quinta-feira, 24 de abril de 2008

Pateta

Irracionalidade nos habita a espreita do momento para se manifestar.

Transitar pelas ruas de São Paulo, com um automóvel, perdeu há muito tempo o sentido de transitar. Não há mais horário calmo. Raros são os momentos de tranqüilidade ou previsibilidade.

Sou usuário antigo do sistema de transporte público. Facilidade para quem sempre morou ao lado de uma estação do Metrô. Para os demais desafortunados, habitantes dessa megalópole, resta muitas vezes utilizar um veículo próprio.

É sofrível. Coisa mínima a se mencionar. Em poucas vezes, de rara necessidade, vivenciei o caos dos horários de pico, dentro de um carro. Como é possível suportar? Percebo que as pessoas vão se martirizando e acostumam. Acham normal desperdiçar muitas horas de suas vidas apenas em locomoção.

Fenômeno mundial, o caos do trânsito provoca as mais diversas reações nas pessoas. O comportamento alterado, ou a relação humana com esse desafio, já ganhou definição: road rage. Um das causas é a tensão entre a expectativa de velocidade do motorista e os índices obtidos com as condições oferecidas.

Lembro muito de um episódio do desenho do Pateta... Um cidadão pacato e "normal" assume papel transtornado ao assumir o volante para seu cotidiano em meio ao trânsito. Alterego de muitos ditos humanos, rimos de suas peripécias para não chorar.

Alguns xingamentos aqui, outras aceleradas ali, e a tensão se avoluma. Qualquer indivíduo está exposto e sujeito. Seja por puro envolvimento, ou por total angústia pela falta de poder frente ao problema, a intolerância e o destempero nos tomam completamente.

E assim seguimos em nossa raiva rodoviária. O estudo da road rage conta até com questionário de avaliação, para identificação do estado de cada pessoa. Na opinião de algumas pessoas, a questão atingiu importância de saúde pública.

Já se vão mais de 50 anos, que Disney parodiou tão magnificamente a situação. Premonição, vidência ou análise? Os inúmeros patetas que se cuidem, senão acabam imobilizados em seus automóveis.

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