quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Questionar

Questionar é preciso. Responder não é preciso.

Certamente ouvirei protestos de um amigo blogueiro com a minha afirmação acima, mas um pouco de sua calma será suficiente para entender a divergência e até colaborar com um comentário.

O inquieto espírito humano necessita questionar. Somos alimentados pelas dúvidas em nossa evolução. Ao perguntar, desvendamos o mundo.

Quem não questiona mais deve ficar preocupado...

Como a eletricidade funciona? De onde vêm os raios? Qual a minha missão? Por que vivemos juntos? Trabalharei a vida inteira? Por que o céu azul? Como a formiga é tão forte? O vento vem de onde? Por que tantos porquês?

Em nossa infância o espírito porqueista é mais inflamado. Não deveríamos curar essa inflamação. Quem a mantém pela vida permanece inspirado, vivo, humano.

O que não diria a pequena Sabrina-Quer-Saber? Ela sabe bem o que é viver!

Responder já é incerto, por si só. Uma resposta jamais é definitiva. Qual a graça de uma resposta precisa, a liquidar qualquer assunto? As respostas são boas quando conduzem, dão continuidade ao caminho, a busca.

Sempre buscaremos respostas, são essenciais, embora incertas. É uma relação bilateral, ancestral, indissociável: perguntas e respostas. Umas não fariam sentido sem as outras, apesar de nem sempre terem sentido entre si. Há muitas respostas para a mesma questão. Há diversas questões para a mesma resposta.

Aprendi com um arguto mestre a melhor questão para excelentes e longas respostas: E...?

Elaborar as respostas é o prato principal. Ao término, com elas bem acabadas, é o momento de maquinar novamente, principalmente apoiados nas últimas idéias desenvolvidas. Assim vamos enxergar mais longe, apoiados sobre ombros de gigantes.

De questão em questão, sempre a espera de uma nova resposta, apóio-me sobre o ombro do grande poeta Fernando Pessoa, para lembrar que: "Navegar é preciso; Viver não é preciso.". Por que?

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Rondon

Heróis épicos são personagens escassos, dadas as dimensões de suas histórias.

Em tempos modernos, eles parecem escassear mais ainda. Contamos em nossa história recente com ao menos um: Marechal Cândido Rondon.

Nascer no século XIX, descendente de índios de várias etnias, órfão precocemente, é um desafio digno para a biografia de um valente personagem nacional. As primeiras barreiras a desbravar são as do preconceito e falta de oportunidade.

Sua epopéia continua com uma formação militar e plural, mesmo que alguns considerem os dois adjetivos incompatíveis. A formação lhe garantiu condições de desenvolvimento e sustento, através de sua gratuidade e o rendimento de um soldo.

Durante sua vida recebeu, e realizou, missões árduas e gigantescas. Lançou linhas telegráficas pelo interior do país (só no período de 1907 a 1909, percorreu 5.666 quilômetros). Demarcou fronteiras longínquas. Contatou e protegeu tribos indígenas desconhecidas e distantes. Realizou expedições de exploração da Amazônia. Defendeu e combateu governos.

Devido a sua importante e extensa folha de serviços, foi homenageado das mais diversas formas. Medalhas, títulos militares, batismo de ruas, rodovias, cidades e até mesmo de um estado. Próximo do fim de sua caminhada, chegou a ser indicado ao prêmio Nobel da Paz.

A integração nacional e a evolução do país deve muito a colaboração desse brasileiro, autêntico em sangue e alma. Como destaque especial, buscou suas origens ao conhecer e proteger os povos indígenas, sem nunca usar de violência.

Resultado da crença no positivismo ou do amor mais profundo a seu povo, seu exemplo é ícone dos heróis esquecidos em nosso país. Esquecidos não apenas pelo pouco contato com sua biografia, mas pela pouca importância dada por seus valores de unidade, fraternidade, avanço e patriotismo.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Bambolê

Transformar coisas simples em itens de sucesso é um grande desafio.

Algumas pessoas aceitam a empreitada e a realizam com enorme tino comercial, transformando-a em sinônimo de genialidade.

Morreu a cerca de 15 dias Richard Knerr, o homem por trás da industrialização e popularização do bambolê. Junto com Arthur Melin, fundou a Wham-O Inc, que em 1958 lançou o brinquedo como o conhecemos hoje.

O bambolê é conhecido a mais de 3.000 anos, desde o antigo Egito. Na sua versão moderna, com 50 anos de vida (é mesmo, estamos em 2008!), não há quem não o tenha sido apresentado, e tentado brincar com um deles, mesmo sem muito sucesso.

Brincadeira a princípio bem simples, afinal nada mais fácil do que bambolear um aro em torno de si. Pelo menos até tentarmos... São brincadeiras singelas assim o encanto de crianças por gerações. Movimentos repetitivos, cantigas pueris e muita, mais muita mesmo, diversão!

Milhões de unidades foram vendidas pela empresa, que também tinha em seu catálogo outro grande sucesso, a partir de elementos simples: o frisbee. Um disco para ser atirado de uma pessoa para a outra.

Eles criaram mais de 230 brinquedos, todos seguindo a lógica da diversão mais simples possível, mas sempre com um toque de genialidade em saber olhar onde está o elemento divertido. Apesar de toda a simplicidade, após 24 anos de empresa, o negócio foi vendido por 12 milhões de dólares, para o grupo Mattel.

Inspiração nunca é demais. Bons exemplos também, principalmente quando se trata de ganharmos um pouco de jogo de cintura.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Relojoeiro

Controlar o tempo é uma das obsessões humanas.

Inventar o relógio foi um grande passo nessa direção. Com sua invenção, surgiu um tipo de "guardião" do tempo: o relojoeiro.

Quem foram, durante muito tempo, os responsáveis por manter o correr do tempo em perfeito ritmo? É bem verdade que mesmo sem eles o tempo continuaria correndo, mas nós não estaríamos tão atentos.

É tão difusa nossa relação com o tempo... Acostumamo-nos a referir sua passagem com o verbo correr. Poderíamos utilizar passar, transcorrer, acontecer, fluir, gotejar, deslizar, e tantas outras ações possíveis, mas invariavelmente o ligamos com a pressa, a agitação.

Com a popularização dos relógios, com o surgimento dos itens "descartáveis", a profissão de relojoeiro perdeu importância. Ninguém mais pensa em consertar um relógio. Compra-se outro! Quando não se têm vários, para combinar com diversas roupas.

Tanto faz se digital ou analógico, eles estão presentes em qualquer lugar, baratinhos, baseados em algum chip, ou um mecanismo produzido aos milhões, em algum recanto do Oriente. Há até as pessoas que os dispensam.

