sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Plástica

Possuímos um senso aguçado para o natural.

De alguma forma, talvez com nosso mecanismo evoluído de reconhecimento de padrões, somos capazes de perceber instintivamente o toque da natureza na construção das coisas.

No caso da cirurgia plástica, mesmo a mais bem realizada, ficamos com uma percepção de que algo mudou, alguma coisa está fora do lugar ou em excesso.

Li certa vez que nos primórdios a cirurgia plástica foi usada por pessoas com o nariz decepado. Punição para certos crimes, ou crueldade com pessoas perseguidas, a reconstrução era essencial para inserção social.

Uma prótese utilizando pedaços da orelha substituía o nariz original. Certamente não devia ser perfeito, mas a oftalmologia ainda estava por se desenvolver...

A intervenção cirúrgica para reconstrução facial, ou para correção de problemas anatômicos, é um avanço extremamente bem-vindo, garantindo qualidade de vida para pessoas afetadas por tais problemas.

Seguindo essa idéia, o Trem do Sorriso percorre o mundo ajudando crianças carentes com problemas de fissura no lábio e no palato. Prejudicadas pela má formação, encontram problemas para falar e deglutir, contando como alternativa apenas a cirurgia.

Encampado por médicos voluntários, por onde passa atende gratuitamente milhares de crianças. Desde do ano 2000, já atendeu até o momento mais de 350.000 delas! Um esforço portentoso para garantir uma vida melhor a crianças tão pobres.

Nobreza de um lado, dúvidas de outro. Em épocas de culto à imagem, o emprego de técnicas cirúrgicas para fins apenas estéticos continua em voga. Mesmo um pouco esquecida pela grande mídia, a tendência permanece. E haja dinheiro...

Tudo para tentar "disfarçar" ou "melhorar" algo. Vemos atrizes senhoras, ou até mesmo as jovens, se submetendo aos procedimentos. Intervenção marcante, inevitável realce. Por melhores que sejam as técnicas, a tal sensação de desacordo permanece.

Narizes afilados, rostos esticados, sorrisos alterados. Só deixa de perceber o próprio paciente, iludido em seus anseios de mudança. Mal sabe ele que, por mais avanços da medicina que surjam, ainda não há maneira fácil de realizar plástica da alma.

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