quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Seleção

150 anos!

Raras são as ideias ou teorias a durar, incólumes, por tanto tempo. Principalmente aquelas alvo de acaloradas discussões, contundentes afirmações, desafiadoras do status quo.

Ontem foi comemorado o aniversário da publicação de "A Origem das Espécies", de Darwin. Um século e meio... Longo tempo de irretocável acerto na descrição da natureza.

Se aplicarmos seus conceitos à sua própria obra, poderíamos afirmar que ele vem se consolidando como "a selecionada". Seus memes se multiplicam, demonstram quão bem adaptados são.

Primorosa observação da ocorrência da vida, de tão forte dificulta a imaginação de alguma alternativa, de outra via para o desenvolvimento do universo conhecido.

Para poder apreciar, ou mesmo admirar, mais de perto obra-prima de tamanha magnitude vale a visita ao site The Complete Work of Charles Darwin Online.

Mantido pela Biblioteca da Universidade de Cambridge, conta com livros digitais ou digitalizados, imagens completas de manuscritos, arquivos de áudio. Aliás, um belo exemplo de adoção da mídia digital por uma instituição de 800 anos! Possivelmente outra evidência da evolução...

Gratificantes oportunidades da globalização e acessibilidade do século XXI, quem diria um dia pudéssemos ver o gênio em toda sua caligrafia... Os manuscritos digitalizados são de leitura difícil, afinal "letra" bonita é para poucos, mas por menos que captemos é uma divertida viagem pelas notas e observações do cientista.

E pensar, por exemplo, que parte destes blocos de notas esteve na célebre viagem do Beagle. Reflexões, desenhos, registros, um legítimo blog do século XIX. Fico a imaginar como teria sido Sir Charles em nosso tempo, munido de iPods, GPS, iPhones, Wifi e outras parafernálias...

Retorno

Voltei!

Depois deu um longo e tenebroso inverno, de caminhar pelos desertos vales do silêncio, de aproveitar os bons ventos de um sabático período de reflexão, eis-me aqui novamente.

Sei lá se voltei para ficar, ainda ignoro se esse é mesmo meu lugar, mas foi inevitável. A coceira do teclado é mais forte, as ideias a pulular mais inquietantes, impelem inexoravelmente qualquer um.

Certamente deixarei para trás a antiga periodicidade, religiosamente diária. Talvez seja minha única certeza. Preciso aprender a me controlar e desapegar de ciclos precisos, controlados, previstos. Espero conseguir...

É interessante perceber como em pouco mais de seis meses (um período de hibernação completo nos polos!) tanta história acontece, tantos momentos e tesouros surgem e nos enriquecem, mudam nossas perspectivas, aumentam os elementos em nossa mochila de viagem.

Tanto ânimo pelo retorno me fez expandir alguns horizontes, buscar certa expansão. Não fosse suficiente este espaço, para preencher os espaços possíveis do escasso tempo disponível, resolvi inaugurar outro blog, que manterei paralelamente: o Querido Futuro.

Os assuntos por lá já ocorriam por aqui, em meio a tantos outros posts. Resolvi separá-los, dar-lhes uma atenção especial, afinal descobri (I'd realize..., como bem expressam nossos vizinhos de continente) um assunto que é extremamente presente em meu olhar cotidiano, em minhas vagas preocupações.

Vejamos no que vai dar... Um pouco cá, um pouco lá, anseio por retomar a deliciosa experiência destas empreitadas. Por sinal, seus frutos, seus reflexos, continuaram e continuam mesmo após tão longa ausência. Uma chama duradoura depois de acesa.

É isso aí! Por mais batida, manjada e pretensiosa que seja a expressão, continuarei o exercício de "ser eterno enquanto dure". Nossa expressão, em suas inúmeras manifestações, sempre acaba por nos sentenciar como humanos, demasiadamente humanos.

domingo, 3 de maio de 2009

Sabático

Dois anos ou 731 dias (porque um deles foi bissexto) de gratificante experiência.

Hoje faz todo este tempo que comecei a postar neste endereço, ou seja, é aniversário do SPSoul! Depois de um início cheio de incertezas e desconhecimento, estamos aqui em ambiente bem familiar.

Durante esse período, os textos renderam 179.078 palavras, sendo 21.359 únicas. Nada menos do que 988.921 (quase 1 milhão!) de caracteres para compor este extrato de breve existência.

Essa semana tive ideia da proporção destas quantidades. Descobri que o Antigo Testamento tem pouco mais de 300.000 palavras, em reportagem sobre um chip presenteado ao Vaticano.

Nada, nada, neste curto espaço de tempo foram escritos textos em proporção de mais da metade do clássico religioso. Jamais imaginei que chegaria a tanto... Fico curioso da possibilidade de impressão deste material. Quantas páginas seriam?

Aproveito a data para também encerrar esse período, esse ciclo de registro diário de opiniões e reflexões. Isso mesmo, a alma paulistana que vos escreve precisa de um tempo, ou de mais tempo. É momento de um hiato sabático, de renovação e redirecionamento.

A vida muda, as perspectivas e necessidades vão junto. No pesar de disponibilidade e prioridade, alguns outros projetos tomam a dianteira e ganham vez. Boa quantidade de ideias que também precisam ser desenvolvidas.

Ainda é cedo para dizer quando volto, ou se volto, a postar. Talvez mude o foco, quem sabe a periodicidade. Certo apenas o fato de que será diferente. Textos começados, e ainda guardados, são a coceira de reserva, que poderá se mostrar irresistível.

De qualquer forma, o percurso destes meses foi inesquecível, transformador. Vivência recomendável a qualquer pessoa, sem sombra de dúvida. Quem experimentar saberá do sabor viciante da expressão digital, em tão poucas linhas.

Olhar para a fileira de posts deixados é como fazer uma fotografia do espaço-tempo, congelar o continuum através de bits e bytes. Sinais digitais testemunhas de um simples existir. Auto-retrato virtual grafado nas veias da Internet.

Como em outros momentos, agradeço a participação e colaboração de tantos amigos e desconhecidos. Comentários, correções, opiniões que enriqueceram o transcorrer deste blog até o momento. A todos deixo um abraço de fraterna gratidão.

Inté!

sábado, 2 de maio de 2009

XMind

Nada mais difícil do que nos descrevermos.

Descrever as ideias a transitar por nossas cabeças então... É querer complicar mais ainda. No mínimo nos defronta com a necessidade de melhor entendimento.

Talvez, mais do que descrição, a grande complicação é dispô-las de maneira organizada e compreensível, principalmente para outras pessoas.

Reside na tradução a mais ingrata das tarefas na comunicação. Até a tradução para o mesmo idioma... O simples falar a mesma língua é insuficiente.

Ambientes, experiências, impressões são muito particulares e fatores preponderantes para a conceituação. Vai saber as sinapses geradas...

Nem sei se, acaso reproduzíssemos plenamente a configuração sináptica de um cérebro, obteríamos os mesmos resultados, o mesmo entendimento.

Boa solução gráfica poderá ser encontrada com os mapas mentais. Diagramas sistematizados para a representação do conhecimento, podem ser utilizados em inúmeras áreas e problemas de variadas dimensões. Generalização da abordagem para entender o que se sabe.

Aplicado em brainstormings, é ferramenta de grande valia e poder de síntese. Em estudos extensos, serve muito bem como guia de referência e orientação à construção de textos. Para representar ementas e roteiros de aula é mecanismo prático e eficiente.

Em qualquer caso, nada como um bom software para agilizar a tarefa. Conheci recentemente o XMind, opção opensource, com versões para diversos ambientes, inclusive como plug-in para Eclipse. De fácil uso e conjunto variado de estilos, oferece recurso suficiente para a maioria das aplicações.

Há até uma versão paga, com garantias de evolução e suporte, mas que em tempos atuais é dispensável. Se bem que o valor anual, abaixo dos US$ 50, justifica a colaboração, para a manutenção e incentivo dos responsáveis por seu desenvolvimento.

Digital ou em papel, quanto antes começarmos a usar, mais rápido seremos beneficiados. Surpreende as estruturas escondidas em nossos pensamentos, as obviedades omitidas, as semelhanças desapercebidas. Talvez demore a chegada à compreensão plena, talvez jamais cheguemos, mas sem dúvida passearemos bastante e encontraremos muitos novos caminhos.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Trabalho

"O trabalho enobrece o homem".