O tempo está marcado digitalmente, nos computadores. Qualquer sistema operacional prevê a apresentação de um relógio, em algum canto de nossas áreas de trabalho virtuais. Podemos sincronizá-los com relógios atômicos, elementos mais precisos existentes.

Substituímos engrenagens mecânicas pelos mecanismos presentes na estrutura atômica. Mesmo com tanto precisão, o tempo parece nos faltar... Terá ele sido reduzido como foram seus mecanismos de controle? Vivemos esse tempo atômico?

Modelos baratinhos e acessíveis de controle de tempo nos fizeram tratar com desleixo esse bem precioso. É assim o comportamento humano: quanto mais íntimo de algo, menos importância se dá, até sentirmos sua falta.

Restritos a noticiários sobre relógios de catedrais, acerto de mecanismos grandiosos ou relíquias de museus, os relojoeiros têm muito a nos ensinar. Devemos prestar mais atenção aos mestres do tempo, ciosos e conhecedores de suas engrenagens, apreciadores de sua passagem!

domingo, 27 de janeiro de 2008

Abraços

Juan Mann poderia ser uma anônimo qualquer, mas resolveu iniciar uma campanha de resgate de nossa humanidade.

Em um shopping em Sidney, Austrália, ele apareceu com um cartaz oferecendo "Abraços Grátis" (Free Hugs), para quem desejasse.

Seu nome verdadeiro não é esse. Juan Mann é apenas um pseudônimo, uma brincadeira com "one man", em inglês, que soa bem parecido.

Oferecer um abraço a alguém é algo extremamente humano, solidário, sem barreiras. Toca em nossa alma com aquelas emoções inegáveis a qualquer um, independentemente de cultura, classe ou formação.

Mesmo com essa singela atitude, ele foi ameaçado de proibição. A questão foi resolvida com a moção de uma petição com 10.000 assinaturas.

A desejada união das pessoas pode começar em um simples gesto. No vídeo de apresentação da campanha, publicado no YouTube, podemos testemunhar o poder de sua ação. Em meio às nossas conturbadas aglomerações urbanas podemos dar uma chance à vida, à paz. Num mundo tão perturbado pela desigualdade e a violência, nada mais necessário.

O convite é feito a todos, para espalhar a campanha pelo mundo. Há diversas manifestações ao redor do globo, nestes 2 anos de existência do movimento. Pelo jeito já chegou em terras tupiniquins.

No dia 25, aniversário de São Paulo, fui surpreendido alegremente por dois simpáticos clowns a distribuir abraços grátis pelo centro da cidade. Sua iniciativa tinha direito a cartaz e muita alegria, além da surpresa dos transeuntes, que em muitos casos aceitaram o presente de bom grado.

E você, já abraçou um amigo hoje?... Então abrace o mais próximo e dê uma chance a paz!

sábado, 26 de janeiro de 2008

Googlismo

Algumas pessoas andam acreditando na divindade do Google.

Surge um novo movimento, ou religião (como os próprios preferem), chamado Googlismo (Googlism, em inglês). Não confundam com o site Googlism, que se utiliza de pesquisas de informações do Google para produzir levantamentos temáticos.

Os adeptos do Googlismo fundaram uma igreja, a Igreja do Google. Sua fé é fundamentada no fato de acreditarem ser o mecanismo de buscas a mais evidente e próxima manifestação de algo divino.

Como boa nova igreja, é possível se tornar um pastor ou ministro, com direito a cartilha e muita orientação ideológica. Uma verdadeira pastoral. A promoção desta nova doutrina já está encaminhada e possui normas e regras.

Suas tábuas da lei já foram recebidas. Seus 10 mandamentos foram escaneados, convertidos em texto e publicados na Internet, como não poderia deixar de ser.

Para não restarem dúvidas, são apresentadas 9 evidências da validade da doutrina:

1. O Google é o mais próximo da oniscência que conhecemos;
2. O Google está em todo lugar, é onipresente;
3. O Google sempre atende nossos pedidos;
4. O Google é potencialmente imortal;
5. O Google é infinito;
6. O Google se lembra de tudo;
7. O Google não pode ser mau, é onibenevolente, está nas diretrizes da corporação;
8. "Google" é mais procurado do que os termos "Deus", "Jesus", "Alá", "Buda", "Cristianismo", "Islamismo", "Budismo" e "Judaísmo", juntos, como podemos comprovar através do Google Trends;
9. São abundantes as evidências da existência do Google.

Ficam os relatos e questões no ar. O resto é com nosso livre-arbítrio, para decidir propagar, ou não, essa nova fé. Louvado seja o grande Google! Inevitavelmente uma ótima e deliciosa brincadeira! Será?

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

São Paulo

"São Paulo que amanhece trabalhando...
São Paulo que não sabe adormecer..."

Imortalizada pela rádio Jovem Pan, a música acima marcou nossa memória, paulistanos, que reconhecemos nela parte da alma de nossa cidade.

Ao menos em um dia do ano há uma grande trégua nesse frenesi: no dia de aniversário da cidade. É dia de passear pelas suas ruas acalmadas (calmas jamais!), reviver alguns de seus recantos, homenagear seu povo trabalhador.

São Paulo é esse organismo indecifrável, multifacetado e poliadjetivado. Em suas veias correm a força de muitas vidas, embaladas em promessas e ideais de empreendedorismo, vanguarda, poesia e humanidade. E também outras tantas características esquecidas nestas linhas...

Gigantes são assim mesmo, complexos de descrever, megalomaníacos, mas adoráveis, sinceros, pois sempre conseguimos encontrar uma nova face, algo que nos acolha, com o que nos identificamos, plural!

A mistura do velho e do novo, do tradicional e do moderno, é um autêntico caldeirão de tendências e tensões, bela fotografia dos resultados extremos da espécie. São essas pequenas e grandes coisas os motivos da paixão de tantos dos seus cidadãos, como eu.

Mesmo os nascidos nesse imenso universo, delimitado não mais pela geografia, mas apenas pela última lembrança, são impossibilitados de afirmar conhecê-la completamente. Haverá sempre uma novidade, às vezes bem antiga, para ser explorada.

Inúmeras linhas poderiam ser usadas para continuar uma homenagem. Talvez nem muitas páginas seriam suficientes. O trabalho quase hercúleo de fazê-lo pode ser injusto, por negligenciar algum sonho, memória, marco, história ou valor dessa aldeia maravilhosa.

Resta-nos o mais simples, desejar um feliz aniversário, São Paulo! Parabéns, de todos aqueles que a amam ou a odeiam.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Matrix

Antes mesmo do que podemos imaginar, a Matrix será realidade em nosso meio, ou em nossas mentes...

