segunda-feira, 31 de março de 2008

Biodinâmica

Alimentos orgânicos são uma tendência mundial.

Restritos anteriormente a pequenos nichos, ganham nos últimos tempos mercados mais abrangentes e exigentes. Sua produção começa a ganhar escala e facilita o acesso a tais tipos de produtos.

É engraçado batizá-los de "orgânicos". Queremos com esse rótulo classificar os outros de artificiais? Sabemos não se tratar disso, mas apenas da isenção de pesticidas, adubos químicos e manipulação forçada.

Há duas semanas, soube pelo programa Globo Rural da existência da Agricultura Biodinâmica. Na matéria em questão, foi apresentada uma fazenda de orgânicos, caso de sucesso e adepta da tal modalidade de agricultura.

Interessante notar que há tratamento ético em todo o ambiente envolvido na produção. Uma ênfase tão importante quanto ao cuidado com a plantação é o dispensado aos empregados do empreendimento. Registro em carteira, condições adequadas de trabalho são os itens mais básicos nesses cuidados.

A população local levou certo tempo a aceitar os métodos ambientalmente adequados implantados nas terras. Sua cultura do uso de produtos químicos, queimadas e desconhecimento do ciclo natural eram mais fortes do que as promessas do método.

Também me surpreendeu descobrir que este tipo de agricultura é fundamentado na Antroposofia e na pedagogia Waldorf. Já havia tido contado com suas idéias, mas tinha uma impressão de algo pouco prático. Mais uma das grandes teorias holísticas existentes.

Pude constatar o meu engano e perceber como é possível transformar boas idéias em soluções práticas e produtivas. Inesperadamente uma série de conteúdos distintos toma corpo em um conjunto de propostas interessante de conhecer.

Independentemente da doutrina filosófica, o planeta agradece.

domingo, 30 de março de 2008

Diácono

Vocações religiosas se revelam de diversas formas.

Uma forma para os leigos católicos é o diaconato. Com preparação específica, as pessoas casadas que se sintam vocacionados ao serviço da Igreja podem ser diáconos.

Ontem fui a catedral da Sé, aqui em São Paulo, participar da celebração de uma ordenação diaconal. Assim como na ordenação de presbíteros, conhecidos popularmente como padres, o momento é de festa especial.

Acompanhava minha mãe, convidada por um primo, um dos ordenandos daquela tarde. Coincidentemente, meu avô foi diácono também.

Guardo as lembranças das tantas vezes que o presenciei em seu exercício diário da função. Seja nas orações cotidianas obrigatórias ou no atendimento a população da comunidade de sua pequena cidade interiorana. É gratificante rever aqueles valores ainda existentes e revividos.

Com a presença do Cardeal Dom Odilo, presidente da cerimônia, uma dezena de bispos e uma grande quantidade de padres e diáconos, a missa reuniu uma enormidade de pessoas, convidados dos ordenandos e outras pessoas, participantes habituais da comunidade da Sé.

Afora toda pompa e circunstância, também estavam lá um considerável número de pessoas comuns ao centro da cidade, os moradores de rua, se é que a rua pode ser considerada moradia. Foram lá participar, como em todos os outros dias, buscar a integração ainda que apenas espiritual.

A catedral, com sua arquitetura que nos encaminha aos céus, e toda a reunião de pessoas das mais diversas formavam uma legítima fotografia da comunhão possível numa grande cidade. O transpirar de fé no ambiente nos comoveu e transformou.

Unicamente podemos concordar que presenciamos a reunião de pessoas comuns, interessadas em servir ao bem comum. Qualquer outra opinião ou divergência é impraticável. A fé os inspira e reúne, com uma verdade capaz apenas ao profundo sentimento do coração.

Envolvidos em toda essa aura de encontra e confraternização, compreendemos um pouco o refrão cantado por esses homens de doação: "E pelo mundo vou, cantando o teu amor, Pois disponível estou para servir-te, Senhor".

sábado, 29 de março de 2008

Navio

Problemas filosóficos nos dizem muito.

Algo a atormentar pensadores através de nossa história é a questão da identidade. Junto a ela, como possível chave para pesquisa, a consciência.

Desejamos sempre identificar os elementos circundantes, dar-lhes personalidade, única, distinta. Rotulamos tudo e todos, tornando-os únicos em sua existência.

Mas o que somos nós? O que nos dá identidade? Qual característica nos torna perenes? A resposta está em nossa alma? Ou na manifestação física de nossa consciência?

De nosso nascimento a nosso fim, estamos em constante transformação física e psicológica. Crescemos, mudamos, amadurecemos, cicatrizamos: nunca somos a mesma matéria ou psicologia de ontem, ou de alguns segundos atrás.

Se assim ocorre, como podemos ter certeza, após longo tempo de afastamento, que um velho amigo é a pessoa encontrada? Como saber ao certo se eu sou eu mesmo? Caso haja dificuldade em ilustrar a idéia, podemos recorrer a uma antiga formulação.

Ulisses, o herói grego epopéico, singrou os mares com seus companheiros Argonautas. Para suas viagens utiliza um navio, que certamente precisou de manutenção durante sua existência. As tábuas, pregos e amarras trocados foram dispensados em algum lugar.

Suponhamos que completamente todas as peças do navio fossem substituídas. Ao final ainda teríamos o mesmo navio? Ninguém que o conhecesse duvidaria disso... E se alguém recolhesse todas as peças dispensadas, em seguida remontando o navio com elas? Teria essa pessoa o navio do herói? Qual dos dois seria o verdadeiro? Os dois?

Percebemos a relação de identidade com a história do elemento. Ela inexistiria se não tivesse navegado. Sua imagem está muito além da coleção de átomos de qualquer material do qual fosse feito.

Tal qual o barco, precisamos navegar. Caso contrário, seremos uma insignificante amontoado de tábuas, esquecido em algum cais.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Tártaro

Idéias são elementos fascinantemente encadeantes.

No almoço de hoje, ao escolher o molho para meu sanduíche, perguntei ao garçom: "O que vai no molho tártaro?". Qual não foi minha surpresa com a resposta: "Vai molho tártaro".

Entre atônito e confuso, agradeci a excelente explicação e pedi o lanche mesmo assim. Minha colega, que fazia parte do grupo a almoçar, precisou de um controle sobre-humano para não cair na gargalhada ali mesmo.

Mais tarde, a dúvida me assolava. O que poderia haver no tal molho? Já o havia degustado, mas a fome e a estupefação impediram a apreciação adequada dos sabores. Uma pesquisa básica resolveu o meu problema, me apresentando o molho com ovos, azeite, mostarda e condimentos. Quanto mistério, não?

O tal molho me lembrou outra coisa. Afinal, quem são estes tais tártaros? Viajei até a Tartária, n região central da Ásia, para descobrir estarem extintos. Provavelmente seus descendentes rondam hoje algumas regiões do mundo, como Rússia, Japão e Sibéria. Será que eles comiam muito do homônimo molho?

Mas surgiu nova questão repentinamente. Por que o inferno grego era batizado de Tártaro? Vieram tais pessoas das profundezas? O molho é tão ruim que só podia ser feito lá? Ou os batismos mais recentes são por sua característica infernal?

Num arroubo de mais um idéia inquietante, não pude deixar de pensar: Por que a sedimentação dentária tem esse mesmo nome? Acaso é um castigo dos enviados para o reino de Hades? Ou castigo é o aparelho de ultra-som, utilizado pelos dentistas, no combate do mal bucal?

Brainstorming é isso aí. Idéias para cá. Encadeamentos para lá. Algumas anotações e vamos desenhando o pensando, descobrindo essa nossa ferramenta misteriosa. Lembrei até de Mind Mapping, um método até antigo para ajudar na formação da cadeia de nossos pensamentos e possibilitar estudá-los. Vale a pena conhecer também.

Tão pouco tempo e tantos devaneios. É por essas, e outras, que fica possível entender o lema de Glauber Rocha, para o cinema novo: "Uma idéia na cabeça e uma câmera na mão!". Para brincar é só começar. Quanto mais exercitar, melhor fica!

quinta-feira, 27 de março de 2008

Artificial

Inteligência pode ser artificial?