Eufemismo dos mais antigos, denota o quanto fugimos da sina inevitável à existência. Tentamos extirpar a necessidade da labuta como quem combate mal imenso.

Ancestral associação, Adão e Eva foram condenados a deixar o Paraíso e passar a ter que... trabalhar! Castigo divino pelo constante inadequação humana aos preceitos universais.

Apesar dos pesares, após a industrialização a imagem piorou, mesmo com a condição melhorada. Pensando bem, os maus tratos, as condições inadequadas, apenas mudaram, trocaram de figura.

Resistimos a aceitar que nenhuma opção sobra. Esquecendo os simulacros da vida moderna, todo e qualquer ser humano tem que conceder sua parcela, contribuir com tempo de alguma atividade produtiva para a sociedade.

Se dermos sorte, podemos ter uma profissão ou função de nosso agrado pessoal. A velha de história de trabalhar com o que gosta. A parte esquecida é que, por mais prazeroso que seja, ainda sim dará trabalho!

O resultante pode ser gratificante, talvez resida aí a satisfação, mas certamente despenderá esforço. Qualquer outra amenização é pura ilusão. De tempo, de esforço ou de sentido. Outra realidade poucas vezes encarada: o vínculo do sucesso à dedicação.

Por que dissimular a realidade? Parece pairar um espírito preguiçoso em todo exemplar do homo sapiens. Ninguém negará o deleite em algum tempo de ócio, papo pro ar, mas é uma questão de sobrevivência, de manutenção do existir.

Considerar o labor diário como fato facilitará a perspectiva do enfrentamento cotidiano. Com melhor compreensão, com a exclusão de méritos e deméritos, saberemos valorizar e priorizar as constantes demandas vindouras, além da apreciação de seus frutos.

Melhor resolvidos com nossa condição, poderemos discernir adequadamente nossos rumos e prioridades. Seja como for, apenas teremos certeza da inevitabilidade de levantarmos na segunda-feira, após o feriado, e seguir o caminho da roça. Se quisermos continuar...

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Plastiki

O que os olhos não veem o coração não sente...

Muitas vezes, depois que veem, o coração fica apertado, causa dores na consciência, das consequências desapercebidas pelos atos de contínua inconsciência.

É o caso da relação com o meio ambiente. Cada papelzinho, cada dispensa exagerada de lixo, cada consumo descontrolado de bem natural, some no espaço e no tempo, como se nem tivesse acontecido.

Se cada habitante do planeta pudesse dar um "giro" pelo Giro do Pacífico, talvez ficasse sensibilizado com os depósitos que fazemos na contabilidade da estabilidade ambiental.

A maior parte de seus componentes é plástica. Garrafas, garrafões, potinhos, seringas, sacolinhas, inúmeros alienígenas que certamente não nasceram ali, nem mesmo deveriam terminar sua existência por aquelas bandas.

Um imenso cemitério de PET, e outros plásticos, meio como um cemitério de elefantes. Recipientes de líquidos desta família, em sua maioria, ao final da vida, procuram misteriosamente o caminho de seu último destino, meio que por instinto, sabedoria congênita.

Em 1997, na volta de uma regata, o velejador americano Charles Moore passou pela tal região no Oceano Pacífico e constatou a situação da região, relatando suas observações em uma revista científica, cerca de dez anos depois. Há certa até hoje certa indefinição de suas reais dimensões, mas é inquestionável sua proporção alarmante.

Seu relato sensibilizou o aventureiro inglês David Mayer de Rothschild, conhecido por desafios e explorações por toda a Terra. Ambientalmente engajado, este decidiu realizar uma viagem, em um barco feito de material reciclável, movido a energias renováveis, para alertar das necessidades de mudanças significativas em nossa atuação com a natureza: a expedição Plastiki.

Fundador da Adventure Ecology, ONG promotora de projetos que aliem aventura com ecologia, sua iniciativa poderá chamar a atenção para os esquecidos pequenos descasos do cotidiano. Serão muitas garrafas PET, milhares de quilômetros, energia eólica e solar.

Nem todos podemos dar um giro por lá, nem talvez constatemos presencialmente sua existência, mas que está lá, está. Memorial da nossa incompetência em gerenciar os recursos que recebemos de graça. Importante alerta para como decisões do dia-a-dia influenciam, e influenciarão, os rumos da vida de a humanidade.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Moral

Difícil a compreensão da moral...

Cientistas, filósofos, pensadores e afins buscam continuamente teorias unificadoras, que coloquem de maneira simples e direta ordem no entendimento da natureza.

O mundo físico tem muitas teorias, mas podemos destacar três ou quatro pilares que cobrem boa parte do conhecimento, permitindo com muita lógica a descrição e compreensão de quase tudo.

Mesmo a linguagem humana, um tanto abstrata, de origens perdidas na história, pode receber sua formulação, como nas ideias de Chomsky.

Apesar de tantas teorias, em tantas áreas do cotidiano, ainda não concebemos uma teoria da moral, que consiga generalizar e entender seus mecanismos através das sociedades e do tempo. Impossibilidade ou incapacidade?

Falta muitas vezes entender a moral ou, anteriormente, a ética. Isso mesmo, ética. Às vezes tão invocada, na maioria delas nem tão bem colocada. Como ensina com propriedade o professor Cortella, ela é a fronteira da nossa convivência. Conjunto de princípios e valores de conduta que uma pessoa ou grupo de pessoas tem.

O ilustre professor também dá a dica da importância da ética. Responder três constantes perguntas da vida humana: Quero? Posso? Devo? Qualquer conflito entre as respostas destas três perguntas resultarão nos dilemas inerentes ao existir.

E qual a relação da moral com toda esta história? Podemos defini-la como a colocação em prática das respostas que elaboramos. Exatamente, teoria e prática. Ainda que às vezes a teoria seja nebulosa e as versões sejam inúmeras.

Moral da história, mesmo com alguns indícios, somos impossibilitados de abstrair todos os conjuntos éticos desenvolvidos pelos povos, em único e abrangente mecanismos gerador. Tudo que podemos fazer é captar alguns indícios, aqui e ali, procurando nos manter íntegros no cumprimento das relações estabelecidas, da melhor forma possível.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Autoria

Direito autoral, cisma antiga e delicada.
Ninguém negará o direito ao autor sobre sua obra intelectual. É inalienável! A produção de uma pessoa deve ser respeitada e protegida, garantindo reconhecimento e retorno.

Até em mensagens postadas no Twitter chegou a preocupação em respeitar a origem das ideias. Com a expressão "RT" (ou seja, retwiit) fazemos menção ao produtor original da frase.

Agora, convenhamos, equívocos sempre há por aí... Quando começam com essa história de registrar nomes, para em seguida exigir direitos, é uma grande distorção do conceito!

E isso é apenas o começo, o mais gritante. Surgem daí disputas internacionais infrutíferas, de um mercantilismo mesquinho de ideias nem um pouco inovadoras ou criativas, questionáveis de sua proteção. Por exemplo, será mesmo que alguém teve a coragem de registrar a palavra "cupuaçu"?

Precisamos ter o pé no chão para definir do que se trata a tal obra, o que realmente podemos considerar produto da elaboração intelectual humana. Discussão inglória mais necessária, a fim de coibir estupidezas e desmandos, com tons de jogadas espertas.

Outro problema é o reaproveitamento integral ou parcial de alguma obra, como nos remixes musicais, para criação de um novo ente artístico. Um artista que despende esforço em reorganizar tons e acordes, distorcer melodias, numa nova e inédita bem arranjada composição, está criando.

É só olhar o caso Kutiman, um DJ israelense. Ele recolheu vídeos de execuções musicais no Youtube e editou numa sinfonia coordenada, formando uma única obra, coesa e interessante. Os resultados podem ser encontrados no site do Thru-you, nome de batismo de seu projeto.

Seu feito foi buscar arduamente músicos, dos mais diversos estilos e qualidades, que não se conheciam, e remixar seus trabalhos em uma sinfonia sensacional. Deu voz a desconhecidos, harmonizou o desconcertado, inovou e criou!