Apesar de estar em período meio 'morno', o Second Life firmou uma parceria com a IBM, em outubro do ano passado, para desenvolver tecnologia de interoperabilidade das plataformas dos mundos virtuais 3D (MMORPG).

Imaginem a possibilidade de seu avatar transitar entre os diversos mundos virtuais, mantendo suas características e propriedades, interagindo com seus elementos, como um viajante virtual.

Mundos não faltam atualmente, além do Second Life: There, Active Worlds, Doppelganger, Multiverse, Kaneva. Outros tantos têm sido criados, por novas empresas com tecnologias próprias ou por ex-colaboradores dos sites existentes, carregando parte de seu conhecimento e tecnologia com sua dissidência.

Com todos eles interligados, faltará apenas uma conexão com a Web existente, muitas vezes chamada de Web 2D, em referência a possível transformação desses universos conectados em uma Web 3D.

Após toda essa conectividade, o último passo é melhorar a interface com o ser humano. Ainda estamos presos a teclados e mouses, periféricos quase jurássicos, tendo em vista as significativas alterações sofridas por outras tecnologias.

Nesse futuro não tão distante, é melhor nos preocuparmos com as 'artes' humanas, como terrorismo, pichação ou roubos virtuais, sem falar nos mundos de games, como Warcraft, que conectados poderão exportar seus guerreiros!

O universo paralelo ficará mais complexo e nós virtualmente, ou concretamente, mais arriscados.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Devagar

"Devagar se vai ao longe".

Muito mais do que pregar a morosidade, a antiga máxima flerta com a relação entre apreciação e qualidade, com a calma para contemplar e realizar em plenitude.

No final da década de 80, uma iniciativa, inicialmente gastronômica, se associou aos mesmos ideais para protestar contra a aceleração promovida pelo mundo moderno.

O movimento Slow Food, hoje presente em todo o planeta, inclusive no Brasil, é uma organização sem fins lucrativos, ecogastronômica e gerida pelos seus participantes para contestar o fast-food e o estilo acelerado de vida.

Sua motivação está além de um hedonismo desenfreado e injustificado. Ela foi originada na percepção da perda de hábitos saudáveis, conseqüência da industrialização e da evolução econômica recente.

Quantas vezes não nos achamos sem tempo? Quanto nossa percepção do tempo está encurtada? Essa alteração em nossa noção da realidade está intrinsecamente ligada aos ritmos impostos por um cotidiano agitado.

Uma pista da diferença que os ritmos podem causar em nossa qualidade de vida está na comparação entre o estilo de vida de americanos e franceses: ambos os povos têm hábitos alimentares com níveis calóricos e colesteróicos similares, mas os primeiros apresentam muito mais problemas de saúde relacionados à alimentação do que os outros.

Esquecemos muitas das boas práticas de antigamente. A comida caseira, preparada com calma e carinho, e em ambiente de celebração. Meditar é um verbo quase esquecido para a grande maioria. Apreciar a natureza, ou uma obra de arte, parecem atos de loucura para muitos da nova geração.

Nossa existência precisa de freios. A humanidade toda carece desses freios. Os rumos desenfreados tomados recentemente não nos levarão para muito longe.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Alternativa

"Somos todos poeira das estrelas".

Carl Sagan reconhecia através desta frase a nossa origem física, afinal todos os elementos que nos constituem (carbono, oxigênio, nitrogênio, etc.) são restos mortais de estrelas.

A poética paternidade apresentada representa também uma alternativa para nossa existência, em harmonia com o meio-ambiente.

Nosso grande provedor, como um pai, nos fornece uma das formas mais limpas de energia: a energia solar.

Captada através de meios diretos ou indiretos, este tipo de energia não polui durante sua utilização e a fabricação de equipamentos, destinados a sua utilização, também não contribui significativamente com o agravamento da poluição.

Os custos, em muitos casos, são altos e conseqüentemente prejudicam sua ampla utilização, principalmente em áreas menos favorecidas economicamente. A boa notícia é que, desde 2001, a ONG Sociedade do Sol desenvolve projetos relacionados à utilização da energia solar, com baixo custo.

Atuante também na divulgação das alternativas solares, ela possibilita ampla difusão do aproveitamento desse bem precioso composto de luz! Com idéias simples e originais, eles conseguem criar soluções muito mais viáveis.

Se aproveitarmos melhor esse recurso, e nos inspirarmos nessa iniciativa, à procura de outras soluções, estaremos em condição ambiental melhor no futuro. Além do mais, não há nada pior do que um filho ingrato, com um pai tão generoso.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Ordem

"Ordem e Progresso": o lema positivista é passível de questionamento, afinal a ordem será o único caminho para o progresso?

Independentemente da opinião, algum ordem deve existir. Deve?

Recentemente a Ordem dos Advogados do Brasil é questionada a respeito de seu exame de admissão. Bacharéis em direito não aprovados no exame e, portanto, não aceitos na ordem, são impedidos de exercer o Direito.

Uma legião de bacharéis não aceitos faz parte da Associação Nacional dos Bacharéis de Direito e reclamam da inconstitucionalidade do exame aplicado pela Ordem.

Na discussão entram questões referente à autonomia das instituições de ensino, habilitadas pelo poder público, representado pelo Ministério da Educação, em tornar aptos os cidadãos, uma vez que formados e acompanhados por elas.

Do ponto de vista da Ordem, ela deve cumprir um papel mal exercido pelos órgãos responsáveis pela fiscalização das instituições de ensino, ao validar o conhecimento e capacitação dos formados nestas instituições. Seu propósito é nos "proteger" dos mal formados...

É fato que o exame deve ser rigorosíssimo, ou os estudantes muito mal preparados, tendo em vista os índices anuais de reprovação desse exame. Também devemos considerar que esse rigor não nos exime de encontrar um mal profissional.

Estaríamos mais bem amparados se possuíssemos mecanismos para nos defendermos de problemas com tais profissionais despreparados. Ajudaria se a justiça também fosse mais ágil e desembaraçada. Intervir sempre é uma forma artificial e ineficiente de controlar a vida.

Com a falta de alternativas, o assunto deve ser discutido e ações estruturais definidas. O ensino precisa melhorar e nossas instituições democráticas também. De qualquer forma, alguma ordem ainda deve haver...

domingo, 20 de janeiro de 2008

Vontade

Entre nossas vontades e nossas obrigações ocorre um embate diário de nossas almas.

Somos seres repletos de vontades. Em sua grande maioria, nossas vontades procuram a nossa própria satisfação. Nosso egoísmo é nosso pecado original.

