terça-feira, 30 de novembro de 2010

Instant

Instantâneo é tão bom assim?

Poucos meses se passaram desde o lançamento do Google Instant, com mais ou menos evidência, mas poucos se recordam ou notaram.

A proposta do mecanismo de buscas é ousada, afinal chega a espantar só de pensar na estrutura e tecnologia envolvidas para prover o serviço.

Costumamos imaginar as ferramentas como se nós estivéssemos usando-as sozinhos, porém o recurso em questão é usado ao redor do mundo, simultaneamente, por incontável número de pessoas.

Apresentar resultados parciais com velocidade incrível, quase instantânea, meio que adivinhando nossas intenções é um esforço hercúleo.

E para quê? Agilizar nossa existência digital, já tão pragmática e veloz? Otimizar a utilização dos infraestrutura do mecanismo? Expor um diferencial frente os concorrentes, afinal de contas quem imaginaria que ainda havia o que inovar na área de buscas?

Já devem estar se perguntando qual será o destino final do botão "Pesquisar"... Aliás, até o fatídico "Estou com sorte" fica insignificante frente a tanta instantaneidade. Não duvidem de que, em breve, o Chrome apresentará páginas antes de terminarmos a digitação da url.

Fico a pensar se conjugássemos essa tecnologia advinha a algum mecanismo de interface cerebral, dos muitos anunciados em notícias científicas. Interface direta e instantânea com sinapses! Talvez fosse o próximo patamar de desafio à velocidade do gigante de pesquisas.

A Skynet vai ganhando forma, se tornando um imenso e vivo organismo digital. Suspeito que começa a nos conhecer mais que nós mesmos. Apesar de embrionária, a incipiente inteligência digital ganha forma, mas quase ninguém atenta para o fato. É só ficção...

Mas ainda resta a pergunta do "para quê"? Não nos basta a superficialidade e falta de foco em muitas das nossas interações com a grande teia universal? Encontramos frequentemente artigos sobre as mudanças em nossa formação decorrentes do convívio com a Web.

Por sinal, esse cenário vem de encontro com a "miojização" cultural proposta por Mário Sérgio Cortella. No fim, nos resta apenas conformação com esse macarrãozinho instantâneo digital. Quanto sabor!

sábado, 23 de outubro de 2010

Papagalli

Papagaio!

Tudo começa em um sábado bem comum, como todos os outros, não fosse pela minha esposa pedindo logo cedo minha carteirinha do SESC.

Na volta para casa ela iria comprar ingressos para uma peça de teatro infantil, que já havíamos visto o anúncio, e gostaríamos de levar nossa pequena.

Chegada a hora, próxima ao horário de almoço, saímos um tanto atrasados, meio na corrida, sem grandes expectativas, a não ser chegar pontualmente para não perder o espetáculo.

A bem da verdade, havia pelo menos a expectativa de um bom espetáculo, afinal é um trabalho do Balé da Cidade de São Paulo com o grupo Pia Fraus: Terra Papagalli.

Chegamos pontualmente, mas quem decidiu atrasar um pouco foi a trupe. Apesar de certa indignação e inquietação nossa, ao se abrirem as cortinas o mundo todo ficou do lado de fora, entramos num universo paralelo.

Fomos absorvidos pela história da náufraga Manuela, perdida em terras tupiniquins e encontrada por um povo indígena. Fábula moderna, com cores e sons tropicais, viagem às belezas e encantos de uma terra desconhecida e rica.

Dança harmoniosa, coreografia elaboradíssima, interpretação primorosa, bonecos maravilhosos, deleite de trilha, fica difícil enumerar, eleger ou adjetivar nossa preferências nesse mar de graça e arte. Arte da melhor qualidade e por todos os cantos!

Deixando de lado o racionalismo, a verdade é que somos capturados pela emoção. Não há como resistir e não se perder, deixar-se inebriar, permitir aflorar as melhores sensações, capturadas por todos sentidos, por nosso ser completo.