Só que agora tem gente querendo processá-lo, por usar os vídeos sem autorização. Depois do sucesso, diga-se de passagem... Reflitamos um pouco. Vídeos na Web pressupõem disposição à exposição. As pessoas na maioria nem são profissionais. Qual o pecado do artista?

Ele concede os créditos aos colaboradores. Declara abertamente estar desinteressado de remuneração financeira pelo trabalho. Está apenas querendo gerar diversão e compartilhá-la. E bota diversão na história! Os estilos são surpreendentes e vibrantes.

De mais a mais, o conhecimento humano não deixar de ser uma sucessão de reinterpretações de teorias, ideias, teses. Uma construção perpassando a história, recebendo a contribuição de pessoas, de diversas fontes, formando o maravilhoso arcabouço do saber contemporâneo.

Assim ponderou maravilhosamente Sir Isaac Newton quando disse: "Se fui capaz de ver mais longe, foi apenas porque eu estava apoiado sobre ombro de gigantes". Ouça as músicas de Kitman e entenda que se pode compor tão bem, foi apenas por que estava sobre o ombro de milhares.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Morse

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Dias atrás, eu escrevia sobre o crescente hábito do instantâneo entre nós. Nesta segunda-feira é comemorado o aniversário de nascimento de Samuel Morse, mais um dos responsáveis por essa noção.

Suas criações, o código Morse e o telégrafo, encurtaram distâncias, reduziram o tempo e permitiram a comunicação mais instantânea e direta do que antes imaginado.

Intrigante conjunto de traços e pontos, o alfabeto minimalista otimizou o uso das linhas de transmissão e permitiu o contato rápido entre lugares muito distantes.

Fruto do interesse científico do seu criador, ao participar de uma conversa sobre eletroímã, envolveu longa dedicação até a obtenção de um código funcional.

Linguagem multimídia, afinal pode ser transmitida em diversos meios: pulsos elétricos por cabo, ondas mecânicas, sinais visuais ou ondas eletromagnéticas, se mostra prática e útil nas mais diversas situações.

Apesar de ter passado por inúmeras formulações, utilizada em guerras ou aplicações comerciais, sobrevive há mais de 100 anos. Radioamadores e escoteiros ainda aprendem e fazem uso, mantendo viva esse alfabeto pictórico, meio hieróglifo.

Nem é preciso uma pedra da roseta para conseguir traduzir mensagens codificadas. Muito menos a dedicação em aprender e exercitar a tabela. Há diversas versões de site para tradução, onde basta digitar o texto, em um código ou outro, e receber na outra codificação.

Bom lembrar, é claro, que pouco adiantará se você estiver em algum lugar distante de um computador. Perdido em alguma ilha deserta, seu iPhone ou iPod Touch será de pouca valia, afinal qualquer antena estará longe demais para um contato... Convém aprender pelo menos o código para S.O.S..

domingo, 26 de abril de 2009

Etnocentrismo

Humanos que somos, centramo-nos no próprio umbigo.

Desde a infância criamos a impressão do mundo girar ao nosso redor. Crescemos, mas não perdemos esse hábito. Projetamos as visões à partir de própria experiência.

Os motivos variam: gênero, raça, religião, nacionalidade. Mesmo que sejamos minoria, lá no fundo, nos meandros do inconsciente, sentimos como se todo o resto do mundo fosse semelhante a nós.

Exercitamos nossa perspectiva até com a natureza. Em meio à vida existente nos consideramos escolhidos, eleitos filhos divinos do criador.

Discriminação do diferente. Estranheza para confirmar o estranho. Melhor exemplo são as manifestações do dia de hoje, com a ocorrência da partida de decisão da final do campeonato paulista.

Discussões e preferências à parte, que não devem jamais ser discutidas, os gritos ouvidos pelo quarteirão, em meio à torcida por esta ou aquela equipe, denotam claramente o sentimento de intolerância. Neste quesito prefiro continuar ateu, não professar desta fé.

Há quem atribua o etnocentrismo à questões culturais. De repente, pode ter relação com a educação, com a criação, origens familiares... Históricos de um povo, segregações sofridas, disputas territoriais poderiam ter influído na formação de nosso comportamento?

Sentir-se o centro do mundo tem cara de ser mais genético... Através da história, independentemente de qualquer dos fatores mencionados, observamos relatos da recorrência deste comportamento tão humano. Justamente nossa espécie, tão maravilhosamente diversa.

Apesar de tantas diferenças, de tanto conflito gerado por esse instinto, ainda continuamos dando certo. Até quando? A humanidade faz um esforço enorme, há milênios, para tentar diminuir esse sentimento. Missão árdua, pois mude o que mudar, continuaremos humanos, demasiadamente humanos.

sábado, 25 de abril de 2009

Meteorologia

Faça chuva ou faça sol, sempre há uma opinião.

Tentar desvendar o clima é um desafio antigo, para proteção, para estudo econômico, por diversão ou superstição. Somos tão sujeitos ao ambiente que não podemos deixar de fazê-lo.

Meteorologia já virou um assunto quase mitológico. Ao ouvir os relatos sobre os prognósticos para os próximos dias, sempre há um ar de advinhação, por mais científico que seja.

Histórias passadas deixaram estes estigmas. Quem nunca confiou e levou uma invertida? Saiu desprotegido e acabou acuado, em algum canto, esperando o temporal passar.

Porém devemos reconhecer, nos últimos tempos as previsões têm se tornado constantemente mais acertadas. E com acurácia por alguns bons dias.

Em tempos de "Mac imersão", tempo consultado diversas vezes a previsão do tempo, no Dashboard do computador. Invariavelmente os resultados têm sido bem acertados. Há muito mais do que sorte envolvido nesse sucesso.

Primeiro há uma compreensão muito melhor dos mecanismos do clima. Correntes marítimas, sistemas atmosféricos, influências da presença humana no ambiente, uma vasta gama de fenômenos que compõem o caldo dos humores do planeta.

De nada adiantaria essa compreensão se estivéssemos alheios as mudanças destas variáveis. Temos que medi-las constantemente, o mais precisamente possível. A vasta de rede de satélites espalhada no espaço contribui com medições constantes e precisas, de uma inimaginável imensidão de dados.

Ainda assim, pouco estaria resolvido se fosse impossível analisar tamanha montanha de dados. Além disso, é necessário produzir simulações da evolução de tais condições. Tarefa para considerável poder de processamento.

Felizmente poder de processamento também já deixou de ser problema em tempos atuais. Mesmo que uma máquina estivesse aquém das necessidades, grids delas certamente obterão o poder muitas vezes maior para encarar a tarefa.

Pois é, a moça do tempo pode dispensar qualquer tipo de habilidade sobrenatural. Tecnologia e ciência são suficientes para dar conta do recado. De qualquer jeito, é bom sempre lembrar que os imprevistos estão por aí. Um guarda-chuva de reserva no escritório nunca será demais.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Miojização

"'Miojização' da vida - uma vida miojo - onde tudo é instantâneo".

Leitura matinal, alerta provocador, li a frase acima em entrevista da revista Showroom, da Assobrav, com o professor Mário Sérgio Cortella.

Alguns chamam de sincronicidade, outros de mera coincidência, mas tenho me deparado inúmeras vezes com as ideias do professor desde que ganhei seu livro "Qual é a tua obra?".

Ou ele está mais presente nas diversas mídias, ou eu passei a prestar mais atenção em seu nome. Seja como for, suas pontuações sempre acabam em reflexão ou inquietação.

Na questão miojo, é duro constatar o quanto "instantaneamos" nossa vida. Elaboramos as mais diversas formas de obter itens básicos do quotidiano com imediatismo assustador.

Comidas de preparo instantâneo são conhecidas de muito tempo. Uma água quente, uma misturada rápida e está pronta para comer. O forno micro-ondas possibilitou que mesmo os alimentos convencionais fossem preparados quase instantaneamente, ou no mínimo a refeição requentada rapidamente, o que dá quase no mesmo.

Máquinas polaroid também já fazem parte da história, mas começaram a linhagem da instantaneidade. Com a fotografia digital, para ser mais instantâneo, só se a imagem fosse apresentada no ar logo após o registro, sem a necessidade de apertar algum botão do equipamento para revê-la.

