quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Espelhos

Filhos, filhos, espelhos de nossa existência...

Por mais óbvia e manjada que tal frase possa parecer, é muito duro quando somos confrontados a ela em nosso cotidiano paterno.

Frequentemente, vinculamos essa ideia aos possíveis defeitos que tenhamos e certamente desejamos suprimi-los, além de jamais transmiti-los.

Porém, mesmo em nossas qualidades, podemos ser surpreendidos por nossos pequeninos e reveladores rebentos, com seus reflexos diários.

Todo pai anseia proteger, prover, encaminhar. De repente, determinados e independentes que somos, vemos nossas crias determinadas em sua independência a dispensar nossa ajuda.

Escolhemos nossos rumos com segurança, apoiados no amor familiar. Subitamente o nosso amor familiar e segurança propiciam escolhas a eles, forças para a tomada de decisão, só que as fazem, apenas e tão somente, diferentes das nossas.

Até aí, problema algum, pois são acertadas, adequadas, inofensivas às vezes, mas ainda assim insistentemente diferentes das nossas preferidas. É o sempre bom desafio para mostrar o quanto aprenderam, quão capazes são, a tentativa de nos tornar orgulhos de seus feitos.

Criar terminar por ser um exercício diário de acompanhamento, sem domínio, cuidado sem indevida influência, observação do desaflorar de outra versão do nosso eu. Nova versão pueril, cheia de personalidade, de ânsias próprias, desejosa de ser ela, nosso fruto.

Aprendemos, com a vida, que nada controlamos, simplesmente colaboramos e o melhor que podemos doar é doar o melhor de nós. Ao cabo de tão árduo e gratificante processo, torcemos para descobrir que tal reflexo é um nosso reflexo aprimorado, feliz e pleno sendo si.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Ópera

Se Wagner pudesse ver isso...

Aliás, Wagner, Puccini, Villa-Lobos ou Verdi, qualquer destes grandes compositores se surpreenderia com essa história de ópera no cinema.

Elaboradas para suntuosas casas de espetáculo do passado, reservadas a seletos grupos de ouvintes, as obras destes ilustres autores hoje podem ser vistas em cinemas pelo país.

Não apenas assistidas em eventos gravados e reproduzidos, mas ao vivo, direto do Teatro Metropolitan de Nova Iorque. Sem poupar tecnologia, com direito a imagens HD e som digital, além do conforto de salas bem projetadas e ambientadas.

Apesar de suas linguagens artísticas possuírem toques universais, sonharem em alcançar plateias pelo mundo, seus universos certamente eram muito mais restritos aos círculos sociais de sua época, às provincianas cidades (mesmo com sonhos metropolitanos) de mais de um século atrás.

Como será que estes senhores de outras épocas entenderiam tamanha distribuição simultânea de seus filhos. Eventos que ocorrem em 46 países, dá para imaginar a plateia total somada ao redor do planeta, sentada em suas confortáveis poltronas no mesmo momento, apreciando as pérolas destes outros mundos.

Consolo para quem não pode se deslocar por continentes para assistir uma obra-prima deste porte, nem tem acesso aos poucos locais disponíveis para apresentação em sua cidade, quando estes existem. Penso até na questão dos inúmeros fusos horários necessitados de conciliação...

Sem querer fazer propaganda, mas já fazendo, aqui em São Paulo teremos "O Ouro do Reno", no dia o9/10, na rede Cinemark. Primeira parte o ciclo épico "O Anel do Nibelungo", esta e outras programações podem ser encontradas no site MovieMobz.

Verdadeiro movimento de globalização da cultura clássica, a transmissão destes espetáculos me causa certa estranheza, em princípio. Algo da aura, do glamour existente, parece ser perdido nesta nova versão, nova apresentação do antigo produto.

Por outro lado, a ordem é essa mesma, reinventar. Os adventos digitais, os ventos das mudanças tecnológicas têm empurrado tudo e todos numa tempestade de inovações. Acertadas ou equivocadas, as iniciativas estão aí para experimentarmos.

Fica a dúvida do que fazer no momento dos aplausos. Ou então, como ficarão os entusiásticos pedidos de bis? Sem falar no cheiro de madeira dos teatros, as emanações do palco, dos músicos e cantores. Espero ao menos que a emoção da audição se preserve...