Desde a comparação feita entre cérebros e computadores, vislumbramos a possibilidade de criar inteligência artificial. O interesse em sua criação busca a compreensão de nossa consciência, de nossa própria existência.

A complicação começa pela própria definição de inteligência. O que é? O que não é? O quanto está misturada a consciência? Quanto se difere desta? Só nós possuímos? É definível?

Alan Turing, matemático britânico e grande nome da computação, influenciou enormemente esta história. Dentre muitas contribuições, ele foi responsável pela proposição do Teste de Turing.

Seu teste pretende comprovar a capacidade de um computador ser confundido com um ser humano, uma vez que atinja capacidade intelectual similar. Sua formulação propõe a exposição de avaliadores a duas entidades ocultas, em salas distintas, acessíveis por meio remoto. Baseados em entrevistas, tais pessoas deverão ser capazes de distinguir qual entidade é uma pessoa e qual é um programa de computador.

O próprio formulador do teste apostou que este estaria vencido até o ano 2000. Ledo engano. Mesmo com o prêmio de 100 mil dólares, ninguém ainda conseguiu atingir o objetivo. Para muitos estamos bem longe ainda.

Nosso cérebro possui 100 bilhões de neurônios. Conectados através de sinapses, possuímos um rede com cerca de 100 trilhões de conexões. Essa rede tem poder computacional equivalente a 100 milhões de Mips.

Os primeiros computadores mal chegavam a alguns Mips. Graças à Lei de Moore, atualmente, nossos mais poderosos computadores conseguem 10 milhões de Mips de poder computacional. Ainda falta um grande esforço. A projeção é igualarmos o poder cerebral lá pelo ano de 2019, se as condições de evolução se mantiverem.

Naquela época, estaremos então em condição estrutural de tentar reproduzir nossos padrões biológicos, se conhecermos bem a estrutura de nossa formação. Talvez, copiando estas estruturas, surja inteligência...

Ainda que tenhamos sucesso, fica um pergunta intrigante, a atormentar filósofos por toda a história: "Será nosso cérebro suficientemente complexo para compreender sua própria complexidade?". Alguém arrisca um palpite?

quarta-feira, 26 de março de 2008

MSF

Onde estão as fronteiras de nossa solidariedade?

É bem comum ouvirmos alguém dizer que faz tudo pela sua família, ou por seus amigos. Ajudar o conhecido, o mais próximo, é o fardo mais leve a carregar.

Difícil e louvável é socorrer os totalmente esquecidos, completamente desconhecidos, nos recantos mais pobres e distantes do mundo.

Os Médicos Sem Fronteiras, organização não governamental ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, em 1999, é dedicada ao atendimento médico e social de populações em região de conflito e pobreza. Com mais de 30 anos, 22 mil profissionais, atuantes em 70 países, já construiu um legado respeitável, mas apenas começou.

A mazela de nosso mundo é muito grande. Profissionais dedicados como estes médicos e jornalistas são pessoas com o verdadeiro espírito da doação. Preocupação concreta com a vida, muitas vezes negligenciando a própria, pondo-a em risco para auxiliar o outro.

Desprendimento é certamente essencial. Solidariedade e fraternidade sentimentos incutidos profundamente em suas almas. São pessoas legitimamente vocacionadas e imbuídas de um ideal humanitário sem igual.

O poder governamental está imóvel em muitos lugares do mundo. Outra vez a sociedade humana se movimenta para acudir suas necessidades mais básicas, independentemente de iniciativas oficiais. Longe de serem assistencialistas, eles procuram garantir condições mínimas de dignidade de vida, enquanto soluções mais estruturais não chegam.

Justificativas mil podemos encontrar para não estarmos alistados nos fronts do grupo. Trabalhamos muito, mal damos conta de nossas vidas, temos família para cuidar e todos outros motivos muito justos. Podemos, no mínimo, estender nossas fronteiras com apoio financeiro. Que tal a idéia?

terça-feira, 25 de março de 2008

Tubos

Boas idéias ganham filhotes aos tubos.

Isso parece mais concreto no caso do Youtube. O motivo de seu sucesso pode ser discutido por várias vertentes. Da exposição narcisista ao ímpeto documentarista humano, o site é sucesso incontestável.

Na esteira de seu sucesso, novos sites surgem, normalmente mais especializados e com porte bem menor.

Observo neste incipiente movimento uma semente do processo de expansão, mencionado a cerca de um mês neste mesmo blog. O mundo on-line cresce continuamente e as pequenas cidades caminham para futuras megalópoles.

Para os loucos por calçados, daqueles com tendências a Imelda Marcos, há um site só com vídeos sobre sapatos: o shoetube.tv. Um rol completo sobre o assunto ao apresentar tendências, lojas, coleções, opiniões. Um verdadeiro exagero para quem apenas vê no sapato um utilitário.

Mais acadêmico e extremamente útil, o TeacherTube pretende promover o intercâmbio de informações entre professores. Aquela aula perfeita, uma inovadora forma de exposição de certo conteúdo ou simplesmente a divulgação de um novo assunto, tudo posto em vídeo para fortalecer o encontro de ensinadores pelo mundo.

Aos apreciadores da boa mesa ou para os chefs de plantão, profissionais ou amadores, há o Wine and Food Tube. Diversas áreas da gastronomia e enologia, espalhadas pelo mundo e nas mais diversas culturas, estão presentes no site, para apreciarmos em pequenos vídeos. Só não dá pra provar os sabores pela Internet...

Mesmo sem a palavra 'Tube' envolvida, as terras brazucas possuem suas iniciativas. O Videolog é um deles, genérico como a principal referência, traz ares tupiniquins para o compartilhamento de vídeos.

Esses são alguns poucos exemplos. Uma rápida pesquisa apresenta uma grande quantidade a conhecer. Se for o caso, também são fartos os tutoriais e matérias sobre construção do seu próprio Tube. Com tantas opções, em áreas e regiões, todo cuidado é pouco para não acabar entubado.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Dropbox

Espaço nunca é demais!

Desde o surgimento dos primeiros serviços de armazenamento on-line, adotei várias destas alternativas, principalmente para utilização como backup de meus arquivos.

Nos primórdios, foram campeões o Disco Virtual, do UOL, e o Porta-Arquivos, do Yahoo. O primeiro restrito a assinantes, o segundo aberto a inscrições gratuitas, têm uma interface rústica, em tempos de Web 2.0, mas cumprem bem sua função primária: armazenar arquivos.

Novas formas de armazenamento surgiram. Dedicadas a arquivos específicos, em verdade são ferramentas típicas da nova web, mas passíveis de classificação com espaços de armazenamento especiais. Temos, por exemplo, o Picasa e o Docs, do Google, assim como o Flickr, do Yahoo.

Recentemente, a Microsoft disponibilizou o SkyDrive, dentro da sua iniciativa Live.com, procurando oferecer solução uma ambiente de trabalho on-line. É exclusivamente armazenamento, com recursos mais modernos de interface.

Todas as soluções oferecem muitas vantagens, concorrem pelo aumento de espaço disponibilizado, mas são extremamente dependentes da conexão, são completamente on-line. A ubiqüidade dos serviços da Internet não possuía paralelo no universo dos dados.

Em fase beta, como manda a nova etiqueta dos lançamentos, o Dropbox vem preencher essa lacuna. Gratuito e muito completo, oferece alternativa moderna, flexível, compartilhável e segura.

Possui interfaces locais e web. Permite o sincronismo de arquivos onde quer que estejamos. Classificação por tipos distintos, com respectiva possibilidade de edição. Lixeira própria. Histórico de eventos e alterações, com controle de datas e usuários. Todo arquivo armazenado pode ser compartilhado de forma controlada.

Algumas facilidades oferecidas são pensadas para as necessidades atuais. Os arquivos podem ser disponibilizados em blogs, e-mails e sites. Um álbum de fotos é simplesmente arrastado e publicado.

