segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Outliers

Maravilhoso e incessante caos!

Mitológico e primordial, Caos, o deus grego, ficaria com ciúmes de saber o quanto seu xará está dissolvido em nosso cotidiano, agindo sorrateiramente no destino humano.

O caos referido inicialmente é o conceito desenvolvido por nossa ciência contemporânea. Gerado na Matemática, norteia muitas das questões e soluções da existência.

Se pensarmos bem, a história de problemas com enormes e incontroláveis variáveis é um pouco a admissão de nossa pequenez em abarcar a natureza e compreendê-la.

Criamos então uma visão macroscópica, estatística, factual, capaz de nos permitir certo controle dos problemas e a aplicação de conhecimentos em soluções previsíveis e práticas, apesar de toda complexidade ferramental exigida.

Malcolm Gladwell, em seu livro "Fora de série - Outliers", usa de capacidade analítica extrema para pinçar das mais variadas situações a possível variável mais representativa, influente nos destinos das pessoas fora do comum. Pretende propor alguma ordem ao caos...

Quais fatores biográficos distinguem Bill Gates, Steve Jobs, Mozart ou campeões da liga de hóquei canadense, de outras pessoas, ditas comuns? Seriam características pessoais ou ambientais, as principais vantagens destas pessoas? Como teriam terminado, se pequenas mudanças fossem feitas?

Apresentado de forma didática e acessível pelo autor, o resultado de seu estudo corrobora a complexidade de nossas trajetórias. Entre características pessoais e condições ambientais, somos o resultado de uma combinação única. Uma intricada rede entre o particular e o público, a vida pessoal e a social.

Alguns pré-requisitos como empenho, dedicação e esforço são comuns. Um deles é chave: 10.000 horas. Quantidade de tempo necessária para o exercício de uma atividade até atingir a excelência, em qualquer área. Determinismo intrigante, mas com peso enorme. Barreira transponível e inevitável, fruto de persistência e afinidade.

Se dependemos tanto de oportunidades, sorte e empenho, além de dons inatos, faz sentido procurar controlar nossas rotas? Beleza da ação do caos! Metáfora antiga do rio da vida. Pouco dominamos da existência, por mais que insistamos em tentar.

Longe de ser derrotista, a mensagem do livro é um alerta à consciência. Conscientes do caldo a nos envolver, precisamos nos conhecer e saber observar as boas condições à nossa volta. Agir em busca da excelência, no melhor que sabemos realizar. Em suma, sermos verdadeiros e autênticos, em qualquer momento e aspecto de nossas vidas. O resto o caos proverá.

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