Para localizar uma pessoa instantaneamente basta ligar para seu celular. Nem adiante dizer que não possui. Tudo mundo tem um. Está lá, a qualquer hora, em qualquer lugar, à disposição de quem quiser encontrar. Normalmente os interlocutores esquecem até de perguntar se a pessoa pode atender. Questão de educação.

Mensagem eletrônicas, o fatídico e-mail, transformaram a comunicação escrita em outro instantâneo. Ninguém mais lembra de alguns dias para uma carta chegar, ou semanas para atravessar continentes. O limite da velocidade é a reação do apertar da tecla enter.

Nem os posts de blogs escaparam da miojização. O Twitter é o macarrãozinho dos registros digitais diários. Poucos caracteres (só 140), poucas ideias e um montão de exibição, para não dar nem tempo de reflexão ou aprofundamento.

Curiosamente todo mundo come miojo, principalmente no aperto, mas sempre reclama. O sabor é aquela tranqueira mesmo, a quantidade é pouca, nem sustenta. Só que as pessoas ainda assim continuam se sujeitando. Alguém vai acabar suspeitando de um componente viciante na sua composição.

Somos estranhos assim. Reclamamos, mas continuamos. Agimos da mesma forma com os outros instantâneos da vida. Deve ser algo na nossa genética, evolutivo. Estaremos fadados a contínua degradação de nosso cotidiano? Espero ter uma vida menos instantânea para ter tempo de descobrir.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Chorinho

E por falar em dias comemorativos...

Comemora-se hoje o dia do Choro. Calma, ninguém precisa se acabar em lágrimas, pois estamos falando do estilo musical, mais conhecido no seu diminutivo, o Chorinho.

Aliás, preciso fazer uma correção... Quando mencionei ontem ser dia do Livro, estava equivocado ou confuso. O tal dia é comemorado hoje. Pelo menos tive certeza da confusão gerada pelas várias datas da comemoração literária.

Voltando à música, a comemoração na data de hoje é uma homenagem ao nascimento do músico (para tentar resumir sua diversas habilidades musicais: flautista, saxofonista, compositor, cantor, arranjador e regente) Pixinguinha.

Se ainda fosse vivo, o ilustre representante da música nacional talvez chorasse por ver os estilos contemporâneos existentes na atualidade... Um choro de tristeza pelo empobrecimento cultural, bem diferente de sua alegre e vibrante expressão brasileira de outros tempos.

Quantas pessoas ainda sabem o que é o chorinho? Quantos filhos do novo milênio já tiveram a oportunidade de escutar suas elaboradas melodias? Tão popular e tão acessível, soa simples aos nossos ouvidos. Surpresa descobrir a opinião de profissionais da área a considerá-lo de complexa execução, exigindo do músico muito estudo e técnica, além de pleno domínio do instrumento.

Considerado a primeira música popular urbana típica do Brasil, conquistou até o grande compositor Villa-Lobos. De todas as suas composições, o ciclo do Choro é considerada a mais significativa! Importância dada ao estilo popular por alguém tão lembrado pela erudição.

A vida mudou tanto daqueles tempos para cá que fico a imaginar como seria a nova versão das rodinhas de choro, pelas esquinas e vilas de uma cidade como São Paulo. Onde em nosso imenso mar de concreto as pessoas poderiam aportar para confraternizar calma e alegremente ao som dos violões, bandolins, cavaquinhos, flautas e pandeiros?

Outros tempos de um Brasil mais singelo, mais fraterno, mais humano. Um dia para tentarmos lembrar as motivações daquelas pessoas, da alma colocada em seus versos. Procurar aprender como é possível transformar choros e chorões em momentos de diversão, confraternização e intensa alegria.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Earth

"Ah, mas o dia dela é todos os dias..."

Quantas vezes não ouvimos algo assim em algum dia comemorativo? Substitua o tema por mães, crianças, livro, índio e verá que se encaixam perfeitamente na frase.

Escolhamos datas para celebrar algo que cotidianamente negligenciamos. Como se a lembrança em um único dia fosse consertar nossa falta de zelo.

Hoje é dia da Terra e dia do Livro. Nada mais adequado. Dois itens categoricamente esquecidos na maioria dos dias do ano. Falta costume ou hábito de respeitá-los.

O literário já é uma confusão em sua instituição. Na data de hoje é uma instituição da UNESCO, sendo o Dia Mundial do Livro, além de pelo prazer da leitura. Mundo afora os países instituem datas distintas, fazem seus dias regionalizados. Nem assim a situação editorial melhora.

No caso da comemoração planetária, a homenagem foi proposta justamente por um representante de uma das nações que mais contribui para os problemas inerentes ao ambiente. Todos somos culpados, mas ninguém dá as costas tão magistralmente como seus conterrâneos.

Por mais evidências que surjam, por mais dúvidas que possamos ter acerca da exatidão das teorias, está na hora de tomarmos atitudes cotidianas e concretas. Sem alarmismos, mas com amplitude de visão, é impossível ficar estagnado, estancado, deixando o barco afundar.

É tanto desperdício, tanto descaso, em todo canto, que dá pra ficar desesperado. Difícil imaginar outra iniciativa que não a reforma do rotina diária pessoal. Cada um, por si só, acordado e de acordo, sinceramente preocupado com o impacto ambiental de sua simples existência.

Só pode estar sossegado quem está morto. Alheio só se for alienígena, sem interesse algum em continuar observando este exemplar de ecossistema baseado em carbono. No mínimo deve ter que se perguntar se está acordado, para desconfiar que não está dormindo.

As chances são poucas. Melhor dizendo, a chance é única. Perder uma oportunidade única é imperdoável. Mais do que falar, devemos agir. Precisamos cuidar da nossa casa, pois desejo muito poder comemorar muitos dias de Terra, ao longo do ano, por muitos anos ainda.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Mártir

O martírio pode embotar a visão.

Drástica situação, sua gravidade enevoaá a história e a situação. Dramatizado o fato, fica mais difícil enxergar a luz dos fatos. Aumenta a complicação de destrinchar a verdade do mito.

Historiadores incumbidos da tarefa de desvendar os meandros destes eventos históricos devem ter trabalho pra mais de metro. Se bobear, levam a vida escarafunchando indícios.

A começar pela ideia de mártir, relacionada inicialmente com testemunho de cunho religioso. Migrou para a vida laica como entrega de vida por uma causa, mas o espectro dogmático persistiu.

Em qualquer dos casos, o martírio remove qualquer outro aspecto da vida do mártir que não relacionado a seu desprendimento (se é que houve) para abraçar seus ideais até o fim.

Suas idiossincrasias, seus defeitos e mau-humores ficam encobertos pelo brilho do heroísmo, do estigma de um super-homem. Sua morte gloriosa expia qualquer pecado em vida. Provoca a releitura completa de sua passagem, relevando as contribuições ao seu fim consumado.

As consequências são tão bem conhecidas que nem poder autoritário estabelecido deseja fazer de seus inimigos um exemplar do martírio. Ato assim daria força a movimento contrário, elegendo compulsoriamente um ícone de luta contra sua ditadura.

De uma forma ou de outra, a massa ganha um escape, uma via de extravasamento das esperanças. Sem outras opções, é apresentada ao fiel depositário dos valores de sua luta, dos ideais revolucionários de sua popular missão.

Devemos atentar as nuances das histórias produzidas pela história. Isso não remove a importância dos fatos ocorridos, nem demove os ímpetos e desejos de um movimento legítimo. Celebrá-los com consciência reforça seu caráter determinante na formação de um povo.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Bo

"Quem tem tempo caga longe".

Peço perdão pelo tom chulo, mas a expressão, repetidas vezes proferida por um colega de trabalho, é assertiva em descrever muitas situações que passamos no cotidiano. Deixa pouca margem à dúvida.

Por exemplo, em uma viagem ao litoral, aguardávamos mais um membro da família chegar. Uma conversa começou, e se prolongou, acerca de qual colchão ela iria usar.

Isso numa casa em que o número de camas e colchões é certamente superior ao de habitantes. Queria ver se não houvesse onde dormir, nem mesmo um teto...

Somos assim, adaptados às próprias condições, invariavelmente insatisfeitos e um tanto alheio a tantas outras condições menos favoráveis.

Vejamos só a atual discussão na terra do Tio Sam: a escolha do melhor amigo do homem mais poderoso do mundo. Barack Obama ganhou Bo, o primeiro-cão. Vida dura, nem bichinho de estimação é fácil escolher...