Armazenamento facilitado e farto vem de encontro a tendências wireless, assim com storageless, como os novos MacBooks, claramente despreocupados com grandes espaços de disco. Em espaços vastos e tão diluídos será fácil perder um arquivo. É melhor deixar de jogar as coisas de qualquer forma...

domingo, 23 de março de 2008

Páscoa

Páscoa, passagem, ressurreição, renovação, renascimento!

Tempo de renascimento, de recomeço. É essencial morrermos de vez em quando, para renascermos, renovados, revividos.

É um pouco nossa tendência a sermos Fênix. Consumimo-nos em nosso próprio fogo, para das cinzas restantes revelarmos nossa nova imagem. Não é à toa o sem-número de símbolos de vida: coelho, ovos, etc.

Pra renascer precisamos de bases sólidas. O processo ocorre com o impulso de nosso passado. Somos embalados para a escolha das próximas curvas a seguir.

O acaso nos premia muitas vezes com gratas coincidências. Na celebração da missa de Páscoa, em minha comunidade, pude presenciar o encontro de três significativas pessoas públicas: Padre Júlio Lancellotti, senador Eduardo Suplicy e o deputado federal Paulo Teixeira.

Afora toda sua envergadura política e social, estas três pessoas simbolizam grande parte do pensamento de meu pai. Juntos agregam valores éticos, sociais, políticos e religiosos deixados como herança por ele, além da lembrança de sua terra de origem.

Os valores são heranças que nos aproximam, assim como a terra natal, símbolo de simplicidade, poesia e brasilidade. Grande parte de nosso mundo é efêmera, mas valores e ideais são eternos. São feitos da matéria que nos torna perenes, atemporais e universais.

Ser agraciado com esse presente, num dia celebrativo com este, é dos mais intrincados mistérios do divino reinante. É daquelas coincidências tão improváveis que não encontram outra provável explicação, além do anúncio, do recado distante, deixado para acompanhar.

Fortemente inspirado, meu renascimento ocorre pleno da alegria pascal, do sentimento presente de um amor construtor. Mesmo minha destruição, meu 'encinzentar-me', se inicia repleta de ideais construtivos, constituintes...

Renascimentos diversos procurarei pela vida. Companhia igual espero estar sempre presente. Desejarei novas construções vivificantes, esperançosas e plenas, me tornar mais humano. É muito bom renascer. Abençoado feriado!

sábado, 22 de março de 2008

Ribalta

Tempo a mais muda nossa perspectiva.

Na esteira de um feriado um pouco televisivo, com um canal homenageando Chaplin, pude rever "Luzes da Ribalta", hoje à noite.

Pode ser a maior disponibilidade de horário, ou mais tempo de vida, mas o fato é que tal revisão revelou nuances nunca antes percebidas. As 'cores' do filme estavam bem diferentes. Deixou de ser mais um clássico em preto e branco.

Ter assistido 'Mounsieur Verdoux' também certamente colaborou. A nova face revelada, do célebre interprete do vagabundo, é intensamente humana, filosófica e questionadora.

Revelou-se um artista muito mais que um simples ator. Chaplin dirigiu, atuou, escreveu músicas, se entregou completamente à realização de suas obras.

Em contraposição ao "Mounsieur Verdoux', neste não há o cinismo, mas uma generosidade muito grande com a vida. Parece existir uma insistente necessidade de reafirmar a nossa existência. Uma necessidade agradável, suave e apaixonada.

O destino de um grande artista, fadado ao esquecimento, nos lembra algumas das inevitabilidades da vida. Recorda-nos também as diferentes posturas possíveis de aceitação. Já dizem há muito tempo os filósofos orientais: "Se algo tem solução, soluciona-se. Caso não tenha, então também já está solucionado".

É uma outra versão do "que não tem remédio, remediado está". Porém não é um versão derrotista, mas complacente com o ciclo dos mistérios da natureza. É um grande segredo estarmos adequados, ensaiados, bailando com o ritmo de nossos destinos. Se a vida lhe dá um limão, então faça uma limonada.

Os diálogos no decorrer da trama são reveladores e intrincados. Demonstram toda a sagacidade e inteligência de seu compositor. Compositor este que ousou cunhar a inesquecível música, construída aos poucos pela história e marcante para todo o mundo cinematográfico.

De todas as maravilhas apresentadas ao espectador, ouso pinçar a frase mais tocante da personagem, Sr. Calvero, a sua desiludida amiga e vizinha: "Tão certo quanto a inevitabilidade da morte é a certeza da inevitabilidade da vida"!

sexta-feira, 21 de março de 2008

Guilhotina

Inusitados são os caminhos de um rápido zapping televisivo.

Noite passada, procurando algum programa para assistir, acabei me deparando com um filme diferente. Estava no Telecine Cult, um filme preto e branco, com ares bem antigos.

Por algum motivo, o ator me chamou a atenção. Desconfiei de sua fisionomia, mas o tema, um tanto macabro, não combinava com ele: Charles Chaplin.

Após rápida confirmação no IMDB, pude apreciar um trabalho de quem imortalizou "O Vagabundo", Carlitos, na tentativa de realizar algo diferente de sua mais marcante personagem.

No filme "Monsieur Verdoux", ele interpreta um astuto e cínico assassino, que se casa com mulheres ricas, para depois eliminá-las, fazendo disto seu ganha pão.

Entre algum suspense e pensamentos sinistros, surgem diversos apêndices de questionamentos filosóficos, na mais diversas áreas: livre arbítrio, identidade, adequação social, bondade. O personagem age com acidez e cinismo ao desafiar as convenções sociais.

Chaplin, mesmo interpretando um vil ser humano, deixa escapar diversos momentos de ternura comportamental, através de gestos, sorrisos e pantomimas. É quase uma confissão de sua natureza, de seu eu mais intrínseco, sem conseguir ser controlado. Talvez sua personagem mais marcante o fosse assim, pois revelava muito de seu intérprete.

A história, filmada e transcorrida nos anos 40, me surpreendeu também por um outro detalhe, desta vez histórico. Durante seu decorrer, o personagem é julgado e pode ser condenado a guilhotina! A pergunta foi quase imediata: isso não é coisa da idade média?

E lá vou eu a pesquisar novamente... Não! É mais recente do que eu imaginava. A última decapitação na França ocorreu em 1977! Além disso, o país só aboliu a pena de morte em 1981. São fatos muito recentes para comportamentos tão bárbaros e antigos.

Matar alguém como forma de punição já é uma violência enorme. A decapitação, então, é algo inimaginável em nosso tempo, ficando distante como uma ficção. Ledo engano meu... E logo os franceses, com seus ares de sábios e iluminados.

Esta 'descoberta' foi um corte em minha percepção do amadurecimento de nosso mundo. Estava muito longe de aventar a possibilidade tão recente da aceitação deste tipo de legislação. Vou prestar mais atenção por onde zapeio. Ou talvez me aventure mais ainda...

quinta-feira, 20 de março de 2008

Transparência

Ser transparente é primordial para o combate a corrupção.

Com transparência inexistem cantos recônditos, obscuros, passíveis de ocultação de algum movimento escuso. A luz transpassa nossos objetos de observação e os torna aptos a verificações.

Claramente isso é apenas um passo, afinal a teia de valores sociais e culturais relevantes define o comportamento frente aos atos corrosivos das relações públicas, em diversos âmbitos.

Sem corruptores é impossível surgirem corruptos.

Exemplar iniciativa de nosso governo federal, o Portal da Transparência é embrião para muitas mudanças. O fornecimento de informações dos meandros da administração governamental permite o olhar atento à condução do bem comum.

É enorme a quantidade de dados existentes e apresentados. Só que, publicado na Internet, o colosso ser transforma em oponente derrotado pela imensa massa de formigas pesquisadoras. Se as pessoas conseguem investigar milhões de linhas de código, de sistemas operacionais e outros programas, em busca de falhas, a tarefa é similar e me parece factível.

Louvável mais ainda é o trabalho dos arquitetos do sistema do site. O projeto e construção de bancos de dados é tarefa para administradores de sistema experientes, senão o produto final se transforma em um grande elefante branco imóvel.

