sábado, 9 de agosto de 2008

Feudalismo

E por falar em modernização...

Feudos surgem novamente! Ao menos um novo exemplar na cidade de São Paulo. O nome Shopping Cidade Jardim encobre o vulto do empreendimento, confundido com apenas um local de comércio.

O feudalismo morava apenas nas aulas de história. Pairava num passado distante, em mundos de reis e cavaleiros. Senhores feudais ostentavam seu poder e protegiam o povo a seu redor, com os devidos tributos e direitos.

Apesar de falar do empreendimento não deixar de ser uma propaganda, não consigo deixar passar. Protegidos atrás de seus muros estão unidades residenciais, escritórios comerciais, restaurantes refinados, além das lojas. Um mundo encerrado atrás de pesadas paredes de concreto.

A empreitada, tema da reportagem da revista Época São Paulo, de julho, conta inúmeras opções para quem desejar se enclausurar em meio à cidade, com todo o conforto e segurança típicos da neurose das grandes metrópoles contemporâneas.

Claro que não é para poucos... O shopping tem, por exemplo, a primeira loja da Daslu deste tipo. Dentre as residências, há unidades de 1.800 m2, com preços em torno de R$ 18 milhões, ou R$ 10 mil o metro quadrado! Podemos imaginar as grandezas para adquirir uma unidade comercial...

Diferente dos feudos do passado, agora diversos senhores se unem e se colocam entre muros. Trazem ao seu redor, como antigamente, suas necessidades para levar uma vida confortável. Só não garantem a moradia a seus vassalos, pois a modernidade lhes permite contratar apenas por salário e carteira assinada.

Ninguém está questionando o mérito das pessoas capazes de bancar os custos do local. Empresários de sucesso ou abastados brasileiros tradicionais, dedicados a seus vultosos negócios, que lhes rendem o suficiente para tanto. O duro é a lógica da estrutura formada.

Como bem lembrou uma colega de trabalho, por qual motivo um pedaço de solo da cidade, que a fim e a termo é o que se resume um imóvel, pode custar 20 vezes mais do que outro, a poucos quilômetros de distância? Qual a coerência de tamanha valorização?

Enquanto os habitantes continuarem sua cruzada, no erguimento de muros e separações, jamais veremos um local melhor para todos, mais humano e feliz. Pior... Certamente os muros terão de continuar crescendo, num ciclo sem fim. No caso deles, devem considerar ter um bom fosso circundando suas muralhas: o rio Pinheiros. Triste condição!

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