa megalópole, resta muitas vezes utilizar um veículo próprio.

É sofrível. Coisa mínima a se mencionar. Em poucas vezes, de rara necessidade, vivenciei o caos dos horários de pico, dentro de um carro. Como é possível suportar? Percebo que as pessoas vão se martirizando e acostumam. Acham normal desperdiçar muitas horas de suas vidas apenas em locomoção.

Fenômeno mundial, o caos do trânsito provoca as mais diversas reações nas pessoas. O comportamento alterado, ou a relação humana com esse desafio, já ganhou definição: road rage. Um das causas é a tensão entre a expectativa de velocidade do motorista e os índices obtidos com as condições oferecidas.

Lembro muito de um episódio do desenho do Pateta... Um cidadão pacato e "normal" assume papel transtornado ao assumir o volante para seu cotidiano em meio ao trânsito. Alterego de muitos ditos humanos, rimos de suas peripécias para não chorar.

Alguns xingamentos aqui, outras aceleradas ali, e a tensão se avoluma. Qualquer indivíduo está exposto e sujeito. Seja por puro envolvimento, ou por total angústia pela falta de poder frente ao problema, a intolerância e o destempero nos tomam completamente.

E assim seguimos em nossa raiva rodoviária. O estudo da road rage conta até com questionário de avaliação, para identificação do estado de cada pessoa. Na opinião de algumas pessoas, a questão atingiu importância de saúde pública.

Já se vão mais de 50 anos, que Disney parodiou tão magnificamente a situação. Premonição, vidência ou análise? Os inúmeros patetas que se cuidem, senão acabam imobilizados em seus automóveis.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Abalo

Eaaaaartthhhhhhhquaaake!

Inúmeras vezes fiz graça com o grito de alerta dos filmes americanos e, no caso dos mais antigos, com sua fake simulação do balanço sentido. A natureza não deixa barato...

Ontem à noite, pude sentir, como boa parte dos habitantes de São Paulo, os efeitos de um abalo sísmico de verdade. Tivemos o "privilégio" de observar um dos 10 maiores da história do país.

Eu estava deitado no chão, assistindo TV, e sentido meu corpo balançar. Achei que algo errado ocorria comigo... Olhei para o notebook, em cima da mesa, e observei seu monitor chacoalhar intensamente.

Levantei e senti total falta de equilíbrio. Ainda não tinha me dado conta do que estava a ocorrer. Ouvi o sininho de vento, pendurado na área de serviço. Fui até lá e pude vê-lo oscilar num ângulo de mais de 45 graus.

Voltei à sala, abri a janela, e o bairro inteiro repousava em paz. Também, o que será que eu esperava ver? Discos voadores chegando? Um meteoro em meio a uma enorme cratera? Isso deve ser muita influência de Hollywood.

Para confirmar minha sanidade, voltei à área de serviço e parei o pêndulo do sino de vento. Ao soltá-lo, ele voltou a oscilar com a mesma intensidade. Devo ter entrado em pânico! Mil idéias e imagens se passaram em minha cabeça. O que fazer?

Esposa no banho, grávida de 8 meses. Onze andares acima do solo. Saída recomendável em emergências, apenas a escada. Ao retornar a sala, as cortinas balançavam tanto quanto o pêndulo. Hesitei, resolvi não alertar minha esposa, e decidi aguardar o término do evento. Fosse qual fosse...

Finalmente o mundo parou. Novamente. Tudo como antes. Já havia procurado na Internet, mas a informação não é tão instantânea. Uns quinze minutos depois começaram a pipocar as notícias explicando o fenômeno. Abalo de 5,2 na escala Richter, com epicentro no mar de São Vicente.

Vivi quase a vida toda em apartamentos. Já presenciei abalos e tremores. Por sinal, no meu apartamento de infância a linha férrea em seus fundos o fazem tremer constante. Ontem foi a primeira vez que me senti inseguro.

A oscilação certamente foi de poucos milímetros. O problema é estarmos acostumados à completa estabilidade de nosso chão. Nosso organismo e sistema vestibular nos dão uma sensação de constância eterna.

Pequenos abalos são bons perturbadores de nosso sossego. Só para lembrarmos a efemeridade de nossa existência!

terça-feira, 22 de abril de 2008

Absoluto

Prodígios naturais causam espanto e mistério.

O aparelho auditivo humano (e de muitos animais também) é engenho de inigualável engenharia. Justificaria a existência de um arquiteto superior...

Amplificar os menores estímulos sonoros ambientais, transformando-os em sons claros e distintos, através de um conjunto mecânico especialíssimo, é feito de difícil reprodução, mesmo com nossa avançada tecnologia.

Muita física está envolvida no arranjo dos três pequeninos ossinhos: martelo, bigorna e estribo. Azeitado conjunto, célebre nas aulas de ciência na escola, rara é nossa mecânica fina capaz de reproduzi-los.

Raridade igual, e espanto proporcional, é causado pelo fenômeno do "Ouvido Absoluto". Por diversas vezes ouvi sua menção, com pequena explicação sobre o fato, causando grande curiosidade. Como exatamente se dá, ou é, essa história de reconhecimento absoluto de sons?

Atribuem a diversos fatores, mas é mais fácil aceitar ser produto genético. Haja esforço para praticar um dom quase sobrenatural. Há habilidades tão longe da normalidade que só na mitologia grega um humano comum poderia adquiri-la, com uma mãozinha dos deuses.

Recentemente, li uma descrição esclarecedora sobre tal habilidade. Oliver Sacks fez um paralelo com nosso reconhecimento de cores. Quando somos apresentados a uma cor, isolada, não precisamos de comparação com outra para reconhecê-la. Azul é azul, vermelho é vermelho, verde é verde (mesmo com divergências entre duas pessoas :)).

Os agraciados com o tal ouvido especial tem a mesma distinção dos sons. Não precisam de um padrão de referência para definir qual nota ouviram. São comuns comentários dessas habilidosas pessoas como: "fulano assua o nariz em Dó", "a máquina range em Fá", "o vento está assoviando em Ré"!

Para alguns dessa categoria, fica difícil ouvir música sem excelente afinação. Soaria completamente irregular... Eis uma boa forma de compreender a estridente relação de João Gilberto com a acústica do local de suas apresentações, pois ele é possuidor do tal ouvido.