Alguns podem achar que a polêmica foi gerada pela declaração do presidente americano, ao afirmar finalmente ter um amigo. Ele fez apenas alusão a Harry Truman, que disse se um homem no seu cargo desejasse um amigo, arranjasse um cachorro.

O problema no meio político americano foi outro. Em promessa de campanha, Obama comprometeu-se a adotar um cachorro abandonado. Mais um dos feitos de bom-moço do paladino dos novos tempos mundiais. Eleitores não gostaram do descumprimento, pelo menos os oposicionistas.

Tenho para mim que a implicação é outra. Deve ser relacionada com a raça do cãozinho, um cão d'água português. Provavelmente prefeririam alguma outra raça mais "americanona", menos europeia, ainda mais uma lusitana!

Seja como for, quem tem tempo... Como se não houvesse mais nada ocorrendo no mundo. Sendo o fiel companheiro de uma estirpe de acompanhantes marítimos, espero que seja um bom presságio para as mares que o nosso poderoso amigo do norte terá de enfrentar.

domingo, 19 de abril de 2009

Genômica

Para onde olho, vejo simulacros.

Pode ser influência da leitura de Simulacro e Simulação, de Jean Baudrillard. Apesar do discurso um tanto prolixo, sua mensagem é marcante e provocativa. Reflexão mais do que pós-moderna, denominação como o autor devia odiar.

É matéria de capa desta semana, na revista Época, a disponibilização de exames para mapeamento genético, realizado por clínicas particulares e a preços acessíveis, pelo menos para bolsos mais abonados.

Através da amostra de algumas células, retiradas com pequenas espátulas das paredes internas da boca, é feito um mapeamento das mutações nos genes do indivíduo.

Tais mutações podem indicar propensão a determinado tipo de doença, predisposição a comportamentos, além de sua ancestralidade. Quanta informação obtida de tão poucas células e de maneira tão indolor...

A descoberta da ancestralidade serve para curiosidade ou algum tipo de auto-psicanálise. Já as predisposições comportamentais e patológicas, colaboram na escolha das melhores condutas de vida ou na adoção de terapias e tratamentos preventivos.

Há ainda muita controvérsia na eficácia de tais métodos e sua finalidade. Teimamos em obter uma relação de causa e efeito em tudo que descrevemos. Quais são as garantias de podermos predizer algo, baseados no estudo do passado, em condições bem específicas?

Em caso sem muita alternativa, como em doenças degenerativas sem cura, alguém realmente gostaria de saber ser uma potencial vítima? Interessante mesmo só para a indústria médica, perita em vender problemas e soluções, tudo muito bem arranjado.

De qualquer forma, a ilusão mesmo é ver tudo isso propagandeado como amplamente disponível em cerca de 10 anos! Basta repararmos na realidade da saúde em nosso país, com as condições de hospitais e do atendimento público, o desrespeito de agentes privados com seus clientes e tantas outras mazelas que estamos cansados de assistir e sofrer.

A quem desejamos enganar? Os problemas são antigos e as promessas também. Uma corriqueira tomografia mereceu o mesmo alarde há 10 anos atrás. Procure saber o quanto é difícil conseguir atualmente uma, nos rincões de nossa nação. Triste constatar que vivemos simulacros para nos tornarmos mais seguros e felizes.

sábado, 18 de abril de 2009

Savoir-faire

Certas expressões são plenas de significado.

Explicá-las só dificulta as coisas. Traduzir então... é tarefa para muito poucos. Nem por isso as pessoas deixam de tentar realizá-la, mesmo que isso signifique insucesso.

Por exemplo, savoir-faire. Há quem a traduza como know-how! Justamente uma expressão fria, um tanto técnica, sem toda graça envolvida no savoir-faire.

Tudo bem, não está errado. Errado não se aplica à tradução deste caso. Só que fica um bolo sem cereja. Nem acredito que seja pelo idioma escolhido, mas pelo estilo da expressão.

Enquanto a versão saxã tem um tom de manual, de saber como fazer (know = saber; how = como), a latina soa com muito mais romantismo, como a concretização da sabedoria (savoir = saber; faire = realizar).

Deixado de lado o "jeitinho brasileiro", a expressão guarda maior semelhança com a brasileira malemolência. Usada para explicitar o traquejo experiente e bem sacado para tratar determinadas situações.

Quem possui o tal savoir-faire transparece certa mágica naquela área. Agraciado com certo dom, certa iluminação, para navegar nos meandros de sua habilidade. Parceria ideal com a ideia de graça, bem concedido com independência de mérito.

Um colega de trabalho comenta repetidas vezes a capacidade de sociabilização da esposa. Pessoa capaz de unir grupos, influenciar indivíduos e fazer amizades, sem demonstrar esforço. Habilidade que ninguém consegue aprender na escola, pelo menos conscientemente.

E olha que tem gente que se esforça, mas está longe de conseguir. Não vem de dentro, não nasceu com aquilo. Aliás, para bem definir e resumir, é inato! As pessoas assim agraciadas devem ter alguma conexão sináptica especial e única, proveniente de mutação.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Mente

"What is mind? No matter. What is matter? Never mind."

Com este trocadilho, George Berkeley instiga um pouco mais nossa curiosidade a respeito da entidade que nos compõe, ou nos domina, ou sobre nós mesmos.

Investigamos amplamente nosso centro nervoso, o atual comandante da máquina humana, em todos seus impulsos elétricos, sinapses, neurônios e células gliais.

E entendemos tão pouco sobre... Mapeamos circuitos, caminhos, regiões e fazemos uma profusão de suposições. Identificamos pelas perdas e acidentes, pelo reverso, muitas de suas funções.

Será nossa mente, nosso eu consciente, resultado de todo esse processo? Reflexo natural do intricado engenho das conexões, combinadas em reações ao ambiente e necessidades basais de manutenção corporal?

Todo o universo a circular em nossa cabeça poderia resultar apenas de um constante maremoto eletrobioquímico? Discursos, discussões, reflexões, pensamentos, ideais, teorias surgiram apenas de um rico processo evolutivo. Da ameba à neurose...

Nem onde está podemos ter certeza... Um dia os gregos creditaram ao coração sua morada. Entendiam dessa forma por ser o órgão mais importante conhecido. Transferimos a importância a outro órgão, outro sistema. Lembram de avisar a mente da mudança?

Há ainda a possibilidade de uma origem divina, extrassensorial, celeste. Mistério de vida, solução mais confortável, afinal mistério prescinde de explicação. Apenas é. Curiosamente o mistério não acarreta simplesmente aceitação, desperta ainda mais curiosidade.

Só não há como duvidar de sua existência. A própria discussão sobre ela é fruto seu. Material ou etérea, incomoda a humanidade há milênios. Deverá incomodar por muito mais tempo ainda... Talvez seja isso que importa, o incômodo, importante motivação.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Privada

"Água mole em pedra dura..."

No caso da prefeitura de Salvador, seria mais adequado na expressão a substituição de água por urina. Isso mesmo, Scooby-Doo, xixi! Segundo as notícias, uns xixis custarão R$ 500 mil.

Esse é o custo para recuperação das estruturas de um viaduto, prestes a cair, corroídas pela acidez do desafogar de inúmeros soteropolitanos transeuntes.

Meu tio possuía um caminhão que vivia com o metal da roda dianteira oxidado. Pinturas e reformas não conseguiam vencer a corrosão.

Intrigado com a situação capciosa, do mágico retorno da ferrugem, tentou descobrir sua causa. Espantado verificou que a culpa era da existência de um ponto de táxi, em frente ao local de estacionamento do mencionado caminhão.

Pois é, a roda era o banheiro daqueles motoristas. Haja acidez! Porém, o alerta feito, algumas reclamações (e um pitbull plantado do lado do veículo) deram cabo do problema. Uma economia considerável de tinta e manutenção.

De fato, fiquei impressionado com o desprendimento das pessoas, em fazer de mictório público paredes e postes na capital baiana, pelas vezes que visitei a cidade. A falta de cerimônia não distingue rua ou avenida, ocorre até em lugares bem movimentados.