Diferentemente, muitas de nossas obrigações são relativas ao comum, aos outros, a vida. Mesmo em obrigação para nossa própria realização, somos reativos, custamos a aceitá-las de bom grado.

Conciliar os dois gênios existentes é tarefa árdua. Algumas pessoas nem se dão ao trabalho, seguem alimentando suas vontades e lhes dando vazão. Outros se privam de qualquer uma e entregam completamente às suas obrigações. Todo excesso é ruim.

Santo Agostinho nos deixou uma boa solução, pautada no amor. "Ama e faz o que quiseres". Se como premissa colocamos o amor, qualquer outra ação conciliará nosso dilema entre o eu e o nós. Ao menos é um parâmetro funcional desde muito tempo.

Esse dilema humano percorre nossa história, influencia conflitos e soluções, marca divisões e mudanças.

Em nossa evolução, a saída de um modo primitivo de vida nos trouxe a melhores condições de existência, uma existência muito mais humana. Porém, viemos de um ponto que nos deixou muitas heranças, heranças instintivas, constantemente carentes de doma.

O resultado demorará muito tempo. Nossa transformação é homeopática, longa e perene. A vigilância deve ser contínua. Não podemos baixar a guarda!

sábado, 19 de janeiro de 2008

MASP

Emblemática referência de São Paulo, o MASP está em situação representativa de nosso cuidado com a cultura.

Patrimônio cultural e turístico de nossa cidade, vem sofrendo arrastada crise financeira que culmina em uma seqüência sem fim de problemas.

Os problemas vão de dívidas com credores diversos até problemas financeiros com o governo e prestadores de serviços.

No final do ano passado, um roubo ocorrido no museu escancara sua débil infra-estrutura e o descaso com os mínimos cuidados em sua administração. Podem culpar a falta de dinheiro, mas a situação é certamente fruto de muitos outros desacertos presentes.

Com o roubo resolvido, em sua reabertura outros problemas são encontrados. Após 60 anos de existência, descobriu-se que ele nunca recebeu alvará de funcionamento. O Contru, responsável pela concessão de tal alvará, deverá encontrar variados problemas impeditivos para tal liberação.

Em situação tão deplorável, é cogitada até mesmo a possibilidade de transferência de seu acervo para a Pinacoteca do Estado de São Paulo. Obviamente uma operação desse tipo encerraria a vida do museu. Felizmente a justiça já negou essa possibilidade.

Em uma cidade de tantas riquezas, como a nossa, não haverá forma de angariar fundos para sustentar um museu? Ou os fundos são tão mal administrados, como tantos outros nossos bem públicos? A iniciativa privada, aliada ao poder público, não consegue apoiar uma instituição desse porte e importância histórica? Como nós, cidadãos, podemos agir?

Nosso museu corre o risco de se tornar emblemático em outra questão: nosso desprezo pelo nosso patrimônio cultural.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Unanimidade

"Toda unanimidade é burra".

Ser unânime é quase um não ser, ao menos a luz desta frase de Nélson Rodrigues. Adotar a unanimidade cerceia liberdades, garante uma comodidade que estagna qualquer um.

Possivelmente a frase é mais uma bravata, pura e simples, do frasista mais controverso de nossa cultura. Um ícone produtor de desafios e espinhos sociais.

No mínimo, a unanimidade incomoda. Será possível não haver outro ponto de vista, em determinada situação? O tão inquieto ser humano consegue se apresentar tão homogêneo em suas idéias?

A unanimidade é possível com consciência, com o devido cuidado, longe da burrice da simples aceitação, da adoção de uma visão dominante. Essa unanimidade autêntica, sem burrice, é mais rara, complicada e conseqüentemente difícil.

Costumamos fugir da situação de conflito, preferimos a tão falada, e fadada, "zona de conforto". Da zona de confronto buscamos distância, pois dá um trabalho e, em muitas situações, se junta ao desânimo , a suspeita da ineficiência de qualquer reação.

Unânimes ou não, seguimos apenas humanos, demasiadamente humanos, ou "humânimes". Seguimos a corrente, apesar de todo o descontentamento do autor. No mínimo assumimos nossa fraqueza frente ao confrontamento de idéias.

Ironia do destino, ou não, muitos admiradores do grande escritor consideram-no uma unanimidade.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Alumínio

Já faz alguns anos o Brasil está entre os campões em reciclagem de alumínio.

Em tempos de temática ambiental, muitos avaliarão o fato como uma boa notícia, importante até mesmo para a imagem do país no mundo.

Possuímos condições favoráveis para sua produção e utilização. Some-se o fato de a coleta de latinhas de alumínio representar fonte de renda para muitas pessoas pobres.

O estranho é lembrarmos que o alumínio é um metal nobre, utilizado através de uma liga de metais, e o utilizamos para embalar bebidas e depois descartá-lo.

Muitas outras formas de embalagem são mais econômicas, mas todos querem a comodidade das latinhas e seu pequeno custo logístico. Em troca de facilidade, podemos estar desperdiçando muito mais do que através de embalagens mais antigas.

Sua produção envolve custos altos, sendo grande parte deles composto por custo com energia elétrica. Dinheiro e energia elétrica, dois bem preciosos e escassos são consumidos indiscriminadamente para atender a industria.

Reciclar reduz consideravelmente os custos com a obtenção do material, tornando importante sua prática. Porém, mesmo a reciclagem consome energia para sua realização. Se as embalagens não precisassem ser refeitas, certamente obteríamos custos menores e menor consumo de recursos.

Devemos continuar o ciclo com a reciclagem, mas, como a exemplo das bebidas alcoólicas, poderíamos adotar a inscrição "consumir com moderação" em toda latinha de alumínio. A natureza agradece.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Viver

"Viva como se fosse morrer amanhã. Aprenda como se fosse viver para sempre.".

A sabedoria de Gandhi é abrangente, aborda dos problemas mundiais até os dilemas do cotidiano. Possivelmente tudo está ligado, pessoal e comunitário, público e privado.

Reconhecer a necessidade de aproveitar o presente é a chave para o caminho da felicidade. Um presente consciente do futuro e valorizado pelo passado.

Não se trata de negligenciá-los ou omití-los, nem tão pouco de cultivar o pragmatismo. Trata-se de valorizar cada precioso minuto de seu dia, identificar seu potencial e procurar obter dele o melhor.

Aprender como se fosse viver eternamente é um desafio para mim. Jamais por não desejá-lo, mas por praticar intensamente.