Sucesso entre os pequenos, sem um minuto sequer de desatenção, mesmo sem haver fala alguma. Aliás, partimos desta experiência como se houvéssemos ouvido horas de histórias, legítimo expressão do corpo traduzida pela visão.

Saímos do teatro e mal podíamos nos falar, eu e minha esposa, com o risco de irmos às lágrimas tamanha era a comoção e o envolvimento proporcionados por esta singular vivência. Em pouco mais de 50 minutos fomos tocados profundamente em nossa existência.

Melhor ainda poder ter compartilhado com minha família um evento inesquecível como este. Permanecerá na nossa lembrança afetiva, guardarei com carinho a imagem de felicidade e deslumbre da minha pequena, encantada com tanta surpresa e maravilha.

Resta-me apenas agradecer, a tudo e todos que possibilitaram esta grata constatação. Também me resta torcer para que outros tantos sabadões possam se tornar, tão plenamente, celebrações da vida.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Espelhos

Filhos, filhos, espelhos de nossa existência...

Por mais óbvia e manjada que tal frase possa parecer, é muito duro quando somos confrontados a ela em nosso cotidiano paterno.

Frequentemente, vinculamos essa ideia aos possíveis defeitos que tenhamos e certamente desejamos suprimi-los, além de jamais transmiti-los.

Porém, mesmo em nossas qualidades, podemos ser surpreendidos por nossos pequeninos e reveladores rebentos, com seus reflexos diários.

Todo pai anseia proteger, prover, encaminhar. De repente, determinados e independentes que somos, vemos nossas crias determinadas em sua independência a dispensar nossa ajuda.

Escolhemos nossos rumos com segurança, apoiados no amor familiar. Subitamente o nosso amor familiar e segurança propiciam escolhas a eles, forças para a tomada de decisão, só que as fazem, apenas e tão somente, diferentes das nossas.

Até aí, problema algum, pois são acertadas, adequadas, inofensivas às vezes, mas ainda assim insistentemente diferentes das nossas preferidas. É o sempre bom desafio para mostrar o quanto aprenderam, quão capazes são, a tentativa de nos tornar orgulhos de seus feitos.

Criar terminar por ser um exercício diário de acompanhamento, sem domínio, cuidado sem indevida influência, observação do desaflorar de outra versão do nosso eu. Nova versão pueril, cheia de personalidade, de ânsias próprias, desejosa de ser ela, nosso fruto.

Aprendemos, com a vida, que nada controlamos, simplesmente colaboramos e o melhor que podemos doar é doar o melhor de nós. Ao cabo de tão árduo e gratificante processo, torcemos para descobrir que tal reflexo é um nosso reflexo aprimorado, feliz e pleno sendo si.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Ópera

Se Wagner pudesse ver isso...

Aliás, Wagner, Puccini, Villa-Lobos ou Verdi, qualquer destes grandes compositores se surpreenderia com essa história de ópera no cinema.

Elaboradas para suntuosas casas de espetáculo do passado, reservadas a seletos grupos de ouvintes, as obras destes ilustres autores hoje podem ser vistas em cinemas pelo país.

Não apenas assistidas em eventos gravados e reproduzidos, mas ao vivo, direto do Teatro Metropolitan de Nova Iorque. Sem poupar tecnologia, com direito a imagens HD e som digital, além do conforto de salas bem projetadas e ambientadas.

Apesar de suas linguagens artísticas possuírem toques universais, sonharem em alcançar plateias pelo mundo, seus universos certamente eram muito mais restritos aos círculos sociais de sua época, às provincianas cidades (mesmo com sonhos metropolitanos) de mais de um século atrás.

Como será que estes senhores de outras épocas entenderiam tamanha distribuição simultânea de seus filhos. Eventos que ocorrem em 46 países, dá para imaginar a plateia total somada ao redor do planeta, sentada em suas confortáveis poltronas no mesmo momento, apreciando as pérolas destes outros mundos.