Através de um esquema drill-down podemos navegar do escopo dos gastos totais de um ministério até a compra de cafezinho de um único funcionário. A consulta feita hoje me informou estarem disponíveis 623.354.912 registros de gastos. Alguém imagina o significado de administrar esse volume de informações?

Os DBAs pelo mundo sabem. E o sistema responde muito rápido. Mesmo imaginando não ter um volume muito grande de acesso, a resposta é quase instantânea. É só experimentar escolher alguns links, por exemplo, nos cartões de pagamento (aqueles mesmos, do noticiário recente) e ir clicando.

Digno de elogio, o portal é exemplo do bom uso de recursos para uma administração moderna e eficiente, com dois grandes aliados: transparência e tecnologia.

quarta-feira, 19 de março de 2008

José

São José é ícone da paternidade.

Em sua resignada aceitação ele se pôs a serviço e o cumpriu com maestria. Foi a imagem presente do guia paterno na vida um menino.

Com sua aura protetora, foi transformado em patrono das famílias, dos trabalhadores e protetor da boa hora (eufemismo para tratar o momento da morte).

Sua inspiração é tão forte que os Josés sempre me parecem boas pessoas. Meu pai é José, meu tio também, além de um irmão. Todos bons praças!

No Nordeste, onde Josés são bem comuns, ele é responsabilizado até belas boas colheitas, ou pelo menos lembrado como possível intercessor. O povo sofrido de nosso sertão se identifica com a imagem do grande pai pobre como eles, habitante de distantes terras tão áridas quanto as suas.

A paternidade é transformadora. Às vezes segregada a um papel coadjuvante, é indispensável presença para, com a completude da mãe, formar a imagem da divina força da natureza. Unidos os genitores se encontram para promover a nova vida.

Ser pai carrega muita responsabilidade. Responsabilidade com a condução, com o apoio, com o ato de guiar pelos caminhos bons e pelos tortuosos. Compromisso assim está bem distante do paternalismo, que alija, infantiliza, poda o crescimento.

Cuidar de uma vida é um mistério, é quase incompreensível. Ela é frágil, complexa para nosso entendimento e seus meandros, mas é inevitável assumir o compromisso. Entendo-a ou não ela está a sua espera, a lhe desafiar.

Única escolha possível é confiar no amor. Confiar na imagem guardada do pai maravilhoso que tivemos. Remeter ao coração as decisões mais importantes. E amar! Além disso, se ele puder nos ajudar, rogamos em seu dia um pouquinho de ajuda a São José.

terça-feira, 18 de março de 2008

Jeitinho

Demoraremos muito a eliminar o famoso 'jeitinho brasileiro'.

Defenda veementemente o contrário, confie na mudança e se frustre na próxima curva. O negócio é endêmico e epidêmico. Como gostam muitos, é cultural.

Melhor seria dizer que é moral. É a fragilidade de nossa moral que compactua com a fila desobedecida, elemento dispensável em outras situações, o desrespeito ao atendimento preferencial, a fila dupla nas portas das escolas e outros tantos exemplos.

Somos tão malucos que até verbete na Wikipedia o assunto ganhou. Parecemos ter orgulho desta condição... Para disfarçar, damos ares de estudo acadêmico ao assunto.

O assunto do desbloqueio do iPhone é um prato cheio. O mundo inteiro faz, mas para nós é a coisa mais normal do mundo. Divergências à parte, afinal podemos discutir as políticas de comercialização da Apple, entre nós não adianta nenhum tipo de ameaça da empresa: bloqueio na atualização ou perda de garantia. "Quero o meu, seja como for! "

As operadoras ainda discutem os acordos para trazê-lo legalmente, mas o aparelho já é o maior responsável pelo acesso à web móvel no país. Quase metade deste tipo de acesso foi realizado por alguém utilizando um exemplar.

Foram mais de 100.000 acessos no mês passado! Isso significa a entrada de milhares de aparelhos, das formas mais escusas o possível. Na mala, numa encomenda postal dissimulada, num carregamento qualquer, desembaraçado de alguma forma, o tal comportamento estimula uma infinidade de irregularidades.

E não faltam promoções em programas de rádios oferecendo um aparelho em algum concurso...

Somos a terra da cara-de-pau institucionalizada! E depois reclamamos de tudo: em quem votamos, do imposto recolhido, do vizinho folgado, do companheiro de transporte público a nos desrespeitar.

Falta-nos discernimento e reflexão. Buscamos soluções fáceis e paliativas. Dificilmente percebemos a necessidade de uma grande mudança comportamental. O duro é que uma mudança deste tipo é demorada...

segunda-feira, 17 de março de 2008

Súbita

Morreu de morte súbita, o HD DVD!

Galinha morta, a notícia já tem quase um mês. A efemeridade das trocas tecnológicas é tanta que quase nem percebemos e nos esquecemos de comentar.

E vamos empilhando nossos 'ultrapassados' itens recém-lançados. O ritmo das obsolescências tem se acelerado.

Num passado recente, pelo menos para os 'mais experientes', o Betamax demorou mais de uma década até ser derrotado.

A disputa entre o Blu-Ray e o HD-DVD nem deu tempo de esquentar. Estrearam nos idos de 2006 e, em menos de 2 anos, um deles já venceu a contenda. Até meus posts ficam efêmeros mais rápido, afinal nem completou 4 meses o levantar de dúvidas neste blog.

Aliás, não há mais dúvidas. Por enquanto, o Blu-Ray é o padrão. Também não há dúvidas da enorme quantidade de dinheiro jogada for pelos early adopters. O preço de um player HD-DVD nem chegou a baixar. Ficou longe de nosso parco poder aquisitivo.

Pior é a situação dos XBOXs 360. Nesse caso, a opção pela tecnologia foi dos criadores do game. Quem o comprou optou pela tecnologia de jogo, mas agora tem um player sem futuro. Qual será a opção nesse caso, oferecida pelo fabricante? Há alguma?

De qualquer forma, nosso grande amigo Sócrates (que intimidade, hein?) está mais atual do que nunca: "Só sei que nada sei". Afirmação mais acertiva seria impossível! E o horizonte tecnológico é constantemente mais nebuloso no quesito da futurologia.

O jeito é ser mais pragmático e avaliar melhor o retorno em qualquer investimento na área. Seguir tendências, se é que existem, pode acabar deixando o usuário com um modelito meio fora de moda.

domingo, 16 de março de 2008

Masdar City

Hidrocarbonetos é nossa representação moderna de uma caixa de Pandora.

Sem eles, nossa civilização não chegaria ao patamar de desenvolvimento atual. Com ela, poderemos estar próximos da extinção de nossa existência.

Dos maiores beneficiados com esta contemporânea dicotomia, o maior produtor mundial de nossos famigerados insumos combustíveis, surgiu a iniciativa de desenvolver alternativas viáveis e concretas de energia.

Os Emirados Árabes Unidos, representado por um de seus 7 países, a maior nação e capital Abu Dhabi, em 2006, lançou o projeto Masdar. Batizado de iniciativa Masdar, ele tem como fruto principal a cidade Masdar.

Projetada para comportar 50.000 habitantes e 1.500 empresas, deverá levar 10 anos para conclusão do projeto, ao custo de US$ 22 bilhões de dólares. Em 2009, já estará completa a primeira fase habitável.

Ambiciosa, a iniciativa busca soluções para as mais prementes questões humanas atuais: segurança energética, alterações climáticas e desenvolvimento humano realmente sustentável. O suporte financeiro é bancado pela abundância financeira do país sede, através de fundos de investimento, com US$ 250 milhões de dólares iniciais em parceira com o Credit Suisse.

Será uma confissão de mea culpa? O peso da responsabilidade pela situação planetária os tocou? Ou é a preocupação com a viabilidade de sua matriz econômica?

Esforço deste porte poderia ser despendido para causas mais pragmáticas, mas a escolhida é tão ou mais essencial. O próprio WWF apóia o projeto, lhe propiciando certo respaldo. Preocupa a muitos que a iniciativa não passe de mais uma luxúria dispendiosa dos endinheirados xeques.