Compreender um pouquinho mais este tipo de audição, com a comparação de nossa visão, fomenta reflexões sobre nossa percepção do mundo. Nunca havia pensado que temos "olhos absolutos". O prodigioso passa despercebido quando se torna corriqueiro, disponível a todos.

Sentidos aguçados são presentes da natureza. Isso não é desculpa para deixarmos de aprimorar nossos sentidos, principalmente os do espírito questionador.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Senso

Senso, bom ou ruim, comum ou não, está sempre à nossa volta.

Sábado fomos comer um sanduíche, em um restaurante próximo. Era a terceira visita, apesar das duas anteriores terem tido seu grau de insucesso.

Pedidos trocados, itens confundidos, confusões na cobrança. Foram ocasiões demais para considerarmos fatalidades. Só o misterioso mundo das memórias para justificar nossa recorrência.

Engano cometido, equívocos repetidos. No final, já quase de saída, um salvador! Um garçom, atento como poucos, terminou o atendimento com presteza, foi agradável e simpático, amenizando a situação.

Teve o bom senso de responder com agilidade, mostrando sua aptidão com o público. Exceção de um grupo sem muito treinamento e preparo. Esse sim um verdadeiro acaso. Ofereceu-nos até a cortesia do café... Gratuito!

Fez-me lembrar que, num passado não muito distante, cerca de 10 anos ou pouco mais, cafezinho era cortesia no final da refeição. Um belo dia, começamos a perceber a cobrança do tão agradável cafezinho em nossas contas. Aos poucos nos acostumamos...

Há bem menos tempo, em uma padaria de almoço cotidiano, fomos agraciados com a cobrança de limão e gelo, para uma Coca-Cola. Exatos R$ 0,30 e R$ 0,10, respectivamente. Logo concluímos: indelicadezas de um proprietário mesquinho! O almoço custa muito mais do que alguns centavos.

Para nossa infeliz surpresa, nas últimas duas semanas, fomos cobrados em outros dois estabelecimentos, por gelo e rodelas de limão. A prática se propaga na esperança de aculturação sem protestos. As cobranças surgem sem cerimônias, onde antes não ocorriam.

Prova irrefutável da má preparação administrativa dos empresários brasileiros. Estão distantes de distinguir custos fixos de variáveis, ou saber avaliar sua margem de lucro ou sua taxa de retorno. Saberão pelo menos como está seu fluxo de caixa? Ou estou falando grego?

Com o andar da carruagem, em breve nossas contas incluirão luz, água e o décimo terceiro salário dos funcionários, proporcionais à permanência no estabelecimento, claro! Gentileza, então, só pagando.

domingo, 20 de abril de 2008

Angular

Construções carecem de bases sólidas.

Boas fundações garantem direção e alinhamento para todo o edifício. Escolhas corretas provêm a continuidade da edificação e sua solidez.

Decorre dessa necessidade a idéia de pedra angular. Principal pedra em uma construção, sustenta toda a estrutura. Sua importância era tamanha que construtores homenageavam soberanos inscrevendo seus nomes nelas.

Ser pedra angular é característica praticamente inata. Predisposição ou predestinação? É necessário assumir seu potencial e aceitar o pesado encargo de sê-la. A missão é árdua e essencial, fazendo raros os capazes a tanto.

Podemos não ser angulares, mas cada um de nós é elemento também essencial à obra. Apoiados na pedra angular, sustentamos cada qual seu pedacinho do esforço de manter a estabilidade do edifício. A união de pequenos para a resistência de uma grande estrutura...

Vivemos tempos de muitas pedras falsas. Em um primeiro olhar, parecem angulares. O olhar mais atencioso pode revelar todas as suas irregularidades e incongruências. Seus ângulos guiam ao descaminho, desfavorecem a junção harmoniosa das restantes.

Em muitos casos, além da falsidade da pedra, há falta de qualidade do terreno. Construções sobre areia têm curto tempo de vida. As imperfeições juntas terminam com qualquer chance de aproveitamento da estrutura.

Quanto mais tempo demoramos a perceber, mais inevitável é a derrocada final...

Poucos seremos pedras angulares. Difícil é a seleção dos alicerces. Estar atentos às nuances do universo das construções permitirá participarmos da elevação do castelo da existência humana.

sábado, 19 de abril de 2008

Conforto

Mudanças nos removem da zona de conforto.

Alguns podem se incomodar mais, outros menos, mas fato é toda pessoa sentir o efeito de mudanças. Mudanças de comportamento, de emprego, de vida ou de residência, todas são promotoras de instabilidade.

As residenciais são as mais concretas, mais fáceis de se perceber o deslocamento. Formamos vínculos com nosso local de viver, com nosso sítio. Existem pessoas mais nômades, existem as mais fixas. A ligação sempre existirá, seja qual for seu tempo.

Quanto mais tempo em um local, mais elementos acumulamos, sem perceber. Na preparação da mudança tomamos consciência de quanto mantemos conosco. Inventariamos grande parte de nossa vida, ao recordar os diversos itens adquiridos durante nossa permanência em algum lugar.

E são tantas coisas, mesmo que poucos, para organizar e levar...

Arranjos neurais, estruturas em rede de neurônios, representam nossas informações cerebralmente armazenadas. Quanto mais as reforçamos, mais fortificamos a rede. Com mais tempo de existência, se periodicamente as ativamos, mais reforçamos.

Sentir a mudança deve guardar relação com essa forma de armazenamento neural. Mudar implica formar novos arranjos, guardar novas estruturas de memória e procurar otimizar as antigas. É trabalho árduo para um cérebro, depois de construí-las por tanto tempo.

Sem dúvida deve-se gastar muita energia... Para ambas atividades!

Importante é não reagir negativamente. Resistir à situação de alteração. Melhor é encontrar o aprendizado proporcionado. Perceber a importância da reavaliação, de pesar as novas condições, às vezes até mesmo os novos valores.

Certo mesmo é que na vida só não se altera a contínua mudança.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Apoio

Formar alianças carece de exercício para os americanos.

Em diversos momentos de sua história, alianças com os mais diferentes personagens mundiais foram questionáveis, ou renderam um apoio um tanto quanto controverso.

Quem diria, um dia os Estados Unidos apoiaram Fidel Castro. Lá nos idos dos anos 50, com a ditadura de Fulgêncio Batista incomodando nossos amigos yankees, ele foram investir no jovem militar.