Consolo para quem não pode se deslocar por continentes para assistir uma obra-prima deste porte, nem tem acesso aos poucos locais disponíveis para apresentação em sua cidade, quando estes existem. Penso até na questão dos inúmeros fusos horários necessitados de conciliação...

Sem querer fazer propaganda, mas já fazendo, aqui em São Paulo teremos "O Ouro do Reno", no dia o9/10, na rede Cinemark. Primeira parte o ciclo épico "O Anel do Nibelungo", esta e outras programações podem ser encontradas no site MovieMobz.

Verdadeiro movimento de globalização da cultura clássica, a transmissão destes espetáculos me causa certa estranheza, em princípio. Algo da aura, do glamour existente, parece ser perdido nesta nova versão, nova apresentação do antigo produto.

Por outro lado, a ordem é essa mesma, reinventar. Os adventos digitais, os ventos das mudanças tecnológicas têm empurrado tudo e todos numa tempestade de inovações. Acertadas ou equivocadas, as iniciativas estão aí para experimentarmos.

Fica a dúvida do que fazer no momento dos aplausos. Ou então, como ficarão os entusiásticos pedidos de bis? Sem falar no cheiro de madeira dos teatros, as emanações do palco, dos músicos e cantores. Espero ao menos que a emoção da audição se preserve...

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Googlar

"Houve um tempo em que as pessoas realizavam pesquisas..."

Quem sabe um dia encontraremos tal citação em um livro de história, daqueles escolares, bem didáticos.

Pesquisar, pesquisar mesmo, muitas pessoas não pesquisas já há um bom tempo. Hoje a onda mesmo é "googlar".

Apesar de soarem semelhantes, as expressões guardam de semelhança apenas o impulso original, o germe da iniciativa: o desejo de saber, de ampliar o conhecimento.

Pesquisa exige coleta bem focada, amparada em tema escolhido e, no mínimo, definido claramente. É ato pensado, elaborado, preparado, carente de atenção e controle, de participação de seu interlocutor. Como ato tem seu sujeito, condutor empenhado na procura de seus objetivos.

Com o material colhido, se faz minuciosa apreciação, observação e produção de material prévio, verdadeira garimpagem de pepitas no veio aberto do pensamento. Da massa resultante é preciso extrair reflexões, ordená-las, buscar coesão, sentido e apoio. Construímos nossas estruturas, nossa rede de ideias, fundada em pilares de outrem.

O hábito de googlar até poderia seguir os mesmos preceitos, mas vem carregado do mal da velocidade, do pragmatismo, da instantaneidade. Surge a dúvida, acessamos o oráculo digital dos tempos modernos e somos assolados por uma profusão de possibilidades.

Comumente se sucede um exercício inglório de cliques, um tanto a esmo, apenas confiando na relevância produzida e apontada pelo mecanismo. Se acompanharmos a evolução da largura de banda, bem mais superlativa que nossa contemporânea estreiteza, passaremos pouquíssimo tempo em cada visita.

Acabamos colhendo migalhas sobre aquele assunto, soltas pelo caminho, quando um ou outro "passarinho" ainda não a devorou inadvertidamente. Sem dúvida alguma poderia ser muito diferente. Devo confessar que faço de tudo para sê-lo e para propagar outra postura.

Desafio moderno, conciliar as novas disposições às antigas necessidades. Condoo-me dos professores à mercê deste novo mundo, mestres mareados pelas ondas da web... Talvez seja um período inevitável de determinado processo evolutivo e, como tal, muitos dos poucos adaptados tombarão pelo caminho da infovia.