Particularmente, observo no cerne do empreendimento a ocorrência do mesmo recorrente vício humano: intervir. Comumente supomos sermos capazes de alterar a natureza e lhe dar o rumo desejado por nossas carências.

Muitas vezes melhor seria aprendermos a nos integrar mais com nossa grande mãe.

sábado, 15 de março de 2008

Spore

Nós, seres humanos, fazemos questão de nossa filiação.

Desde que soubemos sermos imagem e semelhança do criador, não cansamos de perseguir o objetivo de fazer jus a nossa herança. Insistimos em brincar com a vida.

Tentamos clonagem, decodificamos DNAs, manipulamos populações inteiras, mas o sucesso nestas empreitadas é um tanto quanto duvidoso. Ainda estamos longe de alcançar a capacidade de nosso pai...

Então recorremos ao mundo dos jogos, afinal a tecnologia é mais dominada do que nunca. Nossos computadores são continuamente aprimorados e o poder de processamento só aumenta.

Um aguardado blockbuster, para incrementar nossos sonhos criadores, é o game Spore. Depois de sucessos como Sim City, e toda sua descendência, seu criador Will Wright idealizou este projeto ambicioso.

No jogo, começamos com um organismo unicelular. De acordo com nosso desempenho, vamos evoluindo e nos tornando mais complexos. Quando atingimos condições, começamos a desenvolver sociedades e tecnologias.

É possível chegar até a tecnologia espacial, momento em que nos é permitido navegar pelo espaço e conhecer outros mundos. Isso significa, para quem estiver conectado, a possibilidade de visitar a experiência de outros jogadores pelo nosso planeta real.

Anunciado em 2006, já são quase 2 anos de espera e muita expectativa. Os anúncios de lançamento datam o evento para este ano, em diversos períodos, de acordo com a região. Lá fora a promessa é para este mês, mas no Brasil deveremos recebê-lo só em setembro.

A comunidade de jogadores brasileiros criou o site Sporando, há algum tempo, para saciarem um pouco a sede de notícias, enquanto esperam o lançamento. No site se podem conhecer imagens, eventos e opiniões sobre o jogo. Eles arriscam até preparar histórias e idéias

Muito está prometido, veremos o quanto será entregue. O desejo é pelo menos poder exercitar um pouco mais nossa mania de grandeza. Será que ao menos estes mundos conseguiremos preservar?

sexta-feira, 14 de março de 2008

Futebolless

Futebol é uma caixinha de surpresas.

Célebre frase, conhecida de qualquer brasileiro, pelo visto é conceito em todo o universo futebolístico, por todo o planeta. Apesar de nosso ciúme pelo esporte, como propriedade e posse, mesmo sem termos o inventado, a lógica do esporte é global.

A evolução tecnológica aportou nos campos. Já não é novidade a comunicação entre os árbitros da partida, ou a sinalização eletrônica do bandeirinha.

Revolucionária mesmo seria a bola com chip, possibilitando o rastreamento de sua posição e eliminando qualquer dúvida com relação ao seu posicionamento em campo, eliminando toda a falha relativa à saída da bola, ou entrada desta no gol.

Porém, divergiriam muitas das opiniões sobre o assunto. O tema se arrastou por algum tempo. A solução foi testada em algumas partidas, paralelamente, sem valor de decisão. No começo deste mês se chegou a uma definição: a bola com chip não será utilizada.

Existem problemas técnicos de precisão. Quem duvida serem passíveis de solução, após algum tempo e investimento? O critério de peso mesmo parece ser a alegação de esta tecnologia "retirar a emoção do futebol"!

É o reconhecimento do valor da confusão no futebol. Qual a graça de uma partida sem discussão? Como podem viver os boleiros sem a dúvida se foi gol, ou não? Quantas oportunidades desperdiçaríamos sem o milímetro a mais na linha de fundo, impossível de observação por qualquer ser humano?

Corroboram a necessidade humana pela discussão e conseqüente paixão pelo esporte. Bonito, não? E quem decidiu foi o International Board, órgão mundial de regulamentação da modalidade esportiva, e não um fatídico comentarista esportivo de hora do almoço ou finais de domingo.

Aliás, deviam estes agradecer muito... Seus empregos estarão garantidos, como fomentadores da discussão. Muitos botecos e padarias também. São os provedores físicos e alimentícios das mesas de debates acaloradas, em troca de remuneração, é claro.

Assim continua a rolar o universo da bola. Estão salvos também os gols de mão, faltas dissimuladas, ou simuladas, os juízes míopes e tantas outras figuras folclóricas de nosso esporte nacional. Nossa paternidade esportiva se revela na herança do indispensável jeitinho, sem o qual a contenda boleira perderia a graça.

quinta-feira, 13 de março de 2008

REST

Funcionalidade sempre demanda complexidade?

A evolução dos sistemas corporativos, e suas necessidades de integração, levaram ao desenvolvimento do SOA, ou Arquitetura Orientada a Serviços, em português.

Simplificando, peguemos os objetos criados em nossas soluções e os coloquemos nas redes. Eles atenderão as requisições através de seus métodos, ou metaforicamente, serviços.

Sistemas corporativos passam a figurar como uma coleção imensa de serviços disponíveis integrados e integrantes. Uma boa representante construtivista das necessidades operacionais de uma corporação.

Desenvolver soluções com essa arquitetura demanda planejamento, mais do que nunca. O arcabouço para contemplar todo o problema, principalmente nas densas estruturas corporativas, se torna mais complexo. A sopa de letrinhas é engrossada: WSDL, Webservices, UDDI...

Muitos desenvolvedores passaram a considerar toda a estrutura excessivamente complexa e corporativa demais. Em muitos casos, estaríamos matando mosca com bala de canhão. Em soluções menores, em ambientes mais simples, o custo de implementação da arquitetura a torna inviável.

Um solução tem sido apontada como boa opção para grande parte dos casos: a REST. A REpresentational State Transfer é uma proposta mais simples, mas mais crua também. Ela remonta os idos de 94, no início da Internet comercial, batizada à época como HTTP Object Model.

Roy Fielding, um dos principais autores da especificação do HTTP, em sua definição inicial, o REST representa um modelo de como a Web deve funcionar. Esses conceitos estendidos a sistemas distribuídos pretendem modelar uma boa alternativa aos padrões mais difundidos atualmente.

Entre prós e contras, cada proposta tem sua utilidade. Só não adianta tentar simplificar o SOA, nem começar a complicar o REST. Aliás, devemos atentar com a tentadora ilusão do segundo acrônimo. Alguém acredita existir descanso no mutante mundo da computação?

quarta-feira, 12 de março de 2008

Façanha

Façanhas são feitos comuns aos heróis.

Eles todos, em nossa mitologia, de Hércules ao Batman, são responsáveis por nos conduzir nos caminhos tortuosos de nossas transformações na vida.

Em suas experiências metafóricas, ilustram a alegoria de nossos desafios em nosso desenvolvimento, a transição entre fases, a mudança através de situações de equilíbrios.

O herói nasce comum, é chamado ao desafio, se lança ao destino e retorna transformado. Raros são os casos daqueles que recusam sua sina, afinal o curso de nossa existência é inevitável.

Qual a diferença entre nós e os heróis? Que distinção podemos fazer entre nossas capacidades e a deles? De onde surge sua força e impulso para desbravar as mais bravas sagas?

De tempos em tempos, surgem heróis modernos, com seus ares de deuses, para nos lembrarmos do insistente chamado à vida. Nas pistas de corrida surgiu Oscar Pistorius, corredor para olímpico sul-africano.

Conhecido por suas próteses de fibra de carbono, foi apelidado de Blade Runner. Só que esse personagem não persegue imitações mal-acabadas da vida humana. Ele persegue a própria dignidade humana, para estar páreo a todo atleta de nossa espécie.

Amputado aos 11 meses de vida, devido a uma má formação congênita, precisou desde pequeno se adaptar a sua condição. Cresceu como qualquer criança e sempre se envolveu com esportes. Jogou até futebol e rugby. No rugby se contundiu, prejudicando o joelho, fato que o conduziu ao universo das corridas.

