segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Googlar

"Houve um tempo em que as pessoas realizavam pesquisas..."

Quem sabe um dia encontraremos tal citação em um livro de história, daqueles escolares, bem didáticos.

Pesquisar, pesquisar mesmo, muitas pessoas não pesquisas já há um bom tempo. Hoje a onda mesmo é "googlar".

Apesar de soarem semelhantes, as expressões guardam de semelhança apenas o impulso original, o germe da iniciativa: o desejo de saber, de ampliar o conhecimento.

Pesquisa exige coleta bem focada, amparada em tema escolhido e, no mínimo, definido claramente. É ato pensado, elaborado, preparado, carente de atenção e controle, de participação de seu interlocutor. Como ato tem seu sujeito, condutor empenhado na procura de seus objetivos.

Com o material colhido, se faz minuciosa apreciação, observação e produção de material prévio, verdadeira garimpagem de pepitas no veio aberto do pensamento. Da massa resultante é preciso extrair reflexões, ordená-las, buscar coesão, sentido e apoio. Construímos nossas estruturas, nossa rede de ideias, fundada em pilares de outrem.

O hábito de googlar até poderia seguir os mesmos preceitos, mas vem carregado do mal da velocidade, do pragmatismo, da instantaneidade. Surge a dúvida, acessamos o oráculo digital dos tempos modernos e somos assolados por uma profusão de possibilidades.

Comumente se sucede um exercício inglório de cliques, um tanto a esmo, apenas confiando na relevância produzida e apontada pelo mecanismo. Se acompanharmos a evolução da largura de banda, bem mais superlativa que nossa contemporânea estreiteza, passaremos pouquíssimo tempo em cada visita.

Acabamos colhendo migalhas sobre aquele assunto, soltas pelo caminho, quando um ou outro "passarinho" ainda não a devorou inadvertidamente. Sem dúvida alguma poderia ser muito diferente. Devo confessar que faço de tudo para sê-lo e para propagar outra postura.

Desafio moderno, conciliar as novas disposições às antigas necessidades. Condoo-me dos professores à mercê deste novo mundo, mestres mareados pelas ondas da web... Talvez seja um período inevitável de determinado processo evolutivo e, como tal, muitos dos poucos adaptados tombarão pelo caminho da infovia.

Quem dera eu pudesse dar uma olhadela naquele tal de futuro, para ver se todo esse esforço compensa... Como não é possível, rogo aos santos de bits que nos auxiliem nessa empreitada.