terça-feira, 21 de abril de 2009

Mártir

O martírio pode embotar a visão.

Drástica situação, sua gravidade enevoaá a história e a situação. Dramatizado o fato, fica mais difícil enxergar a luz dos fatos. Aumenta a complicação de destrinchar a verdade do mito.

Historiadores incumbidos da tarefa de desvendar os meandros destes eventos históricos devem ter trabalho pra mais de metro. Se bobear, levam a vida escarafunchando indícios.

A começar pela ideia de mártir, relacionada inicialmente com testemunho de cunho religioso. Migrou para a vida laica como entrega de vida por uma causa, mas o espectro dogmático persistiu.

Em qualquer dos casos, o martírio remove qualquer outro aspecto da vida do mártir que não relacionado a seu desprendimento (se é que houve) para abraçar seus ideais até o fim.

Suas idiossincrasias, seus defeitos e mau-humores ficam encobertos pelo brilho do heroísmo, do estigma de um super-homem. Sua morte gloriosa expia qualquer pecado em vida. Provoca a releitura completa de sua passagem, relevando as contribuições ao seu fim consumado.

As consequências são tão bem conhecidas que nem poder autoritário estabelecido deseja fazer de seus inimigos um exemplar do martírio. Ato assim daria força a movimento contrário, elegendo compulsoriamente um ícone de luta contra sua ditadura.

De uma forma ou de outra, a massa ganha um escape, uma via de extravasamento das esperanças. Sem outras opções, é apresentada ao fiel depositário dos valores de sua luta, dos ideais revolucionários de sua popular missão.

Devemos atentar as nuances das histórias produzidas pela história. Isso não remove a importância dos fatos ocorridos, nem demove os ímpetos e desejos de um movimento legítimo. Celebrá-los com consciência reforça seu caráter determinante na formação de um povo.

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