Seu desempenho nas pistas o tornou um astro no mundo paraolímpico, permitindo com que sonhasse com as competições convencionais, uma vez que seus tempos o colocariam entre os atletas comuns. Esse será uma etapa muito mais difícil, pois a batalha começa no campo do preconceito, quando lhe foi negada, pela Federação Internacional de Atletismo, a possibilidade de competir.

Alegam possuir ele vantagens por utilizar as próteses tecnológicas. Seus equipamentos lhe dariam vantagens frente a outros competidores. Não é o que seus tempos mostram, no mundo dos normais... Nem é o que ele deseja. Ele quer apenas competir.

Talvez nunca o vejamos em uma olimpíada. Quem dera pudéssemos vê-lo. Seja qual for o seu destino, sua imagem iconográfica marca nossa história de heróis e aventuras. Que os deuses sempre o acompanhem em sua jornada!

terça-feira, 11 de março de 2008

SSB

A tecnologia tem razões que própria razão desconhece
Faz promessas e juras, depois esquece...

No princípio era o mainframe, única maneira viável de utilizar a tecnologia da informação. Vieram os mestres da tecnologia e professaram: que se faça o downsizing!

Então os microcomputadores invadiram os escritórios. Eram muito inteligentes, foram preteridos em favor dos thin clients, seres meio aparentados com os antigos 'terminais burros', denunciando uma retomada de posições.

Com a vinda dos servidores de aplicação, nem muito hardware é necessário, basta um navegador. Seja em um telefone, PDA, ou até numa geladeira. O grande processamento volta ao centro. O controle mudou, mas a computação ficou distribuída, perene, ubíqua, apesar do tom nostálgico. Talvez os mainframes não fossem tão sem sentido...

A história dos SSBs (Site-Specific Browsers) não é diferente...

Começamos com aplicações estanques, isoladas, executadas em grandes computadores. As aplicações se tornaram departamentais, a atender as necessidades de cada pedaço das corporações. Para sua integração surgiram os sistemas de gestão empresarial, ferramentas essenciais no auxílio ao controle das empresas.

A Internet conquistou seu espaço e influência. Passou a participar e integrar a gestão. Novas possibilidades, maior cooperação e a aplicação foi para a Web. Aplicativos on-line disseminados pelo mundo se tornam essenciais e acessíveis.

Nos últimos tempos, preocupados com a possível falta de conexão, surgem ferramentas para trazer o mundo Web para o desktop. Voltar do on-line para o off-line, mesmo que ainda conectado. Um dos recentes anúncios é o Adobe Air, em contrapartida ao Google Gears e o Mozilla Prism.

Entre idas e vindas do mundo tecnológico, é nossa razão que desconhece as razões da tecnologia. Os mercadores do mundo tecnológico certamente têm diversas razões ($) para nos conduzir nesse redemoinho de mudanças e retomadas de antigas idéias repaginadas.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Alice

Alice no País das Maravilhas, clássico dos estúdios Disney, já completou mais de 50 anos.

Do livro ao filme, a história de Lewis Caroll povoa o imaginário de gerações e ainda continuará. Neste final de semana foi transmitido em uma rede de TV, e assisti pela enésima vez, não resisti.

Foi divertido perceber que a dublagem é ainda a original, de muito tempo atrás. A voz dos dubladores ecoa do passado, em seu tom e vocabulário. O clima do áudio tem até os ares de um LP. Nostalgia pura!

Em seu universo aparentemente sem sentido, gerador até de polêmica em torno da obra e sua motivação, somos conduzidos as mais diversas reflexões e confrontações. Mais isso é coisa de mais velhos... Quando crianças somos encantados com a enorme quantidade de fantasia e idéias malucas.

Relembrar o clássico me remete a um recorrente preocupação. Onde estão nossos novos ícones do imaginário? Nosso universo fantástico ocidental pós-industrial estancou?

Grande parte do mundo fantástico de contos e personagens, que consigo lembrar, foi criada há décadas. As fábulas e contos, muitos de origem européia, vêem sendo perpetuadas por gerações. Se partirmos do próprio Disney, com Mickey e Pateta, não tão lá fantásticos, vamos voltando e chegamos até Esopo.

Todos refletem e remetem temas caros e antigos da cultura humana. Transformamos nossas manifestações, mas continuamos com nossos mesmos intrínsecos anseios. Preocupações e motivações inseridas quase que geneticamente em nossa espécie.

Mas essa força natural pode ser extinta? A fantasia pode ser ofuscada pela tecnicidade e a sisudez de nossos novos tempos? Nosso progresso científico é capaz de remover nossa necessidade de sonhar e de se divertir?

Ao menos conseguimos preservar tais clássicos e revê-los enquanto pensamos... A diversão é sempre garantida!

domingo, 9 de março de 2008

Lázaros

Lázaros existem em nosso mundo aos montes.

Irmãos derrubados pela doença da marginalização. Marginalizados pelos outros, seja por diferença de classe econômica ou raça.

Sua doença os leva a morte, morte da vida humana. Estão vivos em carne, mas mortos-vivos em espírito humano. Desfigurados pela doença da discriminação.

Mortos assim são considerados sem futuro. Mortos assim são enterrados, para serem esquecidos. Mortos assim são distanciados de nossos olhos, para o esquecimento.

Apenas o amor fraterno pode ressucitá-los. Somente ele pode encontrar o irmão atrás da máscara desfigurada, desumanizada. O amor fraterno ordena que se remova a pedra a nos separar, ignorando o tempo de permanência em seu túmulo.

Resistimos às ordens desse amor. Racionalização os meios e as conseqüências. Sentenciamos o término da relação de vida existente. Desconhecemos a visão através dos olhos desse amor, conhecemos apenas a visão dos olhos da razão.

O amor fraterno anuncia: eu sou o caminho para a vida!

Arranjamos os mais diversos motivos para criticar o amor em sua atitude. O momento não é adequado, prorroguemos. O morto acaso não merece, esqueçamos. Já está morto há muito tempo, a causa é perdida, coloquemos mais uma pedra em cima.

Mas o amor é mais forte. Ele insiste em ordenar. Retira o morto de seu túmulo da vida. Comanda: vem para fora! Volta para a sociedade que te acolhe. Profere a todos nós: desata-o e deixa-o ir.

sábado, 8 de março de 2008

Mulher

Ser necessário dedicar um dia às mulheres é sinal de haver muito trabalho por fazer.

Elas não são mais massacradas em fábricas. Possuem muitos direitos exclusivos à sua condição e seus necessidades específicas. Suas vidas mudaram bastante.

No caminho pela igualdade, conquistaram arduamente seu digno lugar na sociedade. Lugar de direito desde o surgimento do mundo. Só os homens não percebiam.

Infelizmente para obterem suas conquistas, misturaram as igualdades. Exigiam igualdade de direitos, mas muitos procuraram igualdade de gênero, abandonaram suas características femininas. A pior saída é imitar o comportamento dos que combatemos. Temos de ser diferentes.

Foi a diferença na percepção de mundo a responsável por alçar a mulher a uma condição mais respeitável. Com sua inteligência feminina inata, souberam persuadir suas comunidades e mostrar as injustiças a que eram submetidas.

Ainda hoje é possível vê-las serem discriminadas. Principalmente em relações trabalhistas, onde elas têm seus justos direitos especiais, ou mesmo suas necessidades cotidianas peculiares. Não precisa ser lei, é parte da praxe.

Como estaríamos sem sua presença constante? Quanta inspiração não faltaria aos poetas e amantes? Quem poderia prover o carinho e o amor materno? De onde proveria a delicadeza essencial à vida?

Precisamos de companheiras, pessoas lado a lado, para dividir, compartilhar. Mistura de gêneros tão bem elaborada, cada parte com sua indispensável particularidade. Sua força é insubstituível, em todas as suas nuances e com toda a seu instinto adocicado.

Lembremos sempre que, independentemente de sermos homens ou mulheres, fomos gerados, cuidados e educados por elas: mães mulheres. Obrigado por todo seu amor.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Oração

Orar é um ato de muitos encontros.

