sábado, 4 de abril de 2009

Personalidade

Em álbuns de família, um cinema de si próprio.

Quadros passa numa sequência, evolui no tempo, transformam cenas e registram nossa transformação. Momentos, encontros, pessoas, tantas recordações.

Observo minha foto bebê, depois na adolescência, na época da faculdade ou nos primeiros anos de trabalho. Apesar das semelhanças, evidentemente não é a mesma figura que está lá.

Nem teria como. Crescemos, mudamos, provavelmente em algum momento da vida já não temos nenhuma célula pertencente ao primeiro conjunto do nosso corpo.

Aliás, periga trocarmos completamente nossa matéria várias vezes durante a vida. De qualquer forma, continuo sempre identificando-me, assim como a outras pessoas.

Será quem alienígena, ou outra forma de vida, que não tenha os mesmos processos que o nosso, entenderia essa unicidade do indivíduo? Como se processa nossa percepção da existência do eu e do outro? Como temos tanta certeza de que é o mesmo ser?

Algo foi plantado em nós, pela evolução ou pelo Universo, para nos permitir a consciência de tal fato. Dizem que essa é a diferença essencial dos seres humanos com os outros animais. A consciência de tal identidade é uma gigantesca abstração da história de uma pessoa.

Assim fica mais simples compreender como são possíveis as inúmeras disfunções da psicologia humana. Dissociações de um ambiente tal complexo e intricado. Mecanismo repleto de recantos e mistérios que produz nossa face, nossa interface, nossa interação.

Nós, ocidentais, ainda simplificamos um pouco. Consideramos apenas um "eu". Orientais vêm o "eu" como uma ilusão. Teríamos muitos deles, em constante interação e disputa, produzindo aquilo que vemos expresso nos rostos e ideias perambulando pelo mundo.

O grande mistério da mente continua no ar... Nem do que é feita sabemos. Suspeitamos de sua existência e resvalamos em indícios cotidianamente. Continuamos intrigados e perguntando, observando, elaborando miríades de explicações. Ao final, a única certeza é de que serei sempre eu enquanto olhar no espelho e me reconhecer. "Mistério sempre há de pintar por aí"...

Um comentário:

Laura Bernardes disse...

Adorei, texto e imagem!!! Parabéns!!!! Graças ao Google!!!