Sorte deles hoje o jovem possuir muito menos juventude. Mas formam os 40 anos de combate ideológico sensivelmente marcantes. Em parte, este foi o embate a consumi-lo.

Também faz pouco tempo, a 'Guerra Fria' era assunto contemporâneo, e num esforço de marcar presença na região do Oriente, eles apoiaram o pequeno Afeganistão.

Posteriormente dominada por uma cultura religiosa extremista, se tornou peça de enfrentamento da tão combatida potencial mundial. Após muitos embates, um questionável motivo foi encontrado para o combate. As conseqüências são recentes, deveríamos saber de cor a história.

Mesmo a Arábia Saudita, sempre mantendo boas relações com seu grande cliente, vez ou outra resolve lhe pisar os calos. De quando em quando, produz filhos ilustres, opositores ferrenhos do grande capitalista ocidental. É dispensável discorrer sobre o mais recente...

Se começarmos a enumerar, a lista poderá ficar razoavelmente maior. Nos quatro cantos do planeta, do Ocidente ao Oriente, independentemente da raça, cor ou religião. Sempre haverá um sócio a terminar por ser um estorvo econômico e político.

Terão eles dificuldades em escolher os amigos? Ou são capazes de sempre deteriorar as relações iniciadas pacificamente? Acaso seu poder atrai e provoca tais tipos de reações? São eles estigmatizados por algum ato do passado?

Seu eterno garoto propaganda, o Uncle Sam, marcou a história convocando voluntários. As associações voluntariosas conseguidas na sua política externa mostra um grande número de desacertos. Falta simpatia ao chamado!

"Diga-me com quem anda e te direi quem és", "Com amigos assim, quem precisa de inimigos?", "Antes só do que mal acompanhado", bordões populares coerentes com a perspectiva daqueles indisponíveis ao encontro entre povos, de modo aberto e bilateral.

Antes da escolha de amigos vem a escolha de postura de vida.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Notoriedade

Notoriedade é desejo comum a muitas pessoas.

Síndrome da época das celebridades, em meio a Idade Mídia? Ou necessidade ancestral, transformada ao longo da história nos mais diversos formatos?

Na infância uma das formas é se tornar um super-herói. Ter superpoderes para combater o mal e ajudar as pessoas. Muitos fãs, admiradores e seguidores estarão à sua volta.

Carência infantil, resultado de algum dos complexos Freudianos? Necessidade de atenção para a aceitação social? Altruísmo inato a conectar toda a espécie?

Os sonhos podem ganhar escopos mais abrangentes. Cientista com reconhecimento internacional, por alguma descoberta milagrosa. Grande cineasta, ilustrador das maravilhas de vida na grande tela. Político salvador da nação, solução de grandes dilemas nacionais.

Ampliar o escopo não elucida mais a questão. Exemplos distintos, citados aos montes, não colaborarão para um melhor entendimento. Desconfio ser um código escrito em nossos genes, implantado para proporcionar constante evolução, permanente busca por melhoria e melhor adaptação.

Como seres sociais, esquecemos do poder do indivíduo comum, da capacidade de agregação de pequenas forças. O velho bordão: a união faz a força! Mesmo os notórios viveram com, e dependeram muito dos, comuns.

Joseph Campbell
, em seu "O Herói de Mil Faces", nos oferece uma excelente chave para compreensão melhor desse sentimento de tijolinho:

"A sociedade inteira se torna visível a si mesma como unidade viva imperecível. As gerações de indivíduos passam, como células anônimas num corpo vivo; mas a forma mantenedora e intemporal permanece".

Que tal a eternidade celular?

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Arte

Arte humana se compõe dos mais diversos elementos.

Ao apreciar a foto ao lado podemos reparar nas nuances de cor, nos contrastes obtidos, no tema escolhido, no momento capturado.

Tudo muito harmônico, bonito de se ver, se a imagem não se tratasse do lixo espacial produzido pela humanidade, desde os anos 50 e registrado pela Agência Espacial Européia.

Impressiona saber que se estima o lançamento de 6.000 satélites, nestes 50 anos de exploração espacial. Apenas cerca de 800 ainda estão ativos e poucos dos restantes foram trazidos de volta. Seus restos mortais estão lá...

Um real e concreto cemitério de satélites e equipamentos de espaçonaves. Triste destino para cada um dos 200 lançados anualmente. Terminado sua função, por projeto ou por obsolescência, são esquecidos nas distantes órbitas geoestacionárias.

É pouco o efeito de nossa ação no próprio planeta. Precisamos mostrar nossa grandiosidade e poluir, destruir, o espaço extraterrestre também. Personalidade megalomaníaca, essa humana! Nos sonhos, ou nas artes, somos sempre superlativos.

Arte do tipo de molecagem. Não expressão artística. Coisa de arteiro e não de artista. Aguardamos a situação chegar à beira da irreversibilidade, ou depois dela, para nos alertamos, nos preocuparmos. Depois reclamamos do pragmatismo tupiniquim...

O pragmatismo me parece impregnado na alma do homo sapiens. É questionável até mesmo a denominação 'sapiens'. Constantemente tomado por um impulso quase sobrenatural, ignora toda sua capacitação filosófica no momento de agir.

Sabedoria muito maior terá de ser empregada, para não vermos a nossa arte espacial se transformar em uma imensa chuva de caquinhos. Capaz de considerarmos a reluzente chuva outro tipo de fenômeno artístico.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Auto

Culpado é o Ford!

Ao inventar o automóvel, disparou um modo de vida autônomo e individual. A possibilidade de se automover amplia capacidades e horizontes do indivíduo, sem vínculo direto e óbvio com um grupo.

É uma ilusão, é claro, mas carece de percepção.

Autonomia não é tudo. Seu método produtivo implica em especialização e produção em massa. São mais dois ingredientes da questionável vida moderna.

Reforçamos as características do "eu". Apesar de roupas serem feitas em grandes lotes, a satisfação, ou pseudo-exclusividade, é prometida a cada um. Ninguém vende produtos por serem mais adequados para todos. O desejo é seu.

As propriedades autônomas foram multiplicadas. O telefone é celular e pessoal. O computador é pessoal. Os tocadores de música são pessoais. Tudo para si só. Compartilhamos com o outro, mas para que ouça no dele!

