sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Associação

Ah, como adoramos nos associar!

Nicholas Carr, em seu último livro - "A Grande Mudança", relata sua preocupação em como a tecnologia na Internet promove o atendimento contínuo de nossos gostos pessoais.

Estaríamos assim, com a personalização on-line, nos fechando em nossas preferências, em nossos gostos por livros, músicas, assuntos. Acabaríamos fechados em pequenas comunidades com interesses comuns e bem particulares.

Mas não é disso que são feitas as redes sociais? E não digo apenas na grande rede, mas na vida concreta de carne e osso. Tanto lá, como cá, não será a imposição de comportamento que mudará essa tendência humana de associação.

Comumente, algumas pessoas até exageram no afã pelo agregar. Uma pessoa próxima, certa vez foi convidada a participar de um grupo de estudos do Budismo. Após algumas visitas e outros persistentes "re-convites descompromissados", sentiu que conhecera a Igreja Universal do Reino de Buda.

Um amigo do trabalho recentemente procurou uma instituição para prática de yôga. Gostou bastante da recepção e acolhida, mas chegou a comentar certo entusiasmo destoante. Chegou a incomodar o ímpeto até doutrinário presente no ar.

Acaba sendo engraçado... Coincidentemente, hoje, eu lia um livro sobre o Swásthya Yôga, no Metrô. Pratiquei um pouquinho há algum tempo e ainda tenho a curiosidade sobre o assunto. O livro da Universidade do Yôga, "Tudo o que Você Nunca quis Saber...", é material farto e bem direcionado.

Perto da minha estação de descida, uma moça me perguntou se eu desceria na próxima, o que ainda não era o caso. Ao me virar, ela me disse poder aguardar a parada do trem, para então eu dar passagem. Voltei a minha posição e continuei lendo...

De repente, ouvi uma exclamação, meio interrogação, atrás de mim: "Swásthya!?". Quase respondi: "Saúde!". Considerei ter relação com a minha leitura, mas não me manifestei, pois eu não havia sido inquirido, nem física, nem verbalmente.

Quando chegamos à estação da moça, e eu dei passagem, ela me perguntou, com um sorriso, de passagem: "Você pratica Swásthya?". Com minha rápida negativa, mas com a afirmação de simpatia, ela agradeceu a passagem e se despediu com outro sorriso.

Praticante de passagem? Simpatizante permanente? Desconheço qual a relação dela com o assunto, mas sua simpatia me lembrou a mencionada acolhida, a agregação. De certa forma, fico feliz em ser alvo de tal manifestação. Em um meio embrutecido, como no transporte público em final de dia, nossa mania de agregação nos torna mais humanos, sensibilizados pelas outras pessoas.

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