quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Devagar

"Devagar se vai ao longe".

Muito mais do que pregar a morosidade, a antiga máxima flerta com a relação entre apreciação e qualidade, com a calma para contemplar e realizar em plenitude.

No final da década de 80, uma iniciativa, inicialmente gastronômica, se associou aos mesmos ideais para protestar contra a aceleração promovida pelo mundo moderno.

O movimento Slow Food, hoje presente em todo o planeta, inclusive no Brasil, é uma organização sem fins lucrativos, ecogastronômica e gerida pelos seus participantes para contestar o fast-food e o estilo acelerado de vida.

Sua motivação está além de um hedonismo desenfreado e injustificado. Ela foi originada na percepção da perda de hábitos saudáveis, conseqüência da industrialização e da evolução econômica recente.

Quantas vezes não nos achamos sem tempo? Quanto nossa percepção do tempo está encurtada? Essa alteração em nossa noção da realidade está intrinsecamente ligada aos ritmos impostos por um cotidiano agitado.

Uma pista da diferença que os ritmos podem causar em nossa qualidade de vida está na comparação entre o estilo de vida de americanos e franceses: ambos os povos têm hábitos alimentares com níveis calóricos e colesteróicos similares, mas os primeiros apresentam muito mais problemas de saúde relacionados à alimentação do que os outros.

Esquecemos muitas das boas práticas de antigamente. A comida caseira, preparada com calma e carinho, e em ambiente de celebração. Meditar é um verbo quase esquecido para a grande maioria. Apreciar a natureza, ou uma obra de arte, parecem atos de loucura para muitos da nova geração.

Nossa existência precisa de freios. A humanidade toda carece desses freios. Os rumos desenfreados tomados recentemente não nos levarão para muito longe.

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