Quem dera eu pudesse dar uma olhadela naquele tal de futuro, para ver se todo esse esforço compensa... Como não é possível, rogo aos santos de bits que nos auxiliem nessa empreitada.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Ser

Hamlet
Ato III, Cena I
(tradução Millôr Fernandes)

Ser ou não ser, eis a questão.
Será mais nobre sofrer na alma
Pedradas e flechadas do destino feroz
Ou pegar em armas contra o mar de angústias
E, combatendo-o, dar-lhe fim? Morrer; dormir;
Só isso. E com o sono - dizem - extinguir
Dores do coração e as mil mazelas naturais
A que a carne é sujeita; eis uma consumação
Ardentemente desejável. Morrer – dormir –
Dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo!
Os sonhos que hão de vir no sono da morte
Quando tivermos escapado ao tumulto vital
Nos obrigam a hesitar: e é essa reflexão
Que dá à desventura uma vida tão longa.
Pois quem suportaria o açoite e os insultos do mundo,
A afronta do opressor, o desdém do orgulhoso,
As pontadas do amor humilhado, as delongas da lei,
A prepotência do mando, e o achincalhe
Que o mérito paciente recebe dos inúteis,
Podendo, ele próprio, encontrar seu repouso
Com um simples punhal? Quem agüentaria fardos,
Gemendo e suando numa vida servil,
Senão, porque o terror de alguma coisa após a morte –
O país não descoberto, de cujos confins
Jamais voltou nenhum viajante – nos confunde a vontade,
Nos faz preferir e suportar males que já temos,
A fugirmos para outros que desconhecemos?
E assim a reflexão faz todos nós covardes.
E assim o matiz natural da decisão
Se transforma no doentio pálido do pensamento.
E empreitadas de vigor e coragem,
Refletidas demais, saem de seu caminho,
Perdem o nome de ação.

domingo, 30 de maio de 2010

Fontes

Essa provém de "fonte" segura...

Recentemente, na Conferência Google I/O 2010, a Google lançou sua ferramenta de fontes para Web, a Google Font API.

Além de ser um diretório de fontes para páginas, eles disponibilizam um framework bem completo para utilização e controle de tipos diversificados nas páginas.

Desde os primórdios do mundo hiperligado, uma enorme dificuldade era adequar a concepção visual do site com o limitado conjunto de fontes universais disponíveis.

Para quem nunca havia queimado pestanas sobre o assunto, fique sabendo que só era possível utilizar fontes disponíveis no sistema operacional do usuário. Acabávamos sempre às voltas com os mesmos tipos batidos: Arial, Times New Roman, Courier, etc.

Alguns designers solucionaram tais questões fixando seus textos em imagens ou objetos flash. Isso criou a necessidade de alguns destes recursos aderentes ao browser, como plugins, tags para imagens ou objetos de mídia. Ainda assim a solução tem seus problemas de contorno e não representa o Santo Graal, mesmo com a quase onipresença da ferramenta da Adobe.

O grande barato do Google Font API é permitir que sejam utilizadas fontes, ricamente trabalhadas e elaboradas, independentemente do seu navegador ou sistema operacional. É uma das maiores universalizações ocorridas em todos os tempos no mundo dos bits.

É possível ter uma boa ideia deste grande inovação visitando o diretório de fontes já disponíveis. Certamente, muito em breve, o conjunto será expandindo e poderá contemplar todo e qualquer estilo conhecido. Vale lembrar que todas são publicadas através de licença open source.

Quanto a codificação, um rápido exemplo de utilização da WebFont Loader, biblioteca Javascript para obter mais controle no carregamento das fontes, mostra o quanto a ferramenta é acessível a qualquer script kid. Imaginem o que pode ser feito por quem entende.

Inegável a habilidade da gigante de Mountain View em resolver praticamente todos os problemas da vida digital, fora seu tentáculos que vêm se estendendo para o mundo real. Rezo apenas para que não estejamos presenciando o advento do Sr. Smith...

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Sintética

A vida é contínuo aprendizado, não muito sintético.

Destaque na semana passada nos meios científicos, a publicação do trabalho sobre a primeira síntese de DNA artificial foi cercada de certa euforia midiática.

Criação de vida? Brincadeira divina? Assim como a ovelha Dolly, o bebê de proveta, dentre outras façanhas, não chegamos lá ainda.

