sábado, 29 de setembro de 2007

Relógio

"Eu tenho pressa, eu tenho pressa, ai ai meu Deus! Alô e adeus! É tarde, é tarde, é tarde!"

Sempre me intrigou, durante minha infância, o personagem do coelho em Alice no País das Maravilhas, com seu jeito apressado, sempre correndo, sempre afobado, mas sem muita explicação.

Eu mal poderia imaginar o quão preciso era o prenúncio escrito por Lewis Caroll. Entre tantas outras bem pontuadas observações da sociedade, como governos tiranos, regras sociais estapafúrdias, essa se apresenta a mais moderna imaginável.

Em tempos atuais, bombardeados por e-mails, assolados por informações na Internet, perseguidos por celulares, repletos de compromissos pessoais, para cuidado com a saúde ou sociais, nos vemos atolados numa imensa falta de tempo, sem sabermos exatamente porque.

Lembrei outro dia da longa espera pela resposta de uma carta, os raros telefonemas internacionais com os parentes de além-mar, as edições de revistas semanais com 'informações inéditas'!

E tudo começou quando cismamos de medir o tempo com o relógio! Mudamos o ritmo da vida, passamos a observá-la com uma precisão artificial, cronometrada, nos desconectamos do tempo da natureza...

Resolvemos desafiar Chronos, mas corremos o risco de permanecer eternamente em um louco e apressado País das Maravilhas.

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