Em por aqui, discutimos as necessidades fisiológicas de nossos pets. Madames carregam sacolinhas plásticas e garrafinhas d'água, para higienizar possíveis locais atingidos pelas necessidades básicas e naturais dos bichinhos.

Por outro lado, pilares de um viaduto não são feitos de açúcar... Concreto armado, em grande volume, de boa qualidade, deve precisar de rios de urina para corroer. São muitos os desinibidos baianos, mas não deve ser a cidade inteira.

Talvez o assunto envolva a melhor conservação de patrimônio público. A boa e velha prática de preservar o bem comum, responsabilidade do poder governamental, nem sempre tão valorizada. Ainda temos o costume de confundir propriedade pública com privada.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Porta

E atrás da próxima porta temos...

Momento total de curiosidade, expectativa em descobrir os mistérios guardados após aquela barreira. Não, não estou falando de nenhum programa de auditório.

A questão aqui é o fascínio exercido por estes elementos tão cotidianos em determinada etapa da vida dos bebês. Descobrem para que servem maçanetas e começa o desafio.

Elas estão por todo lugar. Nos armários, como guardiãs de objetos pessoais. Em carros, como protetores da integridade do motorista. Na frente das casas, dedicada zeladora da intimidade do morador.

Fato é que observo o quanto a minha pequena insisti em querer abrí-las, mesmo onde não lhe é permitido. Se conseguisse conquistar tal abertura, certamente seria mais um pouco da doce baguncinha cotidiana a aflorar.

Quando conquistou força e destreza para abrir as portas da estante da sala, tive imediatamente que tomar um providência. Alguns calços de papel deram conta de travá-las e impossibilitar a fácil abertura, exigindo mais músculos para a tarefa.

Ninguém pense que desistiu por isso. De vez em quando, está passando por lá, ou se apoiando para ensaiar uns passinhos, e tenta mais algumas vezes puxar a bendita. Uma hora conseguirá, afinal basta só um pouco mais de braço.

Nas poucas vezes que precisamos abrir e ela está por perto, é inevitável o esticar de olhos, ou a correria para chegar e dar uma espiadela. O que será que eles escondem lá que fazem tanta questão de me omitir? Por que sempre cortam meu barato quando já estou quase chegando?

Explorar também se expandiu para outros cômodos da casa. Armarinho do banheiro, cômoda do quarto, estantes do escritório. Se as portas não se abrem, recebem uns tapões com a mãozinha, para fazer barulho ou descarregar a frustração.

Curiosidade infinita de mente voraz por descobertas. Vez ou outra tem o prazer dos louros da conquista, comemorado com um sorrisinho estampado no rosto. Que seja um bom treino, pois haverá muitas portas para abrir na vida.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Biodegradável

Saco de lixo biodegradável?

Dias atrás, eu passava pelo supermercado quando me deparei com esse produto inusitado, pelo menos em meu cotidiano.

Justamente um dos derivados do petróleo mais comentados. Lixo problemático de difícil dispensa, a entulhar nossos aterros sanitários.

Pois uma ida ao supermercado pode ser muito instrutiva! Fui pesquisar e descobrir que não é apenas uma jogada de marketing ou avaliação equivocada.

Chamados bioplásticos, estes polímeros produzidos a partir de biomassa podem assumir diferentes versões: biodegradável, oxidegradável ou fotodegradável.

O primeiro deve ser o que vi na loja. Pelo menos espero, pois há certa polêmica na utilização das outras duas possibilidades.

Enquanto o biodegradável é decomposto por microorganismos, as outras são pelo contato com o oxigênio ou pela exposição à luz, respectivamente. Nos dois casos, os resíduos normalmente terminam em partículas minúsculas, poluentes atmosféricos.

Para os biodegradáveis, pesquisadores na Inglaterra têm solução, feita à base de açúcar extraído de milho. A solução brasileira é feita à base de cana-de-açúcar. Mais um viés econômico para este importante bem agrícola nacional.

Nosso plástico de açúcar estreará em escala industrial provavelmente em 2010. Deveremos ver produtos corriqueiros, principalmente não reaproveitáveis, como sacolinhas de supermercado, fralda descartável e sacos de lixo.

A estreia trará só vantagens. Enquanto o plástico comum demora 50 anos para desaparecer, a versão biodegradável demora de 1 a 5 anos. Além disso, temos a redução do consumo de derivados de petróleo, a redução de emissões de carbono, com a absorção pela fotossíntese, dentre outras.

Estejamos atentos e vamos dar a preferência. Sem dúvida, a melhor das opções é o uso de sacolas de lona, não descartáveis. Quando não for possível ou viável, sabemos que existe uma opção menos indigesta para a natureza.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Wolfram

Vem chegando mais um desafiante...

Felizmente há quem deseje ainda desafiar a hegemonia do todo poderoso Google. Afinal, sua participação no mercado é expressiva, mas não totalizante, pois está um pouco acima de 70%.

Diversas vertentes inovadoras surgiram, algumas mais especializadas como o TinEye, outras mais abrangentes como o Cuil, porém todas a procura de superar o tradicional buscador.

As motivações são diversas, mas em sua grande maioria vêm da percepção de deficiências na consagrada forma de indexação operada pelo gigante devorador de páginas.

É comum percebermos que o resultado não é tão satisfatório, ou mistura assuntos demais, ou está influenciado por técnicas de SEM, ou simplesmente cai num buraco negro sem nenhum relação com nosso interesse.

Evidentemente reclamamos da exceção, descontentamento provocado por estarmos mal acostumados... Criamos uma imagem de Oráculo de Delfos para o serviço de buscas do pessoal de Mountain View.

Sabemos que não é bem assim. De qualquer forma, por que não desejar a perfeição? A missão é árdua e desafiante, boa para matemáticos e suas intrincadas análises da natureza através dos números. Devem ter sido instigados desta forma o pessoal da Wolfram.

Seu produto mais conhecido é o software Mathematica. Clássico de longa data nas universidades. Com ele fazíamos de tudo um pouco nas pesquisas e manipulação de dados, criação de modelos, estudos de algoritmos. Funções não faltavam ao programa.

Esse pessoal resolveu entrar no mundo das buscas, oferecendo uma solução com linguagem mais natural. Prometem um serviço onde poderemos postar perguntas que serão respondidas fundamentadas em sua base de conhecimento. Estaremos mais perto de um oráculo...

O WolframAlpha deverá estrear em maio deste ano. Ainda um tanto misterioso, é necessário se cadastrar para postular o privilégio de usá-lo. Tem sido comum essa abordagem de "selecionar" pessoas para terem o gostinho da estreia.

Aguardemos para ver... Já mandei meus dados e espero poder experimentar. Duvido que estejamos diante do santo graal das pesquisas de informação. De qualquer forma é divertido acompanhar a evolução destes mecanismos e poder usufruir do imenso mar de conhecimento disponível, cada vez mais acessível.

domingo, 12 de abril de 2009

Passagem

Tantas são nossas passagens pela vida...

Ritos de passagem estão presentes em todos os momentos da existência humana. Passagem para a vida adulta, para a adolescência, para o matrimônio, dentre outros.

A passagem comemorada no dia de hoje, traz a visão de um novo modo de vida. Vida liberta no amor e fraternidade, desapegada de mesquinharias.

Nova vida simplificada com a possibilidade da existência de um único pecado: o descrédito na esperança. Ignorar as possibilidades salvíficas em última instância.

Em entrevista na TV Bandeirantes, o professor Mário Sérgio Cortella assim bem definiu. E completou. Condenado está aquele que não se arrepende nem nos últimos instantes.

Apresentou também uma nova perspectiva de rei e salvador. Não um glorioso envolto em riquezas terrenas e poder. Um sábio repleto de caridade e doação, feito humano para humanizar a divindade, aproximá-la do alcance de nossa imperfeição.

Revivemos essa passagem anualmente. Muito além das lembranças, dos excessos de chocolate, dos muitos pães de época, está a recordação no poder do amor, capaz de transformar toda e qualquer situação, todo e qualquer indivíduo.

Símbolos de fertilidade e prosperidade estarão aos montes por aí. Maior símbolo será o testemunho de vida daqueles irmanados no amor ao próximo. Consistentes formações da estrutura social de um mundo certamente melhor.