Sem dúvida é um marco na história da pesquisa genética e uma semente para frutos muito pouco imaginados, se é que pensados.

Porém, não é nem um pouco criação de vida. Modificaram controladamente o genoma de um tipo de bactéria e implantaram o resultado em outra (de outro tipo) sem genoma, fazendo com que ela passasse a se comportar de acordo com o novo código genético recebido.

Craig Venter toma a dianteira novamente, depois de fazer frente ao consórcio do projeto Genoma e desafia mais uma vez todos nós a refletir sobre o efeito de suas pesquisas na humanidade. Desafeto da academia, o cientista concentra todo seu empenho (e seu estrelismo) para promover avanços significativos nas áreas em que se envolve.

Quais os efeitos seu um exemplar destas bactérias fosse acidentalmente liberado na natureza? Poderia rapidamente morrer ou desequilibrar algum bioma. E se a tecnologia fosse usada para a programação de armas biológicas? Quais nossos direitos sobre a vida, mesmo de tão pequenos seres, assim manipulados?

Segundo os pesquisadores, as amostras produzidas em laboratório estão muito bem controladas e sua reprodução estacionada. O ferramental para aplicar tal conhecimento levará um bom tempo até se tornar acessível e viável, seja para qual fim desejarmos.

Por hora isso é suficiente. Por quanto tempo? Somos tão aptos ao controle e previsão que conseguimos dominar, ou vislumbrar, todas as variáveis envolvidas e desenrolares possíveis? Em nossa soberba ainda temos muito para aprender com a vida, apesar de tantas lições passadas.

Certamente o principal interesse inserido neste contexto é a exploração comercial de tal conhecimento. O problema é se repararmos na grafia do sobrenome do condutor do projeto. Periga encanarmos de topar um dia desses com uma notícia sobre as pesquisas de Darth Venter! :)

Brincadeiras à parte, espero que nosso aprendizado seja repleto de elementos úteis e prósperos, capazes de nos guiar por bons caminhos, sem grande desastres. E que a força possa estar conosco!

terça-feira, 25 de maio de 2010

PAC-MUNDO

Quem não viu, perdeu.

Em comemoração aos 30 anos do PAC-MAN, na sexta-feira passada o Google colocou no ar um Doodle em homenagem ao jogo, que ficou no ar por 48 horas.

Não era apenas uma imagem, mas um jogo embutido em sua página, uma reprodução fiel do célebre game dos anos 80, com visual, sons e jogabilidade impecável.

Aos mais apressados, acostumados à agilidade do buscador, pode ter passado despercebido, mas bastava um pouco de espera e a musiquinha chamava a atenção para o início da partida.

Se percebesse a troca do botão 'I'm Feeling Lucky' por 'Insert Coin' talvez sacasse de imediato. Um clique e o jogo começava. Mais um clique permitia a participação de um segundo jogador.

A partir daí era só diversão. Teclas direcionais para o primeiro jogador, WASD para o segundo e 254 níveis pela frente. E dá-lhe comer pontinhos, buscar energia e se fortificar para correr atrás dos fantasminhas.

Nem flash era! Felicidade para iPodeiros e afins pelo mundo, além de excelente aval para a empreitada da Apple em refutar o mundo do SWF.

Imagino as equipes de infra tentando bloquear a gracinha googleana. Missão impossível, afinal quem teria coragem de cercear a possibilidade de uso do mais importante mecanismo de pesquisas de nossos tempos? Certamente matariam do coração milhões de googledependentes.

Há pouco mais de vinte anos era necessário um hardware dedicado para produzir tal diversão, através da surreal corrida de pequenas almas penadas e som irritantemente frenético. Hoje um mero browser, de qualquer espécie, é capaz de dar conta da antigamente árdua tarefa. Fico a imaginar mais algumas décadas...