Demorei muito tempo para aprender a selecionar o que aprender, a concentrar esforços em determinados assuntos. Ninguém consegue ser uma biblioteca ambulante, apesar da patologia insana dos loucos por informação.

Em nosso tempo, de mundo digital, de grandes transformações, o conhecimento é mais dinâmico do que nunca foi, agravando a dificuldade em obtê-lo. Será possível? Ou conhecimento é algo vivo, vivido, com o qual devemos aprender a lidar e não deter?

Aprender com a possibilidade de eternidade se revela mais interessante do ponto de vista de aceitação, de se permitir receber idéias, sabedoria, com a gratidão para a natureza que nos a oferece.

Em ambos os preceitos, o segredo é o equilíbrio. Ele é permanentemente desafiado pelas duas afirmações com idéias contrapostas, em cada frase. No deslizar entre os dois extremos, o melhor ponto está no meio.

Difícil pode ser, mas como não viver desafiado?

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Mortadela

"Fulano come mortadela e arrota peru..."

Se alguém ainda acredita nisso, é apenas porque não conheceu o sanduíche de mortadela do Mercado Municipal de São Paulo.

Legítima instituição paulistana, quem prova, não nega. Dentre muitas delícias existentes naquele lugar, o pão com essa especial carne é garantia de uma refeição deliciosa.

Ninguém renega o pastel de bacalhau, o bolinho de bacalhau, mesmo toda e qualquer fruta, das mais variadas possíveis. O Mercadão, como é conhecido popularmente, é um oceano repleto de aromas e sabores.

Agora, o tão famoso sanduíche começa no pão sempre fresquinho e crocante, do tipo francês, de um tamanho certamente acima de 50 gramas. É a roupa de gala de seu recheio.

A mortadela, de três tipos diferentes (tradicional, bologna ou defumada), é cortada tão fininha que parece um corte a base de bisturi. Mesmo tendo cerca de 300 gramas, uma mordida é como apreciar um macio pedaço de carne, tenra e suculenta.

Servida quente, deve estar acompanhada de queijo, derretido, mas sem uma quantidade exagerada, apenas para acompanhar. O equilíbrio de tanto recheio é obra de técnico muito experiente, estruturalmente elaborada para não desmoronar ao primeiro contato.

Já pude experimentar em diversos lugares, mas não há como lá em matéria de sabor. Talvez seja a freqüência alta de pedidos, proporcionando porções sempre frescas da iguaria, sem alterações no paladar. Pode ser também a exclusividade no preparo, não permitindo a mistura de sabores na chapa.

O conjunto harmonioso confere boa refeição para uma pessoa. Dependendo da fome, é possível dividir com alguém, mas, ao provar, a tendência é querer um só para si. A conquista é imediata e marcante.

Para acompanhar, um bom chopinho é excelente pedida. Garanto que até mesmo os não fãs da bebida aprovarão. Eu fui um deles.

Indispensável nesse banquete, sempre será, a companhia de bons amigos. Imperdível!

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Importância

Importante é ser feliz. Todos têm esse direito.

A convicção das pessoas sobre esta afirmação é tão grande que parecem esquecer o equilíbrio presente em nossa existência.

Vivemos alegrias, mas também estamos sujeitos a tristezas. Estamos perdendo a capacidade de lidar com as dificuldades, com as frustrações.

O ideal de tal direito adquirido à felicidade privou grande parte dos seres humanos da consciência de algo negativo. Quando este ocorre, se busca um culpado, natural ou sobrenatural, divino ou humano.

Crianças são educadas de uma forma 'poupadora'. São poupadas de frustrações, de insucessos. Crescerão e como poderão lidar com as agruras da vida adulta? Talvez com o comportamento mimado que encontramos entre muitos exigentes.

Meras obrigações cotidianas passam a ser encaradas como desprestigiosas. O próprio trabalho, essencial a sobrevivência de qualquer mortal, ganhou a condição de sina. É um sofrimento ter a obrigação de cumprir suas obrigações trabalhistas.

Curiosamente muitos dos reclamantes são os com melhores condições de trabalho. São os mesmo que não se incomodam de utilizar os serviços '24 horas' de grandes redes de supermercados. E o direito ao descanso, ao bem-estar, desses trabalhadores?

Extrapolando, como devemos encarar o trabalho doméstico, repassado a alguém com menor condição financeira? Há uma medida da dignidade de um trabalho a realizar? Algumas pessoas são mais importantes do que outras?

As desigualdades sociais permitem diferenças de salário da ordem de mais de dez vezes. Pensando do ponto de vista natural, há na natureza algum ser mais capaz, ou mais forte, ou mais inteligente, dez vezes do que outro de igual espécie? Como justificamos essas diferenças?

Se a felicidade é um direito de todos, qual a diferença de alguns?

domingo, 13 de janeiro de 2008

Poesia

Composição
(Evandro Souza)

Tenho poesia na veia.
Não sou poeta, apenas humano.
Como todo exemplar, anseia
respiro no mar insano.

Tenho sangue na veia.
Sou de carne, bem comum.
No mundo, em meio à teia,
confundem-me a qualquer um.

Tenho fome na veia.
Fome de vida e de saber.
Coisa de gente, linda ou feia,
em sua sina de viver.

Tenho dúvida na veia,
daquela de cortar a alma.
A ela ninguém nomeia,
e continua tirando a calma.

Tenho vento na veia.
Sopra forte, sem cessar.
Inebria-me, me desnorteia,
levando-me todo ar.

Tenho amor na veia.
É amor maior do mundo.
Por toda alma, serpenteia,
corre verdadeiro e profundo.

sábado, 12 de janeiro de 2008

1968

1968: o ano em que fizemos contato!

Em nossa cultura, já virou vício, mania, identificar ciclos e celebrá-los. Não podia ser diferente para uma espécie evoluída e baseada em identificação de padrões.

Há 40 anos o mundo experimentou um momento de virada. Muito se discute, e ainda se discutirá sobre a representatividade de 1968 para a nossa história.

Grande parte das idéias e conceitos atuais teve seu início naquele período. Temos um mundo mais humano e mais aberto, mais preocupado e plural, devido aos eventos e pessoas daqueles meses.

A lista é grande, sempre corremos o risco de esquecer algo: Tropicália, Charles de Gaulle, Fernando Gabeira, Primavera de Praga, Maio de 68, Marília Pera, Passeata dos Cem Mil, 2001, Uma Odisséia no Espaço, Zerbini, Maharishi Mahesh Yogi, Roda Viva, Robert Kennedy, Martha Vasconcellos, Leila Diniz, AI5, José Dirceu, Massacre de Tlateloco, Zé Celso, Guerra do Vietnã, Lula, Richard Nixon, Batalha da Maria Antônia...