Maravilha das maravilhas, autonomia total obtemos com o iPhone. Ele e seus similares congregam todas as soluções, unicamente, pessoalmente e móvel. Poderiam ser considerados novos "automóveis"?

Depois do carro (automóvel) ficamos um tanto acanhados de continuar com o prefixo 'auto'. É muito evidente a noção de autonomia, 'independência'. Nesse caso podemos culpar D. Pedro I, com sua máxima de "Independência ou Morte". É uma escolha muito radical...

Amenizar, nós amenizamos, mas a vontade arraigada do individualismo vai nos consumindo, minando as forças, a resistência. Reflexos vemos por toda parte. Reflexos da vontade e de nós mesmos? Segregar a vontade do indivíduo significa apenas arranjar mais um culpado.

E alguns "autos" vão se ajuntando... Preocupação com a auto-estima, atenção a autocrítica, cobrança da auto-regulamentação. Se a independência fosse tão simples, haveria menos autoridades. Quem sabe é necessária autorização para falar sobre.

Autonomia completa esbarra em liberdade. Ou no seu significado. Ou nos seus limites. Frustrações decorrentes do eterno embate humano, do "um" e do "muitos". Será esse o tal "pecado original"?

Entre altos e baixos, de esperança e derrotismo, devemos desejar ao menos não transformar autônomos em autômatos!

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Música

Música é produto exclusivamente humano.

Jamais se observou outro ser vivo criar consciente e intencionalmente algo similar. Em nossa humanidade, reconhecemos diversos sons da natureza como música, mas esta é nossa visão dos fatos.

Diante de tal constatação, é fácil aceitar o imenso sucesso de aparelhinhos como os iPods. A música está imanente a nossas vidas, presente em grande parte de nossos pensamentos, tanto que alguns preferem carregá-las constantemente em seus arquivos digitais.

Ao ler o livro "Alucinações Musicais" tomamos contatos com muitas das motivações físicas que nos levam a essa intimidade musical. O mecanismo de nosso caixinha de música mental está embrenhado em nossa genética.

Com em suas outras obras, Oliver Sacks desvenda parte de nossos mecanismos neurais através de sua experiência clínica e cirúrgica. Ao analisar estruturas funcionais neurais, quando estas apresentam problemas e geram alterações exteriores, vai se construindo uma imagem do funcionamento de nossa máquina secreta.

Fato é que todos temos uma íntima relação com a musicalidade. Todos temos uma música especial, ou aquela a remeter para um momento especial. Como em muitos casos apresentados no livro, podemos reconhecer aromas, visões, sensações provocadas por alguma melodia, mesmo sem sofrermos de alguma patologia.

Apreciamos a beleza de composições desde os primórdios de nossa história. Os primeiros batuques ritmados com ossos e pedras devem ter sido muito divertidos. Por mais que achemos causas, sua função é ainda um tanto quanto misteriosa.

Nossos mecanismos musicais se assemelham a nosso "aparelho fonador". Estruturas não concebidas pela natureza como tais, usamos de nossa criatividade instintiva para lhes dar a função desejada. E criamos...

Criamos e nos deleitamos. Entramos em catarse por um bom momento musical, principalmente quando bem acompanhados, em celebração. Momentos solitários são também de igual apreciação. Descobrimos músicas internas, muito além das provocadas por nossas composições.

Há quem associe aquela musiquinha virótica, que uma vez ouvida não conseguimos largar, com a teoria dos memes, de Richard Dawkins. As demonstrações de Sacks nos dão alguns outros porquês, validadores das idéias por trás de nossos genes mentais.

Cientes, ou não, de nossas conexões musicais, perpetuamos esse gosto através de gerações. Com muita música nos ouvidos, vamos tocando alegremente a vida...

domingo, 13 de abril de 2008

Pastor

O bom pastor dá a vida pelas ovelhas.

Inverter a lógica do pastoreio, ao menos a lógica convencional, promove a revisão de valores perpetuados. O pastor, destinado a cuidar das ovelhas, para utilizar seu pelo e sua carne, busca protegê-las pelo valor de suas vidas.

Ovelha alguma escapa de sua atenção. Desgarrada, é procurada até voltar ao rebanho. São ovelhas em relação de harmonia e não de simples submissão.

É mais difícil a condução de ovelhas livres. Muitos pastores preferem as subjugadas, arrastadas, não guiadas. Mais ainda, melhor são as encarceradas, sem opções para suas vidas.

Perigos sempre existirão pelos prados e campinas. A atenção e cuidado do pastor sempre serão necessários. Vocações para pastores são essenciais. A lida se inicia no coração humano.

Também são muitas as ovelhas a recusar seu pastor. Sua recusa parte da incompreensão, do significado de seu condutor, de suas intenções, da inspiração de sua vocação. As sábias ouvintes, de coração aberto, encontram a comunhão de ideais e um líder para a viagem.

Cada um de nós deve assumir em algum momento o papel de pastor. Somos responsáveis, de alguma forma, em algum tempo, pelos rumos tomados por nossos destinos e de nossos mais próximos. Em outros momentos, como ovelhas, precisamos do apoio de um protetor.

Independentemente da figura assumida, acabamos envolvidos e comprometidos na construção de uma comunidade humana mais fraterna. Num futuro muito melhor, e completamente possível, encontraremos pastagens verdejantes, farta fonte de alimento da alma.

Consciente dos papéis necessários, e das intenções para um caminho feliz, jubilosos entoaremos nossa oração: O Senhor é meu pastor, nada me faltará!

sábado, 12 de abril de 2008

Casamento

Caros Irmão e Cunhada,

Dia especial hoje, não é? Muita preparação, expectativa, família e amigos reunidos. Porém, um cara muito especial, que torceu muito por vocês, não pode estar aqui.

Há quase 4 anos resolveu ir para um lugar diferente. Lá do alto participa e se regozija com sua união. Podem ter certeza, ele está dando umas bengaladas no pé de São Pedro e dizendo: "Ó lá, o Ju agora vai patriciar de vez!".

Enquanto esteve conosco, se expressou diversas vezes através de seus textos, revelou parte de seu universo introspecto. Neste dia de alegria, ele faria questão de colocar aqui uns versinhos seus, a respeito do amor.

"Quero te amar, como se amam
duas estrelas juntinhas.

Quero te amar, como se gostam,
do rosto, duas covinhas.