Gostamos tanto da passagem que a repetimos indefinidamente, periodicamente, para frisar, para entendermos a lição. Celebramos num dia para perpetuarmos em todos os outros do ano. Para descobrirmos a verdade da esperança em nossos corações cotidianamente.

sábado, 11 de abril de 2009

Bombeiro

"Quando eu crescer, quero ser bombeiro".

Quantas e quantas crianças não alimentaram o sonho pueril de assumir o papel de combatente do fogo. Misto de veneração e romantismo, perpetuado há muito tempo.

Também seria para menos? De todas as profissões, quantas podemos elencar com as características de altruísmo e dedicação existentes na em questão.

Até são remunerados, mas sabemos que, por melhor que seja, está distante de ser remuneração vultuosa. Possivelmente permite apenas continuar firme em seu propósito de cumprimento do dever.

Tarefa para valentes, dadas as condições do trabalho. Arriscar a própria vida para salvar a de outrem. Haja desprendimento para se engajar em tão nobre missão. Além do árduo preparo para enfrentar seu cotidiano.

Cotidiano de risco e invariavelmente muito calor. Duelo constante com inimigo natural dos mais ancestrais da humanidade. O elemento fogo é ferramenta, diferencial depois de dominado, mas quando se rebela... Exige trabalho estratégico e persistente para seu combate.

Há também os socorros em outras emergências. Enchentes, desmoronamentos, afogamentos, tantos infortúnios em nossa frágil condição física. Mesmo quando sabemos nos defender, às vezes é necessária a intervenção de um anjo inesperado e predestinado.

Anjo que chega a ser solicitado para a pacata tarefa de buscar um gato perdido na copa de uma árvore. Ou capturar um animal selvagem perdido na cidade. Um profissional sempre alerta, pronto a estender a mão para o pronto-auxílio, o pronto-socorro.

Ainda bem que as crianças continuam alimentando seus sonhos. Felizmente muitas delas os carregam pela vida, até se tornaram humildes heróis. Heróis agraciados e gratificados com a recompensa de um muito obrigado pela minha vida. Há melhor pagamento?

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Pacha Mama

Nada mais sagrado do que mãe!

Que tal reconhecer então o direito da mãe natureza de ser tratada como tal? De garantir àquela que nos nutre durante toda a vida o respeito e cuidado merecidos?

O Brasil, com sua imensidão de natureza, deveria ser dos primeiros a fazê-lo. Ao invés disso, vemos o desmatamento desenfreado, apesar do que possam dizer, do maior símbolo natural, a floresta amazônica.

Enquanto isso, nossos vizinhos no Equador incluíram em sua constituição tal reconhecimento. Fizeram mais, incorporaram a natureza como sujeito merecedor de direitos inalienáveis!

Indo além, caracterizaram este sujeito por Pacha Mama, antiga deusa máxima dos andes peruanos e bolivianos. Nome na língua quíchua não poderia significar nada menos do que Mãe Terra. Reconhecimento digno a tão importante cidadã.

Isso mesmo, tornaram a Mãe Natureza mais nova cidadão do país. Está lá, no artigo 71, da mais recente transcrição constitucional promulgada, direito constitucional aliado a preservação cultural das tradições de seu povo.

"A natureza ou Pacha Mama onde se reproduz e realiza a vida, tem direito a que se respeite integralmente sua existência e a manutenção e regeneração de seus ciclos vitais, estrutura, funções e processos evolutivos. Toda pessoa, comunidade, povo ou nacionalidade poderá exigir da autoridade pública o cumprimento dos direitos da natureza".

A partir de 2008, todo cidadão equatoriano é procurador da natureza, para representá-la na exigência de seus direitos, fiscalizando a autoridade pública no cumprimento de seus deveres. Ousadia pouco vista, mesmo em tempos de crise ambiental.

Se pensarmos em tudo que representa a natureza, fauna e flora, perceberemos a abrangência assumida em tais deliberações. Consolidação de esforços e evolução da humanidade na compreensão dos mecanismos inerentes à própria vida.

Luzes esperançosas de um novo milênio mais promissor. Sementes lançadas para outras iniciativas conscientes. Que a cidadania recém-adquirida não fique apenas na sua existência de direito, mas se materialize de fato, como já deveria acontecer há muito tempo.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

SMS

"Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá..." [1]

Desde tempos imemoráveis, poetas cantam a vida e o mundo em seus versos. Jogam jogo delicioso de palavras e ideias, cutucam recantos de nossa percepção.

Longos ou curtos, ou até atômicos, seus textos exploram as dimensões do papel. Traduzem sua alma nas dimensões físicas impostas pelo meio, pela mídia escolhida.

Expressam seus anseios de acordo com a cultura vigente, ou a transgridem, ousam além de seu tempo e seu lugar. Metamorfose constante e deliciosa do rosto humano.

Evidentemente, a Internet já participa, contribui com essa forma de arte. Seja na simples divulgação, seja na absorção do corpo, na criação de limites e conceitos. Prato cheio para os artistas concretos, a explorar a infinita variedade de materiais existentes no mundo digital.

Mas o inquieto mundo digital é sempre surpreendente. Nos menores bits existentes podem afluir nascentes de refrescante água criativa. Seria de se esperar, em tão prolífero e etéreo campo, sorvedouro do ímpeto expressivo homo sapiens.

SMS é um serviço um tanto em desuso, meio obsoleto frente às pirotécnicas vertentes da mais recente tecnologia. Para que serviria um opçãozinha de troca de textos, simples cadeias de letras, em uma existência cada vez mais visual? Para trocar poesias!

Exatamente isso... Utilizar um "antigo" recurso da telefonia celular para explorar novo formato para cantos à vida, ao amor, à existência. Inusitado a primeira vista, a iniciativa recebeu atenção digna dos instigantes desafios à nossa inventividade.

Batizada pelos ingleses de Mobile Phone Poetry, direta e obviamente, a lista de alguns poemas enviados ao jornal The Guardian demonstra a força da multidão, do surgimento do poeta e poesia em cada representante da nossa espécie.

O "gadget do cotidiano", nossa mais familiar extensão cibernética, permite a expressão do dia-a-dia, do popular, como acontece com a boa poesia. Que maravilhas existiriam se Camões, Fernando Pessoa ou Vinícius de Moraes tivessem acesso a essa oportunidade, em desfrutar desses primores?

quarta-feira, 8 de abril de 2009

LED

Como mudam as coisas...

No meu tempo de curso técnico, LED era apenas um componente comunzinho, coadjuvante da maioria dos projetos criados pelo estudante. Era apenas a "interface visual" dos circuitos.

Estudantes mais ousados o utilizavam com componente ativo, com função mais determinante, aproveitando suas características e curvas de função. Melhor proveito para pequenino tão capaz...

Ainda que imaginasse, ou visse, utilidade mais complexa, mal poderia imaginar o futuro que o aguardava. Em tempos de otimização de consumo de energia, esse espartano emissor de luz ganha destaque.

Thomas Edison
gastou muita energia, principalmente intelectual, para produzir a revolucionária lâmpada incandescente. Passamos a controlar a luz! E ele, além de fornecer sua fonte luminosa, forneceu a fonte para a fonte, a rede de distribuição elétrica. Afinal como faríamos para utilizar genial invenção?

Talvez venha daí o grande problema do invento. Criado por alguém interessado em vender energia, sem dúvida a última de suas preocupações seria ser econômico. Desperdiça boa parte da energia consumida produzindo somente calor, energia térmica.

Na época do apagão, o santo graal do consumo de energia foram as lâmpadas fluorescentes, assim chamadas econômicas. Avalanches de de tubos deste exemplar invadiram as lojas. Pouco tempo depois já tinham assumido a forma de suas gastonas concorrentes, se adequando melhor aos bocais e lustres pelo país.

Unidos em matrizes de luzinhas, os LEDs são a nova tentativa em produzir uma fonte de luz moderna e adequada às nossas condições ambientais do momento e futuras. Já podemos vê-los em semáforos e faróis de automóveis. Ainda possuem a vantagem adicional de não falharem todos de uma vez.

Configuração mais moderna, compatível com as lâmpadas existentes no mercado, eles prometem substituir cotidianos bulbos. Com menor consumo, potência adequada e custo acessível, conseguiram prevalecer num futuro próximo. Quem diria que os pequeninos componentes poderiam ressurgir em formato tão variado e promissor. Nunca devemos desprezar os pequeninos.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Repositório

Brasileiros, somos mesmo livres.