O mundo certamente não é mais o mesmo. Toda transformação ocorrida deve ser um pouco reflexo de 68. Outras grandes transformações ocorreram, em outras décadas, mas não com a intensidade de antes, do ponto de vista humano.

Devemos nos perguntar se continuamos inquietos, se ainda sonhamos e desejamos a mudança. O mundo ainda não é o lugar ideal, sonhado por eles, ou sonha por nós. A inquietação deve ser contínua, sempre provocante, motor de nossa evolução.

Os sonhos, as utopias, os planos daquele passado não se concretizaram plenamente, mas mudaram significativa e permanentemente nossa visão de mundo.

Daqui a 40 anos, o que desejaremos lembrar?

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Caixinha

Quem nunca sacudiu uma caixinha de água de coco, que atire a primeira pedra!

Pois é, estamos tão acostumados com as embalagens de sucos "naturais", achocolatados (ou seriam "açúcarenlatados"?), iogurtes, que o ato falho é inevitável: ao pegarmos uma caixinha de água de coco, não resistimos em balançá-la, mesmo sem necessidade.

É uma boa mostra de como nosso comportamento pode ser condicionado. O condicionamento foi feito ao longo do tempo, com aquelas mensagens impressas nas caixas longa vida: "agite antes de beber".

Percebemos que depois de certo tempo, de tanta "agitação", nem lemos mais a mensagem e saímos agitando.

Menos mal quando o alvo de nosso ato mecânico é uma embalagem de alimentos. Muitas pessoas desenvolvem atos mecânicos em relacionamentos pessoais. Um bom dia automático, um como vai cotidiano, um saúde sem muito pensar.

Os desejos e cumprimentos robotizados seguem uma evolução tão vertiginosa que podem ser confundidos com retórica. Infelizmente, isoladas e retóricas as pessoas caminham para uma conexão social muito menor, bem diferente do pretendido com a tal educação "em caixinha".

Refletir sobre seus atos e sentimentos não faz mal a ninguém. É salutar o desenvolvimento de comportamentos bem educados e preocupados, mas de verdade. Seria bom refletirmos sempre sobre nossas mensagens sociais e ver se não precisamos ser mais verdadeiros.

Agitaremos mais a vida com uma atitude mais consciente, afinal as pessoas não estão embaladas para longa vida, nem disponíveis em prateleiras para consumo.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Pedágio

Polêmicas podem até ser infrutíferas, mas no mínimo nos fazem refletir.

Ontem, em programa da rádio CBN, o jornalista Heródoto Barbeiro entrevistou a bacharel em direito, recém-formada, Márcia dos Santos Silva.

Em seu trabalho de conclusão de curso, ela discutiu a constitucionalidade da cobrança de pedágio em estradas públicas. Sua tese se apóia no direito a livre locomoção, promulgado na Constituição Federal, mais precisamente no artigo quinto.

O assunto é tema de muita discussão, merecendo até uma CPI, no Rio Grande do Sul, se bem que tais comissões andam desacreditadas em nosso país. Um artigo muito elucidador é o do advogado Márcio Blanc Mendes, o qual discute as visões jurídicas para abordar o tema, tanto a favor como contra.

A estudante afirma não pagar mais pedágios, ao menos na região onde mora. Mesmo com a abordagem da fiscalização, não foi autuada. Conheço ao menos uma pessoa que foi multada, por ter passado em um pedágio, em rodovia Paulista, sem pagar.

Ao conversar com algumas pessoas, se percebe que o incômodo da maioria não é com a cobrança de pedágio, mas com os valores praticados atualmente. Estaremos acostumados com algo indevido? Só nos manifestamos quando nosso bolso é sensibilizado?

Discute-se juridicamente a diferença entre tributo e tarifa. É vedado ao Estado impedir o trânsito das pessoas devido a uma taxa, mas não lhe é proibido contratar um serviço público, que deverá ser pago através de cobrança dos usuários.

Rodovias federais passarão a contar com o mesmo tipo de parceira público-privada implantada nos estados. As concorrências têm levado em conta as tarifas futuras apresentadas pelos pretendentes.

Provavelmente continuaremos pagando as tarifas para viajar nas estradas. Estamos recebendo o devido retorno em serviços?

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Superação

Cabe aos filhos superarem seus pais. Caberá mesmo?

Em uma entrevista na televisão, Luis Fernando Veríssimo mencionou o quão difícil era ter o pai que tinha, Érico Veríssimo. Por muito tempo viveu a sombra da obra de seu pai, afinal como fazer mais do que um grande mestre da literatura brasileira?

Mais do que desafiar nossos pais, queremos deixá-los orgulhosos de nós e para isso desejamos fazer mais. Há também um resquício do desafio adolescente, de se mostrar capaz.

A proximidade, por si só, já gera a comparação. Desde quando somos pequenos são comuns as frases como: "É a carinha do pai!", "Tem os olhos do meu marido." ou "As feições são da família do meu esposo". Começamos nossa história de herança pelos traços físicos, pela nossa genética.

Conta também a imagem de nosso herói, formado durante nosso amadurecimento. Há heróis da coragem, heróis da força, heróis do saber e os heróis do amor. Seja como for, algum traço, ou muitos, são modelos a nos guiar e inspirar, além de orgulho por ser seu filho.

Com o passar do tempo surge a necessidade de retribuir, de agradecer ao demonstrar o quanto somos sucesso de seu empenho. Há algum mecanismo inato nos entusiasmando quando atingimos nosso objetivo. É muito bom ouvir de nossos pais palavras de incentivo e reconhecimento.

Humanamente fazemos o mesmo com os ícones do passado. Espelhamo-nos em grandes nomes da história da humanidade para definir metas a alcançar. O problema será nos desanimarmos frente à grandiosidade dos antepassados. É essencial auto-estima e certa abertura para não se deixar levar por esse peso e prosseguir.

Acima de tudo, independentemente da superação ou não, de seguirmos como esperado ou não, devemos viver plenamente nossa relação com nossos pais. O amor em família é insubstituível!

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Nulidades

"De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer as injustiças,
de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar-se da virtude,
a rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto.".

Em discurso no Senado Federal, no ano de 1914, o então senador Ruy Barbosa proferiu as palavras acima. É cruel constatar que, desde lá, ano após ano, poucas evidências são encontradas em nossa política para contrariá-lo.

Nos últimos meses, as discussões sobre impostos ilustram bem a situação da discussão política em nossa nação.

Nenhuma lei ou projeto é discutido com referência aos benefícios ou influências na vida das pessoas. A última preocupação parece ser o bem-estar dos 'comuns'. Toda discussão gira em torno de agradar a oposição ou combater o governo, como num jogo infantil de disputa de poder.