Quero te amar, como se abraçam
dois galhos de um só arbusto.

Quero te amar eternamente,
idolatradamente, num grande amor.

Quero te amar assim, a toda hora,
embora não seja sorrisos só o nosso amor.

E, eu penso, que céu imenso,
são duas lágrimas lavando um mesmo rosto,
são dois lábios apertando um só sorriso,
são duas mãos colhendo mesma flor,
são os passos de dois pés p’ra mesma fonte,
num só amar perdidamente ...
"

Queridos, façam de suas lágrimas uma única. De seus lábios um só sorriso. Com mãos juntas, colham muitas flores. Todos que os amam desejam o melhor para vocês! Espelhem-se nessa felicidade de seus pais, avós, irmãos e amigos, para caminharem juntos, passos de dois pares de pés, num só amar perdidamente.

Sejam muito felizes!

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Adobe

Certas marcas transformam seus nomes em conceitos únicos.

Ouvir o nome Adobe remete a maior representante da área de softwares de editoração. Atualmente, atua em muitos outros segmentos, sempre relacionada à edição e publicação de mídias.

Esses dias, descobri significado novo para a palavra adobe, certamente muito anterior a criação da empresa. A palavra se refere a estruturas de construção com argamassa.

Tomei contato com a expressão lendo uma revista sobre arqueologia. Na Scientifc American, edição especial "Povos Antigos", diversas vezes foi citada para detalhar os métodos de construção de população muito antigas. A pergunta ocorre quase instantaneamente: qual a relação com uma empresa de tecnologia da informação.

A Adobe (de TI) construiu uma vasta estrutura de fornecimento de soluções. De um dos seus mais famosos produtos, o Photoshop, brotou até um novo verbo: photoshopar. Em tempos de "Idade Mídia", nada mais adequado para garantir o sucesso.

Com a aquisição da Macromedia, em 2005, conquistou vasto portfólio completar a suas soluções, se solidificando com um dos únicos fornecedores do mercado, com qualidade muito diferenciada no segmento.

Recentemente, ela vem navegando em recente tendência da mídias. O Adobe Media Player traz um misto de busca de vídeos, canais de conteúdo e streaming. É bom o Joost, e similares, ficarem atentos com essa novidade. O tamanho do concorrente não é brincadeira!

Somando-se a seus já consagrados e gratuitos leitores de documentos, essa nova ferramenta sem custos mostra o poder de sua plataforma AIR, ao misturar características de aplicações web e aplicações tradicionais desktop.

Apesar de toda esse passado construtivo, terminei por aprender a origem do nome da empresa. Nada tão elaborado, como poderíamos imaginar. Apenas uma homenagem ao riacho que corre próximo aos escritórios da empresa.

De qualquer forma, de tijolinhos virtuais e algumas reformas ela entende. :)

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Mashups

Inventamos brinquedos para depois padecermos por eles.

Em muitos casos, para fugirmos do padecimento, inventamos outros novos brinquedos, na tentativa de resolver os problemas inerentes ao seu sucessor.

Com a criação da Internet, um volume considerável de informação veio bater à nossa porta. Talvez bater à porta não seja a expressão mais exata, mas uma inundação de conteúdo surgiu.

Para lidar com esses novos elementos, precisávamos de alguma maneira otimizada de acesso. A primeira idéia se materializou com a tecnologia push. Ao invés de irmos até os dados, eles vêm até nós.

Através de assinaturas, passamos a receber as informações produzidas pelos sites. Na esteira desta idéia, buscamos algo mais simples, sem a necessidade dos programas cliente da tecnologia. Foi criado o RSS.

A partir de então, conseguíamos selecionar mídias bem específicas e trazê-la para programas cliente bem simples, depois até para navegadores ou páginas Web. Tudo muito fácil de criar e utilizar, uma vez que suas origens estão na linguagem XML.

Inquietos com a novidade, criamos uma profusão sem fim de feeds RSS, para curar nossa ânsia por informação abundante. Até o ponto em que também deixamos de dar conta de seu volume. Nossa culpa, pois tudo na Web praticamente pode ter um feed ativo, como ocorre com os blogs.

Numa nova tentativa de contra-ataque, observamos o surgimento e consolidação das aplicações Mashup. Nestas aplicações podemos agregar, em uma única página ou tela, o resultado de inúmeras fontes de informação, como um cockpit da supervia de dados.

O grande trunfo da tecnologia está nas diversas ferramentas associadas, que permitem a criação de filtros e seleção das publicações, de forma "automática", em princípio. Aglutinamos a informação com certa inteligência embutida.

Todos grandes nomes da Internet estão investindo na novidade. O Google disponibiliza seu Mashup Editor. Já o Yahoo apresenta seu Pipes, para fazer a conexão das veias de dados. Finalmente, a Microsoft apresenta suas idéias sobre mashup, em seu site corporativo. Qual deles arriscaria ficar fora da jogada, não é?

Em meio a toda essa mistura, fica a dúvida de qual será a próxima empreitada. Depois de todo essa mixagem de idéias, podemos acabar misturados a elas e sem conseguir utilizá-las. Como nós sairemos dessa salada de informações? Sinal dos tempos...

quarta-feira, 9 de abril de 2008

GPS

Localização geográfica nunca foi meu forte.

Pelos últimos lançamentos do mercado de traquitanas tecnológicas, talvez nunca seja. Os equipamentos portáteis de GPS vêm se tornando sistematicamente mais acessíveis.

Minhas andanças pela cidade são sempre acompanhadas pelo meu equipamento de navegação indispensável: minha esposa. Sua bússola interna é muitas vezes mais aprimorada do que a minha.

Os novos equipamentos, com valores entre R$ 650,00 e R$ 1.600,00, substituirão muitas pessoas com boas "bússolas internas". Poupará certa divergência e discussão, se esquecermos os momentos quando esses aparelhinhos perdem o sincronismo com os satélites. Ao menos podemos xingá-lo sem muita dor na consciência. :)

Com mais esse gadget, as capacidades humanas correm sério risco. Depois do acesso facilitado pelo Google, a qualquer tipo de informação, problemas de memória começam a ser comuns. Achei meio exagerada a afirmação no início, mas eu mesmo tenho percebido certos sintomas. Também para que lembrar? Basta 'googlar'!