Acaso será nosso jeitinho brasileiro, nossa liberdade em sermos espontâneos, sei lá... Apenas reconheço que em matéria de colaboração somos campeões. De braços abertos para contribuir.

Nem me refiro ao ímpeto de ajudar vítimas de desastres naturais, nem de união em causas populares. Basta olharmos o mundo do software e veremos inúmeros casos de sucesso e inovação.

Claro que essa característica vem para o bem ou para o mal. Figuramos nos primeiros lugares de países com hackers e riscos de segurança digital. Afinal, gostemos ou não, falamos de pessoas...

Por outro lado, também temos líderes no desenvolvimento de soluções de software, tanto em segurança como em outras áreas. Por um bom tempo, o guardião do desenvolvimento do kernel do Linux foi um brasileiro, de apenas 19 anos, Marcelo Tosatti.

Um bom exemplo, público inclusive, é o Repositório Digital da Embrapa. O portal contempla as mais diversas soluções desenvolvidas pelo órgão, técnico-científicas, em áreas de pesquisa, desenvolvimento e inovação. Vasto material intelectual legitimamente brasileiro.

Baseado em software livre, também torna livre boa parte de produção científica relativa à agroindústria, agropecuária, agricultura e afins. O acesso está aberto a quem desejar pesquisar e aproveitar. Para quem atua na economia da natureza deve ser diversão por um bom tempo.

Alguém deve estar se perguntando, ou se preocupando, com toda o diferencial estratégico detido por nosso país em negócios correlato. Questão de atenção nacional, afinal somos líderes em diversas frentes do agronegócio! Legítimos celeiros do planeta, enviando alimentos para seus quatro cantos.

Só que isso em nada afeta nossa segurança. Apenas deixa mais claro o quanto a informação livre e compartilhada pode render frutos e ampliar horizontes. Continuamos na dianteira e demonstramos potencial difícil de igualar. Provavelmente, poupança de destaque para nosso futuro.

Provamos que o investimento em ensino e pesquisa provê resultados. E que resultados! Nosso conhecimento está aí, crescente e disponível, apto a receber contribuições e florescer sempre mais. A liberdade é insumo para campos continuamente verdejantes.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Urbenauta

"Sua" vida é andar por esse país...

A música não era assim, mas se tivessem conhecido o Urbenauta bem que poderia ganhar uns versos ligeiramente diferentes.

Nem acredito que ele deseje um dia descansar. É feliz por continuar a navegar nas urbis de nosso imenso Brasil, descobrindo os lugares mais inusitados bem ali do lado.

Astronautas viajam pelo espaço. Argonautas singram os mares na nave Argo. Um viajante pelas cidades, consequentemente, é um Urbenauta.

Cidades como São Paulo são propícias para o surgimento de tal espécie. Com suas colossais dimensões, boa parte da população certamente desconhece boa parte da cidade onde mora.

De um canto ao outro é uma coleção de cenários, culturas e rostos completamente distintos. Mosaico multicolorido, expressão mais do que humana em sua extrema concentração. Sou suspeito para continuar descrevendo minha cidade...

Ontem, eu assistia um programa na TV Rá Tim Bum, que tenho um quadro chamado "Expedições do Urbenauta", ou algo assim. Naquele episódio ele ia procurar o último ponto extremo dos limites da cidade, na região Leste.

Os outros três extremos já haviam sido visitados. No caminho deste dia, encontrou diversas pessoas, em áreas pobres de uma cidade tão rica. Um destes habitantes, um senhor de alguma idade, conhece a cidade apenas até o bairro da Penha!

Não faz ideia como são as ruas da metrópole depois de lá. Jamais foi ao centro, ou nem mesmo próximo a ele. Se levarmos em conta que a maior parte dos pontos turísticos, parques, principais prédios públicos estão "do lado de lá", ele praticamente não conhece nada do grande lugar onde mora.

Exclusão provocada pela imensidade, geográfica e econômica. Cidadãos de uma nova versão de cidadania. Enigma para as políticas públicas e sociais, num novo tempo, de infindáveis mares de eleitores, distribuídos num adensamento sem precedentes.

O Urbenauta tem muito ainda a explorar. Viu além para além do simulacro, do desenho do mapa. Pode observar o cantinho mais distante do gigante paulistano. Aos poucos, por imagens e visitas, monta o quebra-cabeças dessa "Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba".

domingo, 5 de abril de 2009

Confiança

"Eloí, Eloí, Lamá Sabactâni?"

Todos temos direito a duvidar, a questionar os preceitos da vida, mesmo que isso simbolize nossa fraqueza, nosso titubear frente às escolhas e o destino.

Confiar não significa certeza cega e absoluta. Pressupõe depósito de esperança na capacidade de algo maior, mais elevado, superior.

Desafios sempre existem, comumente crescem em dimensão com o passar do tempo, da maturidade, da percepção do mundo. Cresce assim a necessidade força.

O ato da confiança exige certa humildade. Reconhecimento de que não somos onipotentes. De que possuímos limitações e deveremos contar com mais fatores a nosso favor, além de unicamente nosso potencial.

Compõe também nossa confiança a firmeza de princípios. Perceber que os valores mais elevados incutidos em cada alma, desde a mais tenra infância, se sobrepõem a qualquer insegurança. Pilares sólidos de uma ponte rumo à felicidade comum.

Desprendimento também conta. Deixar-se um pouco em favor dos outros. Entender sua sina do ponto de vista do grupo. Permitir a melhor participação possível, independentemente de vantagens individuais, de satisfações estritamente pessoais.

Resultado do processo de confiança é o acolhimento. Acolher os desígnios elegidos para seu caminho. Receber com a acolhida de muitos ramos a enfeitar seu caminho. Acolhida consciente, opção determinada, decisiva, e não apenas subjugação.

Agora, acima de tudo, há que se acreditar. Acreditar com toda força do coração. Acreditar com os sumos mais puros da alma. Crença extraída da nobreza dos sentimentos. Pode parecer óbvio, mas é surpreendente entender o quanto confiança é um ato de fé.

sábado, 4 de abril de 2009

Personalidade

Em álbuns de família, um cinema de si próprio.

Quadros passa numa sequência, evolui no tempo, transformam cenas e registram nossa transformação. Momentos, encontros, pessoas, tantas recordações.

Observo minha foto bebê, depois na adolescência, na época da faculdade ou nos primeiros anos de trabalho. Apesar das semelhanças, evidentemente não é a mesma figura que está lá.

Nem teria como. Crescemos, mudamos, provavelmente em algum momento da vida já não temos nenhuma célula pertencente ao primeiro conjunto do nosso corpo.

Aliás, periga trocarmos completamente nossa matéria várias vezes durante a vida. De qualquer forma, continuo sempre identificando-me, assim como a outras pessoas.

Será quem alienígena, ou outra forma de vida, que não tenha os mesmos processos que o nosso, entenderia essa unicidade do indivíduo? Como se processa nossa percepção da existência do eu e do outro? Como temos tanta certeza de que é o mesmo ser?

Algo foi plantado em nós, pela evolução ou pelo Universo, para nos permitir a consciência de tal fato. Dizem que essa é a diferença essencial dos seres humanos com os outros animais. A consciência de tal identidade é uma gigantesca abstração da história de uma pessoa.

Assim fica mais simples compreender como são possíveis as inúmeras disfunções da psicologia humana. Dissociações de um ambiente tal complexo e intricado. Mecanismo repleto de recantos e mistérios que produz nossa face, nossa interface, nossa interação.

Nós, ocidentais, ainda simplificamos um pouco. Consideramos apenas um "eu". Orientais vêm o "eu" como uma ilusão. Teríamos muitos deles, em constante interação e disputa, produzindo aquilo que vemos expresso nos rostos e ideias perambulando pelo mundo.

O grande mistério da mente continua no ar... Nem do que é feita sabemos. Suspeitamos de sua existência e resvalamos em indícios cotidianamente. Continuamos intrigados e perguntando, observando, elaborando miríades de explicações. Ao final, a única certeza é de que serei sempre eu enquanto olhar no espelho e me reconhecer. "Mistério sempre há de pintar por aí"...