Mostras do poder de estrago a que podemos estar sujeitos, bastando capacitação e aptidão direcionada ao ponto certo (ou errado, se for o caso). Mostras também do poder do gigante web, longe de perder significância e capacidade de inovar.

Nesta semana diversos artigos, em publicações da área como a PCWORLD, tentam estimar o tamanho da brincadeira. Algo em torno de 4.819.352 horas de trabalho desperdiçadas ou cerca de 120 milhões de dólares em perdas!

Android, Google TV e outras iniciativas justificam um apelido para essa peça importante no jogo dos negócios tecnológicos, a empresa com o bem em suas diretrizes: PAC-MUNDO.

domingo, 28 de março de 2010

Tendências

Quantas dificuldades enfrentam as novas tendências!

Já experimentou o Google Buzz? Em sua estreia, a pouco mais de dois meses, muitos amigos o fizeram. Reparei na última semana que poucos continuaram a usá-lo.

Sou suspeito para opinar, afinal gostei bastante mesmo, substituindo muitos outras ferramentas pelo seu uso. Só que nos últimos dias me sinto em um deserto de bits.

Considero a ferramenta uma excelente resposta às necessidades recentes de comunicação ou, mais exatamente, notificação. Aliás, enxergo o recém nascido como um irmão mais novo, simplificado, do Wave.

O Google Wave estreou há algum tempo, mas parece que terá dificuldades para emplacar. Aliás, o mais comentado "quem sabe para que serve" dos últimos tempos. Mais um incompreendido dos softwares vanguardistas que dá as caras por aí, de vez em quando.

Sua proposta é bem simples. Abarcar todo tipo de comunicação digital e on-line existente. Também é pretensioso, pois deseja atender todas as lacunas deixadas pelo e-mail, mensageiros instantâneos, blogs ou programas de colaboração.

Só que a proposta do Google vai além. Eles disponibilizaram toda a especificação de uma plataforma, aberta, acessível a quem desejar implementá-la. O que isso significa exatamente? Que qualquer empresa pode criar um software baseado nesta plataforma, sem implicação financeira, apenas para promover a integração das pessoas.

Por exemplo, mais exatamente, a Microsoft poderia transformar seu MSN para conversar através do protocolo instituído pelo Wave, mantendo o entendimento com o protocolo anterior, permitindo a migração gradativa para um mundo mais múltiplo, mais conectado.

Isso seria só o começo... Outras empresas poderiam transformar seus servidores para trocar informações pelos novos padrões, para mensagens, mídias, algo como o TCP/IP possibilitou na conexão entre computadores em rede.

Mas quem disse que se interessaram? Ou não se interessaram, ou não quiseram dar Ibope. Por mais que possa representar uma grande inovação, uma excelente candidata a tendência, claramente outros interesses se apresentam no milionário jogo das empresas.

Assim ficamos à mercê de suas disputas, desapropriados da descomplicação que a plataforma poderia representar. Dificuldades ou omissões para perpetuar um pouco mais, afinal eles necessitam vendar suas outras facilidades, não é mesmo?

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Elogio

Tão humanos e tão distintos!

A diversidade humana, em corpo e alma, é uma benção impagável, capaz de nos tornar o grande organismo sobrevivente no planeta.

Por outro lado, provoca antagonismos tão reluzentes que espanta serem feitos da mesma essência, dos mesmos recursos em suas múltiplas variações.

Recentemente li "Como falar de livros que não lemos", de Pierre Bayard. Atraíram-me as sinopses e resenhas, e o desejo de constatar algo tão paradoxal, verdadeira singularidade no conhecimento homo sapiens.

Como é possível o citado ato? Moeda sem circular, não é moeda. Selo não postado, não é selo, deixa de sê-lo. Livro não lido jamais será lido.

Certamente, após termos contato com todas as suas linhas, percebemos do autor certo ranço, mas direcionado ao alvo errado. Seu problema não é com a leitura, mas com o valor inconsistente dado ao seu papel, principalmente em meios acadêmicos.

