quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Sanidade

"De médico e louco todo mundo tem um pouco".

Sabiamente o senso comum denuncia um pouco de nossa idiossincrasia. Quanto a ser médico, nem todas as pessoas possuem esse viés acentuado. Quanto a ser louco, desconfio que ninguém escapa.

Assumidas ou não, confessáveis ou não, toda pessoa possui suas insanidades. A questão é saber domar os leões, controlá-los em sua jaula de alma.

Arrisco ser categórico em afirmar que a plenitude dos seres humanos conta com algum parafusinho meio desajustado. Será que alguém já estudou esse assunto? Acaso é possível alguém passar a vida sem ver alguma idéia maluca percorrer sua imaginação?

Porém, se todos temos algum desajuste, por que motivo tanto preconceito com os ditos "loucos"? Afinal, não existe meio roubo ou meia gravidez. Guardados os "meio termos", insanidade é insanidade.

Se analisarmos por uma ótica naturalista, seria esse desajuste inato apenas uma comprovação da imperfeição de nossa estrutura cerebral? As pequenas e grandes loucuras representariam circuitos acidentais em nossa formação.

Do ponto de vista espiritual, sobrenatural, poderiam ser vozes do além, tentações ou entidades a nos desviar? Resumiríamos nossas tortuosidades cotidianas a uma luta entre o bem e o mal, como títeres em uma grande brincadeira ou guerra cósmica.

Muito da deliciosa loucura produziu e produz os mais diferentes expoentes artísticos. Vem dela a delícia, a visão diferenciada, encantadora, estimulante. Há graça nessa insanidadesinha. Possivelmente a mesma graça dos amalucados desenhos animados, com toda sua perversão da realidade, com ícones como Pernalonga, Pica-pau ou Roger Rabbit.

Ao mesmo tempo, não faz sentido dizermos "mas este mundo está louco!". Se todos somos loucos, o mundo só pode contar com certa dose de loucura. É certo que parecemos estar com a balança desequilibrada, sem conseguir dominar tantos leões descontrolados. O gênero humano carece de mais atenção.

É coisa de louco!

Belo no humano é a loucura de continuar mesmo quando tudo depõe contra. Contamos com a loucura de amar! Por essas e outras, continuo a apreciar a saborosa loucura de viver.

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