sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Unanimidade

"Toda unanimidade é burra".

Ser unânime é quase um não ser, ao menos a luz desta frase de Nélson Rodrigues. Adotar a unanimidade cerceia liberdades, garante uma comodidade que estagna qualquer um.

Possivelmente a frase é mais uma bravata, pura e simples, do frasista mais controverso de nossa cultura. Um ícone produtor de desafios e espinhos sociais.

No mínimo, a unanimidade incomoda. Será possível não haver outro ponto de vista, em determinada situação? O tão inquieto ser humano consegue se apresentar tão homogêneo em suas idéias?

A unanimidade é possível com consciência, com o devido cuidado, longe da burrice da simples aceitação, da adoção de uma visão dominante. Essa unanimidade autêntica, sem burrice, é mais rara, complicada e conseqüentemente difícil.

Costumamos fugir da situação de conflito, preferimos a tão falada, e fadada, "zona de conforto". Da zona de confronto buscamos distância, pois dá um trabalho e, em muitas situações, se junta ao desânimo , a suspeita da ineficiência de qualquer reação.

Unânimes ou não, seguimos apenas humanos, demasiadamente humanos, ou "humânimes". Seguimos a corrente, apesar de todo o descontentamento do autor. No mínimo assumimos nossa fraqueza frente ao confrontamento de idéias.

Ironia do destino, ou não, muitos admiradores do grande escritor consideram-no uma unanimidade.

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