A velha história de tentar arrotar todo seu arcabouço, sua bagagem leitoral, para soterrados em citações e sapiências se destacar, ser visto como superior, ser aceito. Ele pretende mostrar uma forma de trapacear neste dito mar de mal versados valores, um meio onde impera a superficialidade.

Foi inevitável lembrar do "Elogio da leitura", de Gabriel Perissé. Magistral contraponto para defender o maltratado prazer das letras. Lembrar foi pouco... Precisei comprá-lo e lê-lo avidamente, mais precisamente, degustá-lo.

Vivemos lá a admiração pela prazer da leitura, em prosa e verso, e sobretudo o verso, mesmo que proseado, deslumbrante harmonia de ritmo e beleza das palavras. Transformação da vida com o traçar das ideias impressas, por criar a partir do doce colecionar de horas de tradução dos símbolos linguísticos, gramáticos, ortográficos.

Registrei minhas impressões no Skoob (aliás um recurso muito bacana de conhecer). Dos históricos de leitura mais deliciosos de fazer. Sugeri até como leitura obrigatória (obrigatoriedade do amado) para todos os participantes do site.

O amor que escorre de suas páginas cura qualquer opinião equivocada com qualquer mal-traçada linha. Reaviva o vírus incurável presente nos tomos de todas estantes, a nos contaminar indelevelmente.

Por outros desses tortuosos caminhos do mercado (ou nem tanto), vendeu-se muito mais do primeiro do que do segundo. Aliás, encontrar o segundo é algo difícil, pelo menos de espera mais longa. Chego a temer até sua extinção...

Não que vendas signifiquem algo à vida, como o próprio Elogio nos mostra muito bem. Apenas entristece pensar em tanta oportunidade perdida, num mundo tão carente de bons estímulos, de paixão verdadeira, de desejo por algo elevado.

Incoerências por incoerências, vale lembrar um pequeno detalhe que pode ter escapado ao autor francês... Mesmo para falar de livros que não lemos, ele propõe que leiamos um livro!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Olhar

Engana-se quem pensa que a atualmente cotidiana chuva paulistana nada traz de bom...

Dentro do Metrô, aguardo pacientemente o torrencial e impaciente aguaceiro que despenca dos céus. Leio um pouco, penso um pouco e resolvo escrever.

Nada de iPad ou netbook. Caneta e papel nas mãos (ainda bem que sempre os levo na mala) e um dedo de motivação provocada pelo olhar de uma criança que passa.

Parado em frente às escadas de entrada, observo uma pequena chegando acompanhada da mãe, olhar assustado pelo tumulto climático. Pessoas pra lá e pra cá, um frenesi encharcado pelos desequilíbrios da mãe natureza.

Passa, me olha e me fita, como só uma alma infantil sabe fazê-lo. "O que fará aquele 'moço' com instrumentos arcaicos na mão, em meio a essa confusão?". "Decifrarei-te se não me devoras!", parece dizer através da doce inocência de suas pupilas.

Por que crescemos e perdemos essa espontaneidade no olhar? Como adquirimos a tal vergonha, ou regra social, da indelicadeza de encarar alguém, daquele jeito desinibido, olho no olho como se o mundo se congelasse no momento da conexão de horizontes?

Frequentemente me pego assim, distraído, absorto, a encarar algo ou alguém acontecendo. Minha atenção é desviada por algum motivo e, quando me dou conta, meu foco está direcionado, sem tempo ou espaço, apenas percepção.

Familiares e amigos brincam ou brigam muitas vezes com esse meu jeito, motivo pelo qual aprendei a me policiar. Porém, hoje novamente fui levado a refletir qual o problema.

Quais convenções tornam desagradável o ato de olhar diretamente, sem barreiras, sem pedir permissão, apenas fitar para aprender, entender e, de certa forma, passivamente participar. Absorver a realidade.

