quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Contrariar

Nem o Diabo escapa do sarcasmo brasileiro. Diga-se de passagem, um sarcasmo bem elaborado e revelador de algumas facetas humanas.

Machado de Assis escreveu o conto "A Igreja do Diabo". Na história, o Diabo resolve fundar uma igreja, cansado de seu papel secundário no plano divino.

Matreiramente, institui toda sua estrutura, dogmas, templo, fiéis e consegue, com sucesso, dar início ao seu empreendimento.

Obteve a conivência de Deus e pode fazer as mais diversas reformas imaginadas, para que todo projeto ocorresse de acordo com seus desejos.

Passado algum tempo, começou a perceber divergências internas, certos desvios de conduta de seus seguidores. "... Certos glutões recolhiam-se a comer frugalmente três ou quatro vezes por ano, justamente em dias de preceito católico; muitos avaros davam esmolas, à noite, ou nas ruas mal povoadas; vários dilapidadores do erário restituíam-lhe pequenas quantias;.. ".

Mais do que a jocosa visão do mal, Machado de Assis pintou uma jocosa visão da maldade humana, da tendência de agir contra a convenção, de contrariar, de burlar. O errado instiga a índole humana!
Por qual motivo há essa herança incutida em nossos genes? Quase podemos acreditar ser uma herança do pecado original... Mais ainda, a sabedoria machadiana nos mostra que nem o Diabo pode com o 'Diabo'.

Nossa sorte é o espírito humano ser maior e poder contrariar a própria contrariedade!

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