No caso da localização, com tantas opções e coberturas de localidades abrangentes, por que decorar novos caminhos? Está tudo lá, organizado, acessível e preciso, com raras exceções e problemas. Ainda podemos escolher com qual voz gostaremos de ouvir as instruções.

Pobres do motoristas de táxi de Londres. Atualmente, para ser aprovado como tal e ganhar sua licença, é necessário conhecer as ruas da cidade de cor. Seus cérebros são motivo de estudo, devido às alterações sofridas por essa incrível condição. Em breve, poderemos perder esse tipo de material de pesquisa. Aliás, eles parecem desprezar os novos sistemas.

Incômodo maior fica para a lembrança de o sistema de satélites, responsável por fornecer o serviço de localização, é de propriedade dos americanos. Os europeus incomodados com a situação já lançaram suas alternativas. Imagina se eles iriam ficar com essa dependência facilmente.

Para termos uma bússola bastava um pedacinho de metal magnetizado... Só que elas não falam e precisam de um pouco mais de compreensão e leitura.

Num mundo de desnorteados, como diriam os franceses, debusoles (gostou da lembrança, caro professor?), a influência desse serviço pode contribuir mais um pouquinho com a falta de norte.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Moreau

O comportamento ético de nossos cientistas é matéria de atenção primordial.

A proposta de nova linha de pesquisa, ou algum experimento inovador, em busca da evolução científica deve preservar nossos valores humanos.

Em 1896, H.G. Wells já fazia de sua ficção um alerta para os novos tempos do avanço da ciência. Mesmo sendo fruto de sua imaginação, provavelmente pautado em sua visão aguçada da sociedade, o livro "A Ilha do Dr. Moreau" sinaliza sua preocupação com a conduta de nossos gênios.

Na história, um médico acusado de tratamentos dolorosos a animais, realiza experiências de transformação de animais em seres humanos, através de cirurgia e hipnose. Acaba por criar criaturas monstruosas. Diversas foram as versões cinematográficas, vividas por nomes de Malon Brando a Val Kilmer, de Burt Lancaster a Michael York.

Maluca demais essa idéia, não? Só a nossa ficção para proporcionar tamanho devaneio. Mais ou menos... Há mais ou menos dois anos, cientistas britânicos começaram o processo para utilizar embriões bovinos com DNA humano em experiências. Nos últimos meses os estudos estão fornecendo resultados!

É isso mesmo. Depois de transgênicos, clonagem de algumas espécies, senão de humanos, chegamos ao ápice do total desrespeito a ética no meio científico. Acaso ainda é lecionada está matéria em cursos relacionados? Qual a formação humana recebida nas várias carreiras científicas?

Justificativas são elegidas aos montes. Mas justificativas, nos ensinam os grandes pensadores, nos servem para muito pouco. Qualquer uma delas procurar comprovar os meios pelos fins. Sabemos ser mais complexo...

Se maus tratos a animais são questionáveis, o que pensar de tal manipulação? Como estamos classificando a vida, humana e animal, em nossa escala de valores? Longe de qualquer dogmatismo, quais são as bases do pensamento promotor destas condutas.

Além de nossos sonhos, a ficção nos traz grande parte de nossos medos. Algo como um mecanismo inato de alerta, muito mais rápido do que qualquer elaboração racional de uma reação. Nosso feeling humano merece muito mais respeito e atenção.

Sabemos o final da história de Dr. Moreau. Desconhecemos o rumo que tais pesquisas podem tomar. Toda intervenção no ciclo da natureza tem trazido sistematicamente prejuízos para todos. Desejamos o mesmo fim do cientista fictício?

Lembremos o quanto nosso mundo é real e único!

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Preço

"A única coisa mais cara do que a educação é a ignorância."

Benjamin Franklin teria se perguntado qual o preço da educação? Certamente o mundo era bem diferente no século XVIII. Os desafios sociais e tecnológicos estavam em patamares bem distintos dos atuais.

Nossa língua-mãe já nos demanda cuidado. Temos para o termo "educação" dois usos possíveis. Podemos pensar em educação no âmbito da polidez ou no desenvolvimento de conhecimento.

Deixemos de lado a polidez... :) Há quem acredite com a segunda ser possível obter a primeira. Discussão para outra hora. Pensemos agora em desenvolvimento de conhecimento.

Educar pressupõe um para quê, ou um por quê. Quais são os objetivos da educação em nossos tempos? Estamos preocupados com acúmulo de conhecimento ou habilidade na lida com ele? Num mundo em constante mudança, quais são as necessidades dos futuros participantes da enorme aldeia global?

Em artigo da Revista Época, desta semana, são mostradas as excelentes condições necessárias para o ensino público. Algumas poucas escolas públicas de segundo grau, ligadas a universidades, atingiram as primeiras colocações no Exame Nacional do Ensino Médio.

As causas apontadas de seu sucesso são diversas: a proximidade com a universidade, a seleção para o ingresso, o salário pago aos professores. É um tanto indefinido o cerne da causalidade, mas é nítida a necessidade da mudança de abordagem.

Sem uma educação formadora de cidadãos, aptos a colaborar na construção do país, jamais poderemos atingir condições melhores em nossa sociedade. O sonho perpetuado por décadas de condições de vida mais digna conflitam com o descaso proporcionalmente sofrido pela área de ensino. Era, e é, necessária a tão falada visão de longo prazo.

Dinheiro e acesso apenas não são suficientes. É urgente muito mais do que escolas, acumuladoras de pessoas, pretensas acumuladoras de saber! Faz-se imprescindível ensinar a amizade à sabedoria, mostrar como aprender a aprender.

Em comum com o século XVIII, guardamos o fato de que educação ainda é fundamental.

domingo, 6 de abril de 2008

Espetáculo

Deveríamos nos ater (e preocupar) mais com os rumos de nossa imprensa.

Pilar caro de uma sociedade democrática e justa, guardiã do direito à informação, deveria ser pautada pelo interesse comum e se isentar dos efeitos de uma sociedade de espetáculo.

Somos assolados na última semana pelas notícias sobre o assassinato da menina Isabela (dispenso até os links para o assunto, afinal alguém dificilmente ainda não saiba do que se trata...).

É tragédia passível de notícia, e certamente de investigação e esclarecimento por parte da polícia. Questionáveis são o destaque e a participação em nossa mídia impressa e televisiva concedida ao ocorrido, com a riqueza de detalhes e minúcias mórbidos dispensados.

