domingo, 15 de fevereiro de 2009

Segregação

Segregamos o desconhecido.

Houve um tempo em que os doentes de lepra eram afastados do convívio das comunidades. Deviam viver à margem dos povoados, sem contato algum com as pessoas sãs.

Podemos imaginar o impacto que as lesões da doença causavam às pessoas da época. Num mundo assombrado por demônios, os doentes eram tidos como impuros, culpados por algo, a receber castigo.

Desconhecidos os mecanismos, e misturadas as crenças, possivelmente inúmeras outras doenças dermatológicas eram tratadas da mesma forma. Pessoas caiam na desgraça de viver segregadas.

Um ser humano, sem o convívio social, perde sua humanidade. A vida em grupo é pré-condição da existência humana. Marginalizados como eram, se tornavam mortos-vivos, a perambular em busca de ajuda.

Cientificamente evoluídos, aprendemos bastante sobre a hanseníase, para encerrarmos com estes preceitos que em nada serviam, a não ser para o sentenciamento dos acometidos pelo mal. Atualmente, com prevenção, diagnóstico precoce e acompanhamento, as condições de tratamento são excelentes.

Porém, outros males incompreendidos surgiram, para gerar confusão e separação. Faz pouco tempo, a "epidemia" do HIV, como muitos equivocadamente se referiam, atingiu em cheio milhares de pessoas pelo mundo. Até a melhor compreensão da doença, foram marginalizadas, jogadas à condição dos indesejados.

Fez-se esforço enorme no combate ao problema, seus mecanismos foram descobertos, terapias foram elaboradas. Hoje se têm condições de qualidade de vida muito melhores. Nem mesmo o preconceito resistiu... Será? Ao menos dá o que falar.

Em todos os tempos, um tipo de segregação perdura, infiltrada ardilosamente em nosso cotidiano: a segregação econômico-social. Quantas pessoas não caem à margem da vida, pelos mais diferentes motivos, e lá ficam. Esquecidas sob o manto do isolamento.

Cruzamos com elas pelas ruas das grandes cidades, sem mais percebê-las. Desaparecem de nossa visão, graças à massificação da vida contemporânea. Elos perdidos da corrente da humanidade. Pontos frágeis do grande organismo do qual participamos.

Reintegração é palavra de ordem, por necessidade ou por compaixão. Fraternizados na identificação do irmão humano, buscamos o resgate à vida daqueles esquecidos. Somente o amor emanado em atitude de solidariedade será capaz de contaminar aos outros, para ressucitá-los, fazendo-nos conhecer sua face.

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