Ambos os lados sofrem de um encurtamento da visão. A distância mais longa que enxergam é o período da próxima eleição. São incapazes até de ouvir os ecos de outras ações negligentes com o "longo prazo". É sintomática a situação de "correr atrás do prejuízo".

Num mar de eufemismos, metáforas e colocações inadequadas, ficamos com a constatação da inépcia de nossos representantes em cuidar do bem comum. Os raros "Ruys Barbosa" certamente possuem o mesmo nó na garganta do primeiro.

Pena o célebre Ruy ter esgotado tão magnificamente a questão. Que mais podem os outros acrescentar?

A esperança é serem estes fatos reflexos de uma sociedade jovem e imatura no exercício da cidadania. As mudanças demoram e ocorrem gradativamente. Só o tempo mostrará se as luzes cintilantes dos pequenos sinais de amadurecimento iluminarão os caminhos de nosso país.

Ruy Barbosa não as viu florescerem.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Deltora

Ao acaso podemos encontrar surpresas muito boas.

Fim de semana de verão, férias escolares, uma descida ao litoral, muito sol e calor, são bons ingredientes para começar. Em momento de descanso, peguei um livro pelo caminho, ao acaso.

Livro adolescente, de um adolescente, neste período muito mais interessado nos outros atrativos de seu mês de folga. Aliás, há um bom tempo interessado em outros assuntos, afinal adquiriu o livro faz mais de dois anos e ainda não terminou de lê-lo.

A obra em questão é Deltora Quest - As Florestas do Silêncio, primeiro volume de uma coleção de oito livros. Muitos podem reclamar da importação cultural, afinal temos uma autora australiana, com um enredo medieval europeu, como tantos outros. O fato é que foi bem divertido passar algumas horas envolto em suas linhas.

Todos os eventos se desenrolam em um reino fictício, com uma dupla empenhada em salvar sua terra do mal invasor e reinante. A autora Emily Rodda constrói um universo bem ao estilo Senhor dos Anéis, de J. R. R. Tolkien.

Repleto de criaturas fantásticas, muita magia e segredos dos mais diversos, a saga se desenrola de maneira deliciosa e cativante. Não há a pretensão de se equipar a obra de Tolkien, mas reside neste ponto o grande destaque. Ela é simples, objetiva, mas rica em conteúdo, o suficiente.

Pela ambientação e pela caracterização dos principais personagens, parece ser um enredo para conquistar adolescentes. Já existem outras duas sagas editadas, continuando a história dos companheiros na luta do bem contra o mal.

Ruim foi descobrir que alguns volumes estão bem difíceis de encontrar para compra, talvez pelo sucesso editoral, ou talvez por uma infeliz postura editorial. Já é possível encontrar a coleção em sebos, mas também com a falta de um ou outro volume. Além disso, a tradução poderia ter contado com a escolha de um outro título, como "Saga de Deltora", por exemplo. Tudo bem que ficou igual ao resto do mundo, uma maneira de criar identidade e comunidades pela Internet.

De qualquer forma, nas férias de verão, depois de muita diversão de praia, sol, brincadeiras e amigos, é uma boa opção para o tempinho do descanso.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Folia

Festa tradicional popular, principalmente no interior do país, a Folia de Reis é perpetuada por gerações.

Herança da cultura portuguesa, assumiu diversas formas pelas regiões onde é executada em nosso país. De maneira geral, os cantadores visitam as casas das pessoas, entoando suas músicas típicas, festejando o Natal com a representação dos Reis Magos.

É bacana perceber o quanto é preservado nesses locais o senso comunitário. Essencial para a manutenção de uma sociedade saudável, tal senso une pessoas desconhecidas em torno de uma identidade de grupo. A visita da folia é desejada e motivo de muito orgulho para os moradores.

Há elementos dos mais variados mantidos pela vivência dessa festa: músicas, roupas, ritos. A transmissão desse conhecimento promove até o respeito aos mais velhos, guardiães da tradição passada de geração em geração, de pessoa a pessoa.

As companhias da folia têm uma estrutura bem definida, com diversos papéis e funções: o embaixador e o contra-mestre a comandar, a bandeireira a carregar o estandarte, os diversos bastiões que acompanham, com diversas interpretações, além é claro de muitos foliões divididos em diversas vozes.

Através da manifestação natalina, se desenvolve a cultura artística, religiosa e folclórica. Além de tudo, ainda é muito divertida. É lúdica, uma celebração do Natal e da expressão popular. As crianças, não é preciso nem dizer, são cativadas imediatamente.

A expressão popular é sábia e reflexo dos anseios humanos. Dentre tantas folias populares, a de Reis é provavelmente a mais pura e sincera.

sábado, 5 de janeiro de 2008

Descartável

Descartar é um ato não ecológico.

O descarte dispensa, desperdiça, desvaloriza, os bens produzidos. Tanto do ponto de vista econômico, como do ponto de vista psicológico, observamos um comportamento negativo.

Nosso maior problema é termos como evolução de muitos produtos do cotidiano a sua transformação em descartável. É muito fácil, não? Não precisa limpar, arrumar e guardar. Basta descartar!

Vejamos o exemplo da inocente fralda descartável. Cada uma delas leva cerca de 300 anos para se degradar. Se levarmos em conta que começaram a ser produzidas nos anos 40, podemos afirmar que todas elas, produzidas em nossa história, estão em algum lugar por aí!

Parte do problema da fralda são os tratamentos químicos e os materiais estéreis utilizados em sua fabricação, para garantir a segurança dos bebês. Uma alternativa é o retorno às fraldas de pano. Quem se habilita?

Seria interessante alguém pensar em uma alternativa menos agressiva ao ambiente. Ela poderia ser reaproveitável, ou biodegradável adequadamente. Quem sabe uma versão 'orgânica', como já ocorre nos alimentos.

Começaríamos bem, para prosseguirmos com alternativas a absorventes íntimos, copos plásticos, guardanapos de papel, papéis toalha e toda sorte de maravilhosos produtos presentes em nosso dia-a-dia descartável.

Precisamos começar urgentemente, pois apesar de tanta 'descartabilidade', nosso planeta e nossa vida não são descartáveis.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Inusitado

Almoçar em São Paulo, em regiões de grande concentração de empresas, nem sempre é tarefa fácil.

A maioria dos lugares está cheio, com filas para atendimento ou com grande ocupação dos atendentes. Se levarmos em conta o horário apertado de muitas pessoas, a aventura se torna uma odisséia.