Desejamos ocular algo? Tentamos com isso proibir a leitura de nosso livro pessoal? Talvez não o sejamos tão abertos, apesar de acreditar que o devamos ser. De repente, em meio a nossas páginas, sobre alguma erro gráfico, frase mal escrita, linha mal contada.

Humanos que somos aprendemos a olhar. Deveríamos prezar e preservar a sabedoria pura e pueril de sorver a existência pelas janelas de nossa alma. Exercitar o dom de perceber atentamente, pontualmente, o mundo a transcorrrer em frente a nós.

Acaso mantivéssemos a prática, seria muito mais fácil enxergar o outro, enxergar no outro nossa semelhança, sua dignidade e nos respeitarmos. Humanos demasiadamente e irremediavelmente humanos.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

iPad

Ele está entre nós!

Há dois anos, quando fiz o primeiro contato presencial com um MacBook, a boa impressão foi inevitável. Apelidei-o de iPodão e escrevi um post sobre o assunto por aqui. Mal sabia eu que o verdadeiro iPodão surgiria um dia...

Ficava a impressão de que se poderia ir além... E vieram iPhone, iPod Touchs, outros iPods, mas faltava um salto, algo para desafiar a concorrência e nossas cabeças.

Acompanhei hoje, através do blog de Ryan Block, o lançamento do tão esperado tablet da Apple: o agora batizado iPad. Uma hora e meia de pura diversão e deslumbramento.

Nenhuma visão do outro mundo, como poderia de se esperar. A Apple é craque em aprimorar os ares flutuantes nos desejos do mercado de aficcionados por tecnologia e transformá-los em um produto palpável e sob medida.

Com cerca de 11 polegadas, sistema operacional Apple (provavelmente o MacOS variação do iPhone OS), interface multitouch e acabamento impecável como sempre, o computador completa a linha da empresa, inserindo-a no mundo dos netbooks. Ou talvez o gadget merecesse uma nova classificação...

A bem da verdade, ele está muito além dos espartanos netbooks. Eu arriscaria dizer que presenciei a concretização do sonho do PDA. Esse é por excelência o assistente digital que qualquer um desejaria, pleno de capacidades para interagir com toda a vida de bits existente.

Vêem também por aí mais novidades associadas, como o iBooks, uma espécie de iTunes de livros. A dona da maçã vai arranjar encrenca com, ou para, muita gente. Avalio que o equipamento fará frente para e-readers, aparelhos de GPSs, palmtops e outras traquitanas em que desejarem transformá-lo.

Já pensou se pudermos utilizar sua conexão Wi-Fi para controlarmos outros itens de nossa vida: TVs, refrigeradores, sistemas de segurança, residências inteligentes? Materializaremos a interface humana para o mundo digital!

E tudo isso por sabe quanto? US$ 499 o modelo básico! Para que mais? Mesmo o mais caro sairá por cerca de US$ 869. Tudo bem que por lá ainda demorará 60 dias. Imaginem por aqui... Pelo menos já temos nossa Apple Store, para facilitar a vida.

Por hora, não nos resta muito além de ansiosamente aguardar... Comecem a poupar seus dólares. Enquanto isso vamos tentando imaginar as futuras evoluções. Em breve, provavelmente minha filha poderá usá-lo no ensino fundamental como eu fazia uso de um caderno. :)

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Estrelas

A vida sussurra nos mais inesperados recantos... De onde menos esperamos, até na mais singela diversão cotidiana, podemos ouvir os lembretes de sua grandiosidade.

Quem diria, hoje no Cocoricó, o avô destilou todo seu lado poético e desfiou uma linda poesia. Sem referências, sem citações, apenas declamou junto de seu grande amor.

Eu quis guardar o texto, pesquisei na Internet e fui surpreendido. O avô citou Olavo Bilac! Tão sensibilizado que fiquei, não vejo alternativa a não ser fazê-lo aqui também.

"“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muitas vezes desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…

E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.”"

Olavo Bilac

Feliz 2010! Que a vida sempre possa nos surpreender.