domingo, 24 de fevereiro de 2008

São Martinho

São Martinho de Lima, religioso dominicano, foi filho ilegítimo de um nobre espanhol, mas mesmo reconhecido pelo pai, sofreu preconceito na ordem onde decidiu seguir sua vocação.

O principal ‘problema’ de Martinho era ser pobre e mestiço. Essa sua condição lhe permitia apenas servir como doado, algo quase como um escravo e não como frade, lugar mais baixo na hierarquia da Ordem Dominicana.

Aceitou com simplicidade a posição lhe imposta, e além de cuidar de suas obrigações diárias, inerentes a sua posição na ordem, ainda saía às ruas a esmolar, a fim de ajudar os mais necessitados.

Em São Paulo, temos um São Martinho também: a comunidade São Martinho de Lima. Organização filha da cidade, reconhecida por ela, pois é conveniada com a administração pública municipal, socorre seus filhos mais pobres, mas é discriminada pelas instituições oficiais.

Há dois meses fiz menção a tal situação, de certa perseguição. As coisas não melhoraram e parecem até piorar. Na semana passada o tema foi segurança alimentar das refeições no local.

Fiscais vistosos da vigilância sanitária foram averiguar as condições existentes na comunidade. A instituição existe há 18 anos, tem o convênio com a prefeitura há muito tempo. São servidas mais de 650 refeições (mesmo com o convênio municipal apenas para 150) para a população de rua, diariamente, sem nenhuma ocorrência de problemas, além de fornecer orientação e acompanhamento para documentos, trabalho, etc.

O que pode motivar uma investida desta qualidade?

Detalhes ocasionais foram encontrados, comuns a qualquer estabelecimento a lidar com alimentos. Nada grave. As recomendações serão seguidas e os detalhes ajustados. Fora isso, a avaliação foi satisfatória. Qual será o próximo evento nessa ofensiva?

As alvas fiscais recearam um contato mais próximo com as pessoas atendidas no local. Sua ilibada limpeza contrasta com a situação do povo de rua. De qualquer forma, será preferível se alimentar de restos encontrados no lixo da rua, ou da comida preparada com carinho e dedicação das senhoras do bairro?

Ausente o poder público se mostra impossibilitado de atender a todos. Quando a população busca uma iniciativa adequada e satisfatória, o mesmo poder surge para se manifestar contrariamente, com todas as possibilidades. Começamos a ficar sem possibilidades, a não ser confiar na providência divina.

São Martinho, rogai por nós!

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