domingo, 2 de março de 2008

Aparência

Abrir os olhos do cego trata de mudança social profunda e essencial.

Enquanto deixarmos de enxergar nas outras pessoas, principalmente as mais pobres e esquecidas, o irmão humano, dificilmente conseguiremos superar a maioria dos problemas de nossa sociedade.

A luz de uma nova palavra, a lama e a saliva, podemos transformar nossa visão, derrocar as aparências existentes, as divisões visuais vigentes e excludentes.

Após a transfiguração, é a vez de transformamos nossa atitude, a começar pelo enxergar, para nos conscientizarmos do que vemos. Quem vê não necessariamente enxerga.

O brilho de nosso mundo ofusca muita da nossa realidade. Através de um panorama reluzente, cheio de beleza, acessível em nossos shoppings, grandes vitrines das vontades coletivas, somos envoltos pela grande ilusão do momento.

Estender a mão com sinceridade, com preocupação, só é possível a quem se assemelha. Assemelha-se como pessoa, se identifica com igual, em direitos, em igualdade. A vida, concedida a todos, carece de condições mínimas para assim ser considerada.

Em sua fragilidade, encontramos a nossa, de agir. Desafio constante é mudar esse comportamento, comprometidamente. Única herança possível. Legado para as futuras gerações, imperceptivelmente recebido. Nosso dever maior é continuar a construção de nossa humanidade.

Utopias são feitas para inspirar. Povoam nossos anseios com o fôlego para alcançá-las. Existem justamente porque a semente está presente, latente, preenchida de energia para a eclosão. Eclodir é o estalo inicial e irreversível.

Mudança não é mais tabu. Respeito não é mais estranho. Aparência já gera desconfiança. Solidariedade se tornou recorrente, mesmo que com timidez. Minha esperança está na força da lama e da saliva. Não demorará a lavarmos nossos olhos e vislumbrarmos um mundo novo.

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