quarta-feira, 30 de julho de 2008

Modernização

"Escravidão não acabou, só se modernizou".

Definindo assim, com ares de conclusão de trabalho sociológico, José Geraldo Ferreira coloca o dedo em uma das muitas feridas de nossa sociedade contemporânea.

Longe dos bancos de cursos acadêmicos de sociologia, o auxiliar de limpeza (eufemismo para faxineiro), entrevistado pela revista Época São Paulo, na edição deste mês, desfila sua visão de proletário explorado.

Brasileiro safo, ele ainda complementa sua visão do cotidiano do humilde trabalhador conterrâneo: "Metrô é que nem navio negreiro"!

As relações humanas evoluíram muito pela história, mas, se destilarmos os sucos resultantes, ainda encontraremos mares de desigualdade. Muitas pessoas ainda estão sujeitas a condições de vida e trabalho não escolhidas, em grande parte insatisfatórias.

Com opiniões diferenciadas, fenômeno destacado da média da população, nosso filósofo do cotidiano demonstra como um pouco de reflexão pode nos levar a percepções bem diferentes da realidade.

Uma única volta no trem metropolitano nas manhãs paulistanas compeli-nos ao conflito. Curiosamente, nem todos os atingidos manifestam tal comportamento. Rotineiramente estar sujeito às condições improváveis do transporte público, faz-nos compreender a idéia do navio. Sei bem o que é isso, apesar de quase todos aparentarem não saber...

Zé faz mais além de analisar as mazelas do sofrido dia-a-dia. Assiste ao Telecurso na TV, pela manhã, no exíguo horário disponível. Opta pelo marxismo. Admira ícones de revoluções sociais. Estuda todos os dias, procurando assistir palestras, na USP, na Câmara Municipal, onde a informação estiver.

Mistério a desvendar, qual a modernização transforma de escravo a cidadão crítico? Como promover tantos cativos a ativos pensadores "Zé"? Das grandes mudanças sociais precisamos descobrir como colher os melhores frutos. Como bem concluiu nosso caro pensador, "uma sociedade politizada anda, evolui".

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