sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Crochê

Revisitando velhas artes propagamos tradições.

Guardo com carinho a lembrança de minha avó tricotando, ao pé-da-letra. Talvez algumas amigas preferissem fofocar, mas o tricô dela era mesmo com agulha e .

Já minha mãe era mais do crochê. Certa vez trabalhou arduamente, dias a fio, num verdadeiro projeto. Almejava uma colcha construída com tal técnica.

Primeiro foram os miolos de flores amarelos. Em seguida, as pétalas brancas. Depois quadrados azuis em torno delas. Finalmente, a junção destes diversos quadrados numa lindíssima peça, trabalhada completamente com as mãos e agulhas.

Deve ter levado dias a fio, ou meses talvez, a minha memória já está meio gasta. Porém, lembro bem que fui um evento familiar. Uma verdadeira torcida! Eu e meus irmãos, bem pequenos, ficávamos empolgados e torcendo pelo fim. Coisas de criança.

A colcha cobriu sua cama por muitos anos. Se bobear, ainda está guardada com carinho, em algum armário, para se exposta no quarto, com toda sua utilidade, esporadicamente, e matar a saudade do trabalho feito por si.

Os administradores engajados da atualidade encarariam o empreendimento como um projeto. Provavelmente o dividiriam em etapas, com prazos e objetivos bem determinados. Acompanhariam seu desenvolvimento e, ao término, teriam uma excelente vivência para o curriculum. O feito é para poucos!

Nem sei como anda a história dos trabalhos manuais femininos atualmente. No passado, lá pela juventude da matriarca de nossa casa, eram comuns as escolas para moças, onde podiam cursar "Prendas Domésticas" e passar o resto da vida indicando a ocupação "do lar".

Pelas voltas do mundo, muita coisa mudou. Hoje legiões de senhoras usam seus conhecimentos para trabalhos sociais. Grupos de muitas delas tricotam gorrinhos para crianças carentes com câncer, em tratamento, ou então, enxovais belíssimos para bebês de famílias pobres. Sábios saberes!

De vez em quando, alguém redescobre estas artes antigas e as aplica em novos meios. Passarelas de moda já foram agraciadas com esse toque especial da vovó. O comum e singelo ganhou ares de hype, moderninho ou qualquer outro rótulo que interesse àquela indústria.

Esses dias, em algumas voltas pela Internet, encontrei uma pessoa que faz arte com crochê. Um trabalho bem diferente, esculpido com as agulhas tortas. Seu portfólio está exposto no Flickr e, no mínimo, é divertido visitar suas criações.

Por algum motivo especial, esses conhecimentos bacanas, tão aconchegantes a memória afetiva, são memes a derivar por nossas mentes. Vira e mexe aportam em alguma cabeça, para nos enternecer e trazer boas lembranças.

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