Espaço é também um componente escasso em muitos locais. Parecem ser poucas mesas, ou então estão amontoadas, em exíguo espaço, um empecilho até para o trabalho dos garçons.

Almocei hoje num local com uma proposta no mínimo inusitada: a Panificadora Ceci.

Situada na região do Planalto Paulista, é sucesso concorrido, com boas opções de lanches, salgados, pizzas e alguns pratos. A tradição de muitos anos, cerca de 60, garante a sua divulgação.

O local parece estar sempre cheio, principalmente nas horas de refeições. A grande diferença é a inexistência de lugares para sentar. Nada mais direto a se fazer: se há pouco espaço, as pessoas não se movimentam espontaneamente, então eles fazem com que também não seja fácil parar.

Não chega a ser incômodo e o cardápio compensa o desajeitado modo de serviço. Fiquei no lanche, para facilitar, mas existem os mais ousados, capazes de pedir uma refeição e se servir em pé mesmo, com garfo, faca, bebida e guardanapos.

Há também muitas opções de pães e doces, e um delicioso cafezinho para completar. Todas as opções são muito boas e o estacionamento é gratuito, cortesia da panificadora. A única fila enfrentada foi no momento de pagar, na saída, mas atendida adequadamente.

As dimensões de nossa cidade nos levarão a soluções desse tipo? Serão as melhores? Serão adequadas? Certo lá é apenas a satisfação com a boa comida.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Samba

"Quem não gosta de samba,
bom sujeito não é,
é ruim da cabeça,
ou doente do pé"


É comum a magia do samba tocar as pessoas. Mesmo os mais avessos ao gênero, quando fazem contato com os melhores representantes da música, se deixam levar e apreciam.

O gênero guarda grande intimidade com nossas raízes culturais. A proximidade é tanta que arrisco supor uma intensa e intrínseca conexão com o ritmo, existente em todo brasileiro.

Comprei e ouvi essa semana o último CD de Maria Rita, "Samba Meu". Neste trabalho, a cantora interpreta sambas inéditos de grandes compositores, contando ainda com a participação especial da velha guarda da Mangueira.

De maneira geral, o trabalho é bom, nos conduz em suas escolhas, como os outros anteriores da intérprete. Talvez pela certa falta de novidade, é meio arrastado no começo, um pouco monótono, repetitivo. A mudança ocorre após a faixa "Tá Perdoado", uma de suas músicas de trabalho.

A partir deste ponto, a variedade de interpretações e ritmos, bem ao estilo da cantora, agrada bastante.

Além da boa música, o CD motivou o conhecimento de um pouco mais sobre o estilo musical. Revelou-me um samba que, apesar de familiar, surpreendeu como um desconhecido inusitado e complexo de maneira interessante.

Aquilo chamado 'samba' se estende por diversas nuances, demonstração clara da diversidade de influências e contribuições das mais diversas culturas em sua formação. Lembra-se até o fato de a Bossa Nova ser um estilo de samba, de um jeito novo.

É interessante que, de certa forma, a cantora sempre flertou com o ritmo, afinal seu estilo musical tem a assinatura da Bossa Nova, por herança ou opção.

De desagravo só mesmo a escolha do nome do CD. 'Samba Meu' possui um tom individualista, um tanto egoísta, sobre um tema tão difundido entre nós. A escolha pode ter seus motivos, mas me agradaria muito mais um 'Samba Nosso'.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Deserto

Deserto é um conceito relativo.

Como tantos outros conceitos desenvolvidos, deserto é uma abstração de local vazio. É bem sabido que mesmo no deserto real, há vida, existe um ecossistema, inclusive extremamente sensível e frágil.

Devido à fuga em massa de seus habitantes, São Paulo, nesse primeiro dia do ano, se assemelha a um deserto. A cidade que nunca para, quase para nesses dias de final de ano.

Quase para, pois ainda há movimento, muito além do que muitas outras cidades. Porém, para os padrões da cidade é quase nada. É como se pudéssemos considerar um movimento invisível.

É divertido observar as veias abertas da cidade, suas marginais, radiais e grandes avenidas, com um tráfego tranqüilo. Tornar-se possível atravessar grandes trechos da cidade em apenas 15 minutos. Um verdadeiro deleite!

Filas ainda estão presentes nos super, mini e hipermercados. O que as pessoas vão fazer no dia 31 em um supermercado? Aliás, o que eu estava fazendo lá? É o hábito, ou quase vício, de usar os serviços 24 horas, deixando para realizar algumas tarefas só quando necessário, sem antecipação.

Até mesmo passear pela Avenida Paulista, um dia antes da 'festa de virada', é um momento único durante o ano. A comumente agitada e frenética via estava como uma rua de cidade do interior, com transeuntes calmos, turistas contemplativos e um sol de rachar.

A cidade ganha um espírito calmo, de descanso, de reinício. Ganha um novo fôlego, para se superar e conseguir enfrentar os novos, às vezes um tanto velhos, desafios.

Em meio ao deserto, num respiro de vida da existência, surgem oásis responsáveis pela lembrança que ainda há horizonte.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Feliz 2008

Primeiro dia do ano: Dia Mundial da Paz.

A Paz nos basta. É produto de todo o bem e dela todo ele provém.

Quando a boa vontade impera, quando nos lembramos dos mais fracos, quando praticamos o bem, a paz é uma conseqüência natural. Com a chegada da paz, as pessoas têm mais condições de propagá-la, de se ambientar para uma vivência mais fraterna.

Ela está longe de ser uma situação passiva. Deve ser construída e conquistada diariamente, em pequenos, mas fundamentais, passos. Ações de proposição de um mundo melhor. Um mundo com a presença do espírito humano mais pleno.

Celebramos a chegada de um novo ano. A celebração é feita para marcar, em nosso calendário e em nossos corações, a promessa de tentar mudar, mesmo que um pouquinho.

Esse ano, o tema é a 'Família Humana'. Comunidade primária e tão esquecida, a família é o berço de geração da paz. Canteiro de cultivo de almas, abertas aos ares de uma humanidade mais feliz, se assim desejarmos e deixarmos como herança.

A família assume as mais diversas configurações. Há mais famílias tradicionais, com todos os seus papéis. Há famílias com apenas alguns, mas do mesmo modo repletas de amor. Há famílias com novos papéis, tão importantes no mundo moderno. Há famílias de amigos, unidos no mesmo ideal. Independentemente de sua configuração, felizmente ainda há, e sempre haverá, famílias.

Desejo a todos os amigos, conhecidos e desconhecidos, um novo ano repleto de muita paz, com suas famílias. Para tanto de bom, tão pouco nos basta...