segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Póstumas

"Foi assim que cheguei aqui... Como quem se retira do espetáculo".

Em tempos de vida digital e Internet, Brás Cubas, personagem de Machado de Assis, poderia ter uma outra versão de suas memórias para nos contar. Ao menos no formato e sem se retirar...

Conexão acessível, hospedagem gratuita, serviços perenes, essas são as benesses do mundo conectado. Praticamente inexistem limites para a criação e existência de páginas pessoais na grande rede.

Semana passada, entre um papo e outro, um colega de trabalho mencionou a formação de uma banda. Coisa de amigos, com vontade de fazer um som e alguma empatia harmônica.

Isso me fez lembrar da banda que meu irmão formou, no começo do milênio e que, mesmo por um breve espaço temporal, existiu com shows, divulgação e CD.

Era época de muitas vontades, novos ares com a chegada de novos tempos. Juventude e tecnologia extremamente associadas. Nesse período surgiram CPM22, Hateen e Geeks, a tal banda de mio fratello. Por sinal, bandas um tanto irmãs, a compartilhar ideias e componentes, quando necessário.

Vasculhei a gaveta de CDs e, mesmo depois de uma mudança, lá estava o antigo disquinho, gravado há tanto tempo. Levei para meu colega conhecer. Naquele dia, ao chegar ao trabalho, pensei em vasculhar também no mundo virtual, pois a banda tinha site e grande movimento.

O domínio já não pertence a ninguém relacionado ao grupo, pelo menos desconheço o atual proprietário. Porém, diversas referências permanecem lá, imutáveis, como uma página noticiando novas bandas do cenário punk rock nacional.

Caramba! Faz oito anos que nenhum som sai dos instrumentos daquele pessoal. Nem mesmo herdeiros foram deixados... Só que a notícia persiste, encravada nos bits da onipresente teia digital. Algo como um monolito da história de tantos anos atrás.

Fico imaginando o número de sites perdidos neste oceano de informação. Já ouvi falar de portais que coletam páginas póstumas, de pessoas falecidas, mas com páginas ainda ativas. É quase uma viagem no tempo, percorrendo a vida cristalizada, como se um meteoro atingisse o planeta e congelasse todo mundo.

Podemos até falar com o futuro... Em blogs é possível programar a publicação dos posts. Recurso que uso recorrentemente, principalmente quando as ideias brotam aos borbotões. Acaso eu não estivesse mais aqui nesse futuro próximo, ainda assim continuaria a discursar aos quatro ventos digitais por algum tempo.

Qual será o final desta odisseia? Páginas e mais páginas boiando à deriva nas ondas? Recursos infindáveis consumidos para manter ativa parte da história? Quem sabe, algum dia arqueologia será feita através de pesquisas no Google. Deixando fragmentos de bits, um novo Brás Cubas contará suas memórias com muita tecnologia.

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