Quais são os critérios de respeito à família? Será a única pauta importante nos últimos 10 dias? É o único caso violento e terrível em uma sociedade de milhões de pessoas? Há justiça na apresentação em tempo real de cada detalhe investigado, levantado ou ponderado?

O comportamento de nossos zelosos repórteres noticiosos faz vítimas constantemente, sem parecermos nos importar. Todos são vítimas: os expostos, muitas vezes injustamente, nós, os receptores desnorteados, a sociedade carente de critérios, os profissionais e o pilar social da informação, com a imagem maculada pela inconsistência.

Quem conhece o desfecho do caso do Padre Júlio Lancelotti? O resultado da investigação do Ministério Público não mereceu o mesmo destaque das suposições feitas na época das diversas notícias sobre o caso. A conclusão do inquérito é clara: "não resta dúvida de que os acusados associaram-se em quadrilha com a finalidade de praticar reiteradamente delitos de extorsão contra a vítima (padre Júlio Lancellotti) e que esses delitos ocorreram de forma continuada desde o ano de 2004".

Felizmente parte dos profissionais do meio fazem sua mea culpa. Através da Revista Imprensa, de profissionais para profissionais, matéria da edição de março/2008 aponta as preocupações com as faltas cometidas no tratamento dado ao caso do religioso. É reconhecimento de algum mecanismo de auto-regulamentação. Precisa de mais ouvidos...

Neste domingo, em artigo da Folha de São Paulo, seção cotidiano, a colunista Rosely Sayão expressa, com espanto, suas observações com os cuidados dos profissionais de imprensa no caso da menina Isabela. Ela participou da missa em memória da criança e pode presenciar o circo midiático em busca de mais "furos".

Seu artigo, intitulado "A sociedade do espetáculo", é concluído com o desabafo de uma profissional consternada e estupefata com a atitude de seus pares: "Saio carregando meu mal-estar, minha tristeza e a idéia de que o sofrimento de nossa gente é tamanho que talvez nem seja possível sofrer mais quando ocorre uma tragédia. Tempos desumanos e de barbárie este que vivemos, não?".

Algo mais precisa ser dito?

sábado, 5 de abril de 2008

Doodle

Empreitadas de sucesso se edificam nos detalhes.

Já repararam nas mudanças do logotipo do Google, em algumas datas especiais? Pois é, o simpático desenho mutante, conhecido como doodle, em inglês, merece estrutura considerável para seu desenvolvimento.

Com o tamanho do conglomerado desta empresa, devem existir muitos pontos para se preocupar. Não por isso o cuidado com este simpático representante foi esquecido.

Além de ser um aspecto bem humorado, mostra a obsessão pela atenção com os mínimos detalhes, que fazem do site e todas as suas iniciativas sinônimos de sucesso.

O responsável por esse toque alegre pode ser conhecido em uma página da empresa. Um artista com o trabalho visto por milhões de pessoas, todas as vezes que foi apresentado. É grande responsabilidade!

Tanta que resolveram dividi-la com outras pessoas. Eles tornaram o pequeno representante do negócio em motivo de incentivo. Criaram o concurso "Doodle 4 Google". Direcionado a estudantes adolescentes, anualmente são recebidos desenhos feitos por estes que podem ser usados pela empresa.

Na página do concurso, eles expressam claramente sua intenção em promover o desenvolvimento da criatividade dos jovens. Podem estar formando novos colaboradores no futuro... É uma pena as inscrições serem restritas aos Estados Unidos.

Vários recursos são disponibilizados no site, para colaborar na elaboração dos doodles. São mais algumas mostras do empenho da empresa em criar algo motivador, e não apenas realizar um simples campanha de marketing.

Juntando as pequenas partes conhecidas, vamos entendendo os caminhos trilhados para construir inovação. Tudo sem grande mistério, apenas sinceridade, trabalho e disposição. Mistério mesmo só a coincidente rima de Google com Doodle. Vai entender...

sexta-feira, 4 de abril de 2008

DDD

Saudades do tempo em que DDD era apenas Discagem Direta a Distância.

A Engenharia de Software já completou algumas décadas de idade. Ainda assim, em nosso contemporâneo universo do desenvolvimento de software, sempre dá para "colocar mais macarrão em nossa sopa de letrinhas".

No princípio tudo era muito "áspero", textual, nem um pouco user-friendly, como gostamos de batizar atualmente.

Veio a orientação a objetos, procurando aproximar o cru mundo das linguagens da nossa existência no mundo real (poético não?). Foi a semente de um grande universo...

Assim como os bits, primitivos demais, os tais objetos não foram suficiente para produtividade e eficiência na construção de soluções. Foram apenas o tijolinho na construção do arranha-céu! Precisamos da análise orientada a objetos, os patterns, os modelos de maturidade e a MDA.

Tantos conceitos se materializaram em diversas tecnologias: Java, SOA, Webservices, EJBs, Servidores de Aplicação, Bancos de Dados Orientados a Objeto, UML, C++ dentre outros tantos "entes". Ferramentas, ferramentas, ferramentas e frameworks, frameworks, frameworks. Será uma vida inteira suficiente para se interar de tudo?

Aos poucos vamos assumindo nossa pequenez...

Apesar do compêndio de letrinhas e idéias, o fim estava (e provavelmente ainda está) bem distante. Tamanha dedicação em solucionar gerou um emaranhado de recursos tecnológicos, com alto custo e enorme complexidade. E alguém pensou no cliente?

Pois é, o principal da brincadeira, se preocupar com a solução para o negócio, ficou um pouquinho de lado. O meio ficou mais importante do que o fim. Na tentativa de resolver o impasse, surgiu o DDD - Domain-Driven Design (demorou mais chegou, né?). Já tem alguns anos, mas para muitos é novidade.

Focado no modelo de negócio do cliente, seus artefatos possuem grande ênfase nas questões corporativas, organizacionais. É necessária certa disciplina do arquiteto de software, pois estes não obrigam o seguimento do caminho. Vale o estudo e o entendimento, para fazer bom uso.

Sina da espécie humana? Quem sabe? Mesmo na mais tecnológica de nossas áreas de atuação, volta e meia temos de retornar ao que interessa: o gênero humano.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Pangéia

O passado a Deus pertence, também?

