terça-feira, 15 de abril de 2008

Auto

Culpado é o Ford!

Ao inventar o automóvel, disparou um modo de vida autônomo e individual. A possibilidade de se automover amplia capacidades e horizontes do indivíduo, sem vínculo direto e óbvio com um grupo.

É uma ilusão, é claro, mas carece de percepção.

Autonomia não é tudo. Seu método produtivo implica em especialização e produção em massa. São mais dois ingredientes da questionável vida moderna.

Reforçamos as características do "eu". Apesar de roupas serem feitas em grandes lotes, a satisfação, ou pseudo-exclusividade, é prometida a cada um. Ninguém vende produtos por serem mais adequados para todos. O desejo é seu.

As propriedades autônomas foram multiplicadas. O telefone é celular e pessoal. O computador é pessoal. Os tocadores de música são pessoais. Tudo para si só. Compartilhamos com o outro, mas para que ouça no dele!

Maravilha das maravilhas, autonomia total obtemos com o iPhone. Ele e seus similares congregam todas as soluções, unicamente, pessoalmente e móvel. Poderiam ser considerados novos "automóveis"?

Depois do carro (automóvel) ficamos um tanto acanhados de continuar com o prefixo 'auto'. É muito evidente a noção de autonomia, 'independência'. Nesse caso podemos culpar D. Pedro I, com sua máxima de "Independência ou Morte". É uma escolha muito radical...

Amenizar, nós amenizamos, mas a vontade arraigada do individualismo vai nos consumindo, minando as forças, a resistência. Reflexos vemos por toda parte. Reflexos da vontade e de nós mesmos? Segregar a vontade do indivíduo significa apenas arranjar mais um culpado.

E alguns "autos" vão se ajuntando... Preocupação com a auto-estima, atenção a autocrítica, cobrança da auto-regulamentação. Se a independência fosse tão simples, haveria menos autoridades. Quem sabe é necessária autorização para falar sobre.

Autonomia completa esbarra em liberdade. Ou no seu significado. Ou nos seus limites. Frustrações decorrentes do eterno embate humano, do "um" e do "muitos". Será esse o tal "pecado original"?

Entre altos e baixos, de esperança e derrotismo, devemos desejar ao menos não transformar autônomos em autômatos!

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