Toda primeira sexta-feira do mês de março é celebrado o Dia Mundial de Oração. Este movimento mundial e ecumênico celebra hoje 70 anos de história no Brasil.

Originado nos idos do século XIX, teve seu início entre mulheres cristãs do Estados Unidos e Canadá, como incentivo a diversas atividades de cooperação e apoio à participação de mulheres em obras missionárias nacionais e estrangeiras.

Independentemente de idade, gênero, biotipo ou nacionalidade, todo ser humano reza. Os idiomas são diferentes, as intenções as mais diversas, mas o momento particular da oração é universal.

O primeiro encontro é com a vida, com o transcendente, o reconhecimento e a reflexão de nossa humilde condição de pequenos seres em um infinito universo. Ganhamos e recebemos o senso comunitário nesse momento.

Ao encontrar o grupo, encontramos o outro. Em nossas preces estão os queridos. Devem constar também os não tão queridos. Todos são dignos de serem encontrados nesse momento. Encontrar o outro nos permite crescer e agradecer.

Colocar-se em oração também é auto-encontro. É momento de autocontemplação, nas virtudes e nos defeitos. Balanço pessoal de sua auto-satisfação. Momento de silêncio e introspecção para reavaliação e mudanças de plano. Cabe também apenas agradecimento puro e sincero!

Budistas entoam seus mantras. Muçulmanos oram suas preces em rigorosos horários e preceitos. Católicos guardam infinitas ladainhas e coleções de orações. Índios brasileiros cantam em grupo seus diversos rituais. Todos estão humanamente religados.

Particularmente, não sou muito a favor do espírito "pidão". Ao menos no Brasil, há muito a cultura da oração por algum pedido, posteriormente copiosamente agradecido. Prefiro mais apenas o agradecimento, por tudo de bom e pelo não tão bom. Acredito ser mais positivo...

As nuances são menos importantes que a atitude. A atitude sincera e humilde de simplesmente orar, com o coração, a inspiração da alma e alimentar o espírito. Deixar-se expor às transcendências e delas receber energia vital.

Neste dia celebrativo em especial, acostumados ou não a fazê-lo, oremos!

quinta-feira, 6 de março de 2008

Geek

Nerd foi um dia alcunha indesejada.

A figura do cara estudioso, meio recluso, era alvo de chacota e perseguição. Em terras tupiniquins, recebia o maldoso acróstico CDF, um tanto quanto intraduzível em posts bem-educados.

Nossa história nos levou a um mundo extremamente tecnológico. Foi um prato cheio para os nerds. Aproveitaram, vieram e venceram! A lista não é pequena. Para citar apenas alguns, os mais óbvios, temos: Bill Gates, Steve Jobs, Larry Page, Jerry Yang...

Com uma nova embalagem, muito mais descolada, a expressão ganhou novos ares e se tornou Geek. Agora muito ligada à computação e Internet, poderia sugerir uma segmentação, certa especialização da modalidade, mas qual estudioso e recluso não tem uma forte ligação com essas tecnologias?

Dentre várias opções de divulgação da cultura Geek, um site bacana é o Geek Culture. Na mais plena manifestação deste universo, lá podemos encontrar um pouco de quase tudo. Utilizando 'net-tecnologias', há blog, loja virtual, fóruns, etc.

A página inicial apresenta o blog. Bem humorado, como não podia deixar de ser, publica posts impagáveis e antenados, dentro da cultura geek, é claro. Por exemplo, no dia 03 de março, foi postado um vídeo que mostra como teria sido a introdução de Star Wars, se o filme fosse lançado 20 anos antes.

Dispensáveis são os chapeuzinhos comercializados na loja, aqueles com hélice na parte de cima. Mesmo remodelados, revisitados com novas tendências, são um reforço ao estilo bocó. Certamente alguém dirá ser apenas uma piada, mas eu não usaria!

Outro item completamente geek é a "The Joy of Tech". Poderíamos traduzir por aqui como "Piada de Computeiro", ou seja, nem sempre sua graça é acessível a qualquer mortal. Se bem que nem sempre é de morrer de rir, mas mais a linha 'boa sacada'.

Seus fóruns discutem as mais diversas vertentes de seus assuntos. Quadrinhos, jogos, tecnologia, mulheres, criatividade, troca de arquivos e tudo mais cabível, se puder ser delineado. Há certo tom adolescente, um tempero de imaturidade. Parece que a semente do seu comportamento brotar de uma energia lúdica, meio pueril, nunca mais esquecida.

Esqueçamos os óculos com grossas armações, o cabelo lambido, o jeito desengonçado. O movimento geek assumiu uma forma muito mais estilosa e engajada. O resto do mundo que se acostume...

quarta-feira, 5 de março de 2008

Morph

Sonhar torna quase tudo possível.

Nos últimos dias, o centro de pesquisas da Nokia apresentou um vídeo com o conceito de um celular do futuro, completamente baseado em nanotecnologia.

A nanotecnologia se apresenta como uma das grandes promessas do futuro. Ela vem sendo desenvolvida com grande vigor, provendo soluções nas mais diversas áreas.

O vídeo, rapidamente transformado em sucesso viral, apresenta didaticamente as características passíveis de aplicação através dessa nova tecnologia.

Parte do grande trunfo vem da extrema miniaturização possível em tempos atuais. Uma estrutura do tamanho de um telefone pode conter bilhões de componentes microscópicos integrados.

Nanoestruturas são componentes extremamente versáteis. Ela permitiria tornar o aparelho flexível e dobrável. Com tais propriedades, ele poderia assumir as formas de um assistente pessoal digital, telefone celular ou relógio de pulso, além de se transformar em objetos de uso pessoal.

Estas mesmas estruturas permitiriam interface sensível ao toque, a interação mais simples possível. A superfície ainda possuiria a capacidade de mudar sua apresentação, de acordo com a funcionalidade assumida. Poderiam surgir a interface de um programa de e-mail, o teclado de um aparelho telefônico ou o simples mostrador de um relógio.

Características ecológicas também são lembradas. A tecnologia possibilitaria alimentação solar, auto-limpeza e não acúmulo de sujeira, ou seja, além de deixar de lado a utilização de fontes de energia poluentes, seria mais preservado esteticamente, sem a utilização de compostos químicos, possivelmente nocivos ao ambiente.

Por falar em aspectos plásticos, o aparelho poderia contar com características de transparência, ou translucidez, garantindo aspecto moderno, apenas com a utilização de estrutura projetado para tal efeito.

Mais futurista ainda é a possibilidade de ele ganhar funções para detecção de condições ambientais, como a presença de gases, níveis de poluição e outros fatores.

Outra idéia é uma função que poderíamos batizar de 'camaleão'. Ao apresentar um padrão visual, o aparelho pode assumir a mesma cobertura para sua superfície, fazendo-o combinável com qualquer vestimenta ou acessório do usuário. Aliada ao seu poder metamorfo, chegaríamos ao conceito de um telefone 'vestível'.

Novamente nossos amigos nórdicos mostram porque são um dos principais motores da tecnologia em telefonia celular.

terça-feira, 4 de março de 2008

Soberanos

Soberania é tema de preocupação a qualquer estado nacional.

Um dia foram os reinos medievais e seus soberanos. Os reis se aposentaram, na grande maioria, mas as idéias de defesa de fronteiras geopolíticas e econômicas continuam vigentes.

Em alguns casos, a defesa é mais veemente, seja por motivos econômicos, ou então por motivos religiosos. Países mais fechados, e muitas vezes mais enfraquecidos, extremam suas determinações para defender sua pátria.

O intrincado jogo político, econômico e social dos tempos de globalização ganhou, nos últimos anos, participantes de peso e importância: os fundos soberanos.

Criados a partir de reservas de países com ricas balanças comerciais, oriundas de bens como o petróleo, ou de crescimento no novo mercado global, como grandes exportadores de mão-de-obra ou tecnologia, eles vagam pelo mundo em busca de possíveis bons investimentos.