Assim como o futuro, nós, de nosso hiato presente, podemos apenas sonhar. Arqueologia e suas vertentes tratam um pouco de sonho.

Bombeiro, astronauta, médico, várias destas profissões são o desejo de muitas crianças. Arqueólogo talvez o seja, depois do advento de Indiana Jones.

Esqueçamos a polêmica de seu comportamento, ao "roubar" tesouros culturais de diversos locais do mundo, para transportar a museus de países ricos. Viver aventuras, em locais distantes, cercado de mistérios e enigmas, é algo muito atraente.

Sabemos que a vida do arqueólogo é mais sisuda e trabalhosa do que isso. Muito trabalho sujo, literalmente, quando atua em campo, muita pesquisa, investigação e abstração, em sua atividade intelectual para recriar o nosso passado.

Há sempre uma dose de fé para acreditarmos em suas teorias. Parecem-nos tão distantes os fatos que, apesar de datações com Carbono 14, e outros métodos científicos reconhecidos, qualquer afirmação soa recheada de muita imaginação. Será que aquele tal povo, vivia como diziam, comia o suposto, acreditavam no descrito?

Se de nossas vidas e costumes já é surpreendente a reconstituição, como não será com o conceito do Pangéia? Supor toda a extensão de terra firme aglutinada em um único continente gera certo deslumbramento. Pensar em quanto o manto terrestre pode se mover, torna tudo menos estático...

Em matéria de sua edição deste mês, a revista Galileu traz a notícia que caminhamos para o Pangéia novamente. Segundo afirmam os cientistas, o processo é cíclico! A movimentação da crosta terrestre é contínua e tende a se ajuntar, com posterior separação e novo recomeço.

Estamos nos movendo a 15mm por ano! Quem será o indivíduo responsável por obter essa medida. Parece até piada para estagiário: vai lá e observa o deslocamento do continente. O assunto é tão sério que se analisa até mesmo a direção do movimento. Vários modelos são discutidos, tentando prever quais as possíveis configurações finais.

E seguimos na procurar do auto-entendimento, mesmo que pelos passos de nosso planeta. Curioso descobrir que tanta preocupação não terá tantas testemunhas assim. O final do processo deve ser só daqui a 250 milhões de anos. Muito tempo, para quem nem sabe se o planeta sobreviverá os próximos 100 anos, com as atuais mudanças climáticas.

Assim como o passado, o futuro só a Deus pertencerá.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Medo

Você tem medo de quê?[1]

Em toda a natureza, certamente somos a espécie mais medrosa. Não me refiro a receio instintivo ao perigo, ao risco de integridade ou de vida (ou de morte, como preferem os novos manuais de redação).

Somos cheios de medos, daqueles infundados, pelo menos conscientemente. Algo como um presentinho da natureza, para fins misteriosos. Sabe aquele brinde grátis, inútil para tantos coisas, mas prestativamente revelado em outras?

Nossas fobias são tantas que necessitam de catalogação. Batizadas com nomes nada simpáticos, metem medo só de pronunciá-los. Heresifobia, Aeronausifobia, Cipridofobia, Estasibasifobia, Hipopotomonstrosesquipedaliofobia: são de meter medo em qualquer um!

O mais comum que conheço é o medo de fantasma. Para alguns espíritos, entidades, almas penadas, manifestações ectoplásmicas, o nome pouco importa. Sempre vem aquela sensação de alguém nos observando, quando estamos sozinhos, principalmente à noite.

A culpa é do pequeno Haley Joel Osment, quando começou a pronunciar "I see dead people", no filme "Sexto Sentido". É só mas um dos ingredientes para fomentar nossos medos, assim como os Fredies, Jasons, Gritos, etc.

Outro medo curioso é o de pequenos insetos. Como podem proporcionalmente monstruosos seres humanos temerem pequenas vidinhas, na sua maioria invertebrados? Só mesmo algum curto-circuito em nosso sistema cerebral para justificar.

Pessoas em pânico ganham poderes sobre-humanos. Conseguem obter força e velocidade nunca antes vista. O medo alimenta alguma usina de energia atômica, que nos impulsiona, nos move bruscamente como nunca.

Medo todo mundo tem, está nas nossas entranhas humanas e em algum canto sombrio da sala. É inevitável. Coitados daqueles que tiverem medo de ter medo...

terça-feira, 1 de abril de 2008

Mazel Tov

Mazel Tov!

Quem viu o filme "Munique" sabe do que estou falando...

Avner, o personagem principal, era constantemente saudado por quem o encontrava, pela futura chegada de seu filho. As saudações aconteciam até em situações e momentos complicados da história.

A expressão é hebraica e usada para o desejo de felicidades, em festas ou ocorrências felizes (Mazal = sorte, tov = boa). Com muita ênfase foi diversas vezes invocada e, ao que pareceu na ambientação do filme, é muito comum quando da notícia da chegada de um bebê.

Quando estamos esperando uma criança é gratificante observar como as pessoas gostam de nos parabenizar. Seja com um abraço, seja com uma lembrancinha. Familiares, amigos, colegas de trabalho, todos a desejar o melhor para nós e para a criança. É uma situação muito acolhedora.

Neste final de semana, num rotineiro almoço no supermercado Pão-de-açúcar, uma funcionária já habitual me perguntou: "Onde está sua esposa que não tenho a visto?". Com a resposta justificada por uma gravidez, o desejo de felicidades foi instantâneo.

Além da saudação, em seguida vem o inevitável pedido de vê-la "de barrigão". As pessoas têm uma curiosidade imensa pela mãe grávida, com seu ventre a abrigar uma nova vida. A quantidade de vezes que já ouvi o pedido de uma visitação ao "barrigão" é memorável.

Poderia ser apenas curiosidade, pela falta de contato com o período da gestação. Desconfio ser muito mais o deslumbramento humano pela magia da vida, que brota de todos nós e está plena na existência divina da mãe a carregar seu filho.

Até esse presente a gravidez pode nos trazer: a certeza do interesse humano pela vida. Durante esse período ganhamos ares de estrelas, de papéis principais, no gigantesco ciclo do relógio universal. Participamos com todos da grande festa do existir!

A todos os que nos saúdam, muito obrigado. Seu carinho é repleto da energia do amor fraterno. É grata revelação de nossa humanidade, demasiadamente humana.

Mazel Tov!