É um novo tempo em que as reservas deixam de ser estáticas e passam a procurar meios de crescer, além da capacidade produtiva do país. De certa forma, a abundância de créditos aporta em algumas regiões específicas, em meio à turbulência das regras instáveis de uma nova economia.

O porte destes é comparável a economia de grandes nações. Somados os seus capitais, facilmente ultrapassam alguns trilhões de doláres! Haja abundância de dinheiro... Quase não há pobreza nesse mundo, não é? Até o Brasil, com suas novas reservas reforçadas, tenciona criar seu fundo soberano.

Começa a engrossar o caldo quando observamos estes fundos socorrem as grandes instituições financeiras mundiais, na recente crise econômica. Em reportagem de janeiro, da revista Época, encontramos quais países envolvidos? China, Cingapura, Kuwait... (vejam o quadro 'Roleta-russa', na reportagem).

Países asiáticos, muçulmanos e neo-comunistas ajudando Estados Unidos e Europa? O altruísmo se revela finalmente? As oportunidades financeiras são tão interessantes em bancos com sérios problemas financeiros? Ou há certa intenção de desequilibrar as forças do jogo internacional?

Em Davos se sentenciou não haver ameaças a estabilidade. Análise concreta ou interesse econômico? Difícil avaliação, para nós pobres mortais! Fácil é observar o tratamento diferenciado concedido pelos americanos a Cuba ou China...

Aos propagadores do capitalismo liberal é duro encarar seus antigos inimigos aprendendo a brincar com as regras do jogo.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Comunicação

Alô? Alô! Quem fala? Com quem gostaria de falar?...

Quem poderia imaginar, pouco mais de 2 séculos atrás, que um diálogo deste tipo seria tão corriqueiro? Soaria estranhíssimo, alienígena ou até coisa do demônio.

Nossa comunicação é nosso elo, nosso diferencial, a liga tênue de toda a espécie humana. Desenvolvemos diversas línguas, mas nada que uma tradução não resolva.

No data de hoje, há 161 anos, nasceu Alexander Graham Bell. Apartadas todas as atuais controvérsias, a invenção do telefone, associada historicamente ao inventor, deu alcance potencialmente infinito a nosso poder de comunicação.

Pensemos em qualquer tipo de comunicação à distância e sempre associamos ao uso de um aparelho telefônico. São muitas as suas faces contemporâneas, mas seu uso final é o mesmo: conectar duas pessoas para uma conversa verbal.

Ouvir a voz de outra carrega identidade. Entonações diferentes remetem a sentimentos diferentes. A complexa estrutura de nossa expressão oral dificilmente é traduzida plenamente de outra forma. Mesmo em nosso choro, ou no choro de um bebê, recebemos uma infinidade de informações.

Sintéticos ou prolixos, formais ou cotidianos, em maior ou menor volume, temos a necessidade indispensável de falar. Amyr Klink, em seu livro "Cem dia entre céu e o mar", relata uma de suas maiores agonias: não ter com quem conversar por dias a fio. Restou-lhe a companhia de gaivotas e animais marinhos para desafogar seu discurso.

Diante disso, só poderia ocorrer o sucesso da invenção do Sr. Bell. A invenção lhe garantiu as bases do império de sua companhia telefônica, a BellSouth Corporation, atualmente parte integrante do Grupo AT&T. Sucesso digno de uma família de célebres elocucionistas.

Os efeitos de uma invenção como o telefone são incomensuráveis. Apesar dos quase 150 anos, seus ecos continuarão a influenciar-nos por muito tempo, mesmo que travestido em novos dispositivos. É uma conversa que rende muito pano pra manga...

domingo, 2 de março de 2008

Aparência

Abrir os olhos do cego trata de mudança social profunda e essencial.

Enquanto deixarmos de enxergar nas outras pessoas, principalmente as mais pobres e esquecidas, o irmão humano, dificilmente conseguiremos superar a maioria dos problemas de nossa sociedade.

A luz de uma nova palavra, a lama e a saliva, podemos transformar nossa visão, derrocar as aparências existentes, as divisões visuais vigentes e excludentes.

Após a transfiguração, é a vez de transformamos nossa atitude, a começar pelo enxergar, para nos conscientizarmos do que vemos. Quem vê não necessariamente enxerga.

O brilho de nosso mundo ofusca muita da nossa realidade. Através de um panorama reluzente, cheio de beleza, acessível em nossos shoppings, grandes vitrines das vontades coletivas, somos envoltos pela grande ilusão do momento.

Estender a mão com sinceridade, com preocupação, só é possível a quem se assemelha. Assemelha-se como pessoa, se identifica com igual, em direitos, em igualdade. A vida, concedida a todos, carece de condições mínimas para assim ser considerada.

Em sua fragilidade, encontramos a nossa, de agir. Desafio constante é mudar esse comportamento, comprometidamente. Única herança possível. Legado para as futuras gerações, imperceptivelmente recebido. Nosso dever maior é continuar a construção de nossa humanidade.

Utopias são feitas para inspirar. Povoam nossos anseios com o fôlego para alcançá-las. Existem justamente porque a semente está presente, latente, preenchida de energia para a eclosão. Eclodir é o estalo inicial e irreversível.

Mudança não é mais tabu. Respeito não é mais estranho. Aparência já gera desconfiança. Solidariedade se tornou recorrente, mesmo que com timidez. Minha esperança está na força da lama e da saliva. Não demorará a lavarmos nossos olhos e vislumbrarmos um mundo novo.

sábado, 1 de março de 2008

Manuais

Manuais são itens essenciais em tempos modernos.


Qualquer proprietário de uma TV, sistema de áudio, MP3 player, ou outra traquitana eletrônica imaginável, sabe o bem, apesar de nem sempre admitir.

Eles estão lá, mesmo não lidos, desprezados pela maioria. Na 'hora H', ao surgir um problema misterioso, um recurso quase subliminar, o primeiro item lembrado é o manual. Nem que seja pelo serviço de assistência...

Em tempos de paternidade, pré-natal diga-se de passagem, fui presenteado com um manual bem mais específico: Bebê - O Manual do proprietário.

Numa primeira olhadela, bate certo preconceito. Parece uma daquelas típicas piadinhas, de situação, plásticas o suficiente para vender muitos exemplares, nada mais. É sempre um problema avaliar o livro pela capa, já diziam nossas avós!

Para minha sorte, tenho uma compulsão por não deixar nada não lido, principalmente presentes recebidos. Na ordem elegida das leituras, pela cronologia dos presentes, chegou finalmente a vez de destrinchar essa obra particular e misteriosa.

Logo de início, a desconfiança parece se confirmar. As primeiras linhas não negam o tom engraçadinho, unicamente. Um pouco de paciência, e outra certa compulsão de não deixar pela metade, pode conceder a surpresa interessante.

Escrito a duas mãos, por um pai e seu filho, as informações apresentadas se revelam muito úteis. De maneira organizada, com uma apresentação suficiente, mas eficiente o necessário, são percorridos os mais diversos tópicos referentes à puericultura.

Lembra do livro tradicionalíssimo "A vida do bebê"? Pois o manual é uma versão reduzida e prática do consagrado título. Não que um livro tenha sido baseado noutro, mas o tom é o mesmo, mais moderno: prover de informações os progenitores de primeira viagem.

Engenheiros, cientistas da computação, técnicos em geral, devem se afeiçoar mais a obra, pois parece muito com os textos da área. Adeptos da tecnologia também, com toda rapidez e direção da Internet, o texto tem os ares dos novos tempos.

A coisificação do assunto é superficial. Na sua essência há a preocupação com o 'por vir', com todo o cuidado e carinho necessário para receber a nova vida. Algumas informações nos fazem preocupar mais ainda com a imensa lista de necessidades.

Estudarei mais o assunto, rapidamente, pois a vida não espera. Logo, logo, terei de por em prática. Independentemente desse estudo, confio em todo meu instinto e amor, somado ao exemplo de meus pais, para encarar a empreitada.

Um ótimo manual e uma experiência futura incrível. Ao responsável pelo presente, aos meus pais, a minha nova família